Presbiterianos: Quem Somos e de Onde Viemos
 
I. Expansão – Europa Continental

 
  1. França. O movimento reformado experimentou enorme crescimento na década de 1550, apesar de intensas perseguições. Em 1559 reuniu-se o primeiro sínodo da Igreja Reformada da França, representando cerca de duas mil igrejas locais, que aprovou a Confissão Galicana. Pela primeira vez, o presbiterianismo foi organizado em âmbito nacional. Muitos dos reformados franceses, os huguenotes, eram artesãos, comerciantes e nobres, concentrando-se especialmente no oeste e sudoeste do país. Seus conflitos com o partido católico liderado pela família Guise-Lorraine levaram a um longo período de guerras religiosas (1562-1598), cujo episódio mais sangrento foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08-1572), em que milhares de huguenotes foram mortos à traição em Paris e no interior da França, entre eles o famoso Almirante Gaspard de Coligny. A paz só foi restaurada em 1598, quando o rei Henrique IV, um ex-huguenote, promulgou o Edito de Nantes, concedendo liberdade religiosa aos reformados. Esse edito foi revogado em 1685, fazendo com que 300 mil huguenotes abandonassem a França. Os remanescentes formaram o que ficou conhecido como "a igreja no deserto."
 
  1. Alemanha. Desde cedo o movimento reformado penetrou no sul do país, procedente da vizinha Suíça. O movimento cresceu com a chegada de milhares de refugiados vindos de outras regiões (França, Países Baixos). Estrasburgo foi um importante centro reformado entre 1521 e 1549, tendo como grande líder o reformador Martin Bucer. Calvino ali esteve por três anos (1538-41). Em Heidelberg, o príncipe Frederico III criou uma grande universidade que tornou-se o centro do pensamento reformado na Alemanha. Nessa cidade foi escrito o importante Catecismo de Heidelberg (1563). A Guerra dos Trinta Anos (1618-48) resultou no reconhecimento final das igrejas reformadas alemãs, que receberam o influxo de sessenta mil refugiados huguenotes após a revogação do Edito de Nantes.
 
  1. Holanda: inicialmente, o calvinismo surgiu no sul dos Países Baixos (Antuérpia, 1555). Em dez anos, formaram-se mais de trezentas igrejas, em parte devido à chegada de imigrantes huguenotes que fugiam das guerras religiosas em seu país. Essas igrejas adotaram como sua declaração de fé a Confissão Belga, escrita em 1561. O calvinismo foi implantado na Holanda no contexto da guerra de independência contra a Espanha, iniciada em 1566 sob a liderança de Guilherme de Orange. Como resultado do conflito, os Países Baixos dividiram-se em Bélgica e Luxemburgo (católicos) e Holanda (reformada). O primeiro sínodo nacional das igrejas reformadas holandesas reuniu-se em 1571 na cidade de Emden, na Alemanha, e adotou um sistema presbiterial de governo baseado no modelo francês. Eventualmente, a igreja reformada tornou-se oficial, embora nem toda a população tenha aderido ao movimento. No início do século XVII, uma disputa teológica resultou no Sínodo de Dort (1618-19), que rejeitou as idéias de Jacó Armínio acerca da predestinação e afirmou os chamados cinco pontos do calvinismo (depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos).
 
  1. Europa Oriental: na década de 1540, graças a contatos com cidades suíças, surgiram igrejas reformadas na Polônia e Boêmia (Checoslováquia) e mais tarde também na Hungria. Na Boêmia, o movimento reformado associou-se aos Irmãos Boêmios, os sucessores do antigo movimento liderado pelo pré-reformador João Hus, morto em 1415. Na Polônia e na Lituânia, as igrejas calvinistas experimentaram grande crescimento, mas eventualmente foram suprimidas pela Contra-Reforma. A fé reformada foi introduzida na Hungria em 1549, através de contatos com Zurique, mas as igrejas sofreram perseguições de 1677 a 1781. Em 1970, a igreja reformada húngara tinha cerca de um milhão e meio de membros. Também existe uma grande comunidade reformada na Romênia (700 mil membros em 1963).
 
II. Expansão – Ilhas Britânicas

  1. Escócia: o protestantismo reformado foi levado para a Escócia por George Wishart, que estudara na Suíça e foi morto na fogueira em 1546. As primeiras igrejas reformadas surgiram no final da década seguinte. Os eventos se precipitaram com o retorno do líder John Knox (c. 1514-1572), que passou alguns anos em Genebra como refugiado, estudou aos pés de Calvino e retornou ao seu país em 1559. No ano seguinte, o Parlamento aboliu o catolicismo e adotou a fé reformada (Confissão Escocesa). Em dezembro de 1560, reuniu-se a primeira assembléia geral da Igreja Presbiteriana escocesa, que elaborou o Livro de Disciplina. Todavia, o Parlamento não aceitou esse primeiro Livro de Disciplina – que prescrevia a forma presbiteriana de governo –, mas manteve o episcopado como instrumento de controle estatal da igreja. Ironicamente, entre 1561 e 1567 a Escócia foi governada por uma rainha católica, Maria Stuart. Após a morte de Knox, Andrew Melville (1545-1622), outro ex-exilado em Genebra, tornou-se o principal defensor do sistema presbiteriano e de uma igreja autônoma do estado. Os próximos quatro reis, especialmente Carlos II (1660-85), procuraram impor o anglicanismo e perseguiram os presbiterianos. Estes fizeram um pacto nacional para defender a sua fé e ficaram conhecidos como "covenanters" (pactuantes). Somente em 1689 o presbiterianismo foi estabelecido definitivamente, embora algumas modificações feitas pelo Parlamento, como a Lei do Patronato Leigo (1717), tenham produzido várias divisões na igreja. Em 1970, a Igreja da Escócia tinha cerca de 1 milhão e 155 mil membros comungantes.
 
  1. Inglaterra: desde o reinado de Eduardo VI (1547-1553) surgiram fortes influências reformadas neste país. Martin Bucer, o reformador de Estrasburgo, passou seus últimos anos na Inglaterra. Calvino correspondeu-se com o rei Eduardo, com Somerset, o lorde protetor, e com Thomas Cranmer, o arcebispo de Cantuária. O Livro de Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos revelam clara influência reformada. Durante o reinado de Maria Tudor (1553-58), a Sanguinária, muitos protestantes ingleses refugiaram-se em Zurique e Genebra. Porém, a rainha Elizabete I (1558-1603) não apreciava os aspectos populares da forma presbiteriana de governo, preferindo uma estrutura episcopal que deixava o controle último da igreja nas mãos das autoridades civis. No seu reinado, surgiram os puritanos, alguns dos quais sustentavam princípios presbiterianos. Os reis Tiago I e Carlos I (1625-1649), que governavam a Inglaterra e a Escócia, continuaram a opor-se aos puritanos. Carlos fez guerra contra os escoceses presbiterianos e viu-se em dificuldades. Para isso, precisou convocar a eleição de um parlamento, que teve uma maioria puritana. Dissolvido o parlamento, houve nova eleição que resultou numa maioria puritana ainda maior. A conseqüência foi a guerra civil, que terminaria com a execução do rei. Esse parlamento puritano convocou a Assembléia de Westminster (1643-49), que produziu os "padrões presbiterianos" de culto, forma de governo e doutrina (Confissão de Fé e Catecismos). Quando tais padrões foram aprovados pelo parlamento, a Igreja da Inglaterra deixou de ser episcopal e tornou-se presbiteriana. Porém, depois que Carlos II tornou-se rei em 1660, houve a restauração do episcopado e seguiram-se vários anos de repressão contra os presbiterianos. A Igreja Presbiteriana da Inglaterra, criada em 1876, tinha 60 mil membros comungantes em 1970.

  1. Irlanda: a tradição reformada teve início na Irlanda com a "Colônia de Ulster," a partir de 1606. O governo inglês, no esforço de "domesticar" os irlandeses, plantou comunidades inglesas e irlandesas nas regiões devastadas pela guerra ao norte da ilha. Aos imigrantes escoceses, que levaram consigo o seu presbiterianismo, uniram-se puritanos ingleses e huguenotes franceses. Houve uma rígida separação étnica entre os novos moradores e os irlandeses católicos do sul, e grande violência destes contra os presbiterianos. Graças aos capelães de um exército pacificador, um presbitério foi fundado no Ulster em 1642 e em 1660 já havia cinco deles. Os colonos alcançaram prosperidade na nova terra, mas também se viram sujeitos a restrições políticas, econômicas e religiosas impostas pelo governo inglês, além de calamidades naturais como a seca. Com isso, a partir de 1715, os "escoceses-irlandeses" começaram a sua grande migração para os Estados Unidos. Até 1775, pelo menos 250 mil cruzaram o Atlântico. Em 1970, a Igreja Presbiteriana da Irlanda tinha cerca de 140 mil membros comungantes.
 
III. A Assembléia de Westminster

  1. Antecedentes: o rei Carlos I (1625-1649) queria impor o anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses. Porém, estes últimos se rebelaram e enfrentaram com êxito os exércitos reais. Precisando de mais tropas e dinheiro, Carlos viu-se forçado a promover a eleição de um parlamento. Para frustração do rei, os ingleses elegeram um parlamento puritano, que foi prontamente dissolvido. Feita nova eleição, a maioria puritana tornou-se ainda mais expressiva. Diante da recusa do parlamento em ser novamente dissolvido, resultou uma guerra civil.
 
  1. A Assembléia: por setenta e cinco anos os puritanos vinham insistindo para que a Igreja da Inglaterra tivesse uma forma de governo, doutrinas e culto mais puros. Assim, o parlamento convocou a Assembléia de Westminster, composta de 121 dos mais capazes pastores da Inglaterra, 20 membros da Casa dos Comuns e 10 membros da Casa dos Lordes. Todos os 121 teólogos eram ministros da Igreja da Inglaterra e quase todos eram calvinistas. Quanto ao governo da igreja, a maioria era a favor da forma presbiteriana, muitos desejavam a forma congregacional e uns poucos defendiam a forma episcopal. Essa questão gerou os debates mais longos e acalorados da Assembléia, que reuniu-se na Abadia de Westminster, em Londres, a partir de 1º de julho de 1643. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e meio, durante os quais houve mais de mil reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e sub-comissões.
 
  1. Os escoceses: tão logo a Assembléia iniciou os seus trabalhos, as forças parlamentares começaram a sofrer reveses na guerra. O parlamento buscou o auxílio da Escócia, que concordou em ajudar sob uma condição – que todos os membros da Assembléia de Westminster e do parlamento assinassem um pacto solene comprometendo-se a manter e defender a Igreja Presbiteriana da Escócia e a reformar a igreja da Inglaterra e da Irlanda em sua doutrina, governo, culto e disciplina, de acordo com a Palavra de Deus. Isso foi aceito. Os presbiterianos escoceses também puderam enviar representantes à Assembléia de Westminster, quatro pastores e dois presbíteros, que participaram dos trabalhos sem direito a voto. Eles exerceram uma influência desproporcional ao seu número. Logo que chegaram e foi assinado o pacto solene (setembro de 1643), houve uma mudança radical no trabalho da Assembléia. Até então, a idéia era revisar os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana. Agora, passou-se a fazer uma reforma completa da igreja.

  1. Os documentos: a Assembléia de Westminster caracterizou-se na somente pela erudição teológica, mas por uma profunda espiritualidade. Gastava-se muito tempo em oração e tudo era feito em um espírito de reverência. Cada documento produzido era encaminhado ao parlamento para aprovação, o que só acontecia após muita discussão e estudo. Os chamados "Padrões Presbiterianos" elaborados pela Assembléia foram os seguintes:
  2. Diretório do Culto Público: concluído em dezembro de 1644 e aprovado pelo parlamento no mês seguinte. Tomou o lugar do Livro de Oração Comum. Também foi preparado o Saltério: uma versão métrica dos Salmos para uso no culto (novembro de 1645).
  3. Forma de Governo Eclesiástico: concluída em 1644 e aprovada pelo parlamento em 1648. Instituiu a forma de governo presbiteriana em lugar da episcopal, com seus bispos e arcebispos.
  4. Confissão de Fé: concluída em dezembro de 1646 e sancionada pelo parlamento em março de 1648.
  5. Catecismo Maior e Breve Catecismo: concluídos no final de 1647 e aprovados pelo parlamento em março de 1648.
  6. Conseqüências: com o auxílio dos escoceses, as forças parlamentares derrotaram o rei Carlos I, que foi decapitado em 1649. O comandante vitorioso, Oliver Cromwell, assumiu o governo. Porém, em 1660, Carlos II subiu ao trono e restaurou o episcopado na Igreja da Inglaterra. Teve início nova era de perseguições contra os presbiterianos. Na Escócia, a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana adotou os Padrões de Westminster logo que foram aprovados, deixando de lado os seus próprios documentos de doutrina, liturgia e governo que vinham da época de John Knox. Isso é ainda mais surpreendente diante do fato de que somente quatro pastores escoceses participaram da Assembléia de Westminster (Alexander Henderson, Robert Baillie, George Gillespie e Samuel Rutherford). As razões para isso foram os méritos dos padrões de Westminster e o desejo de maior unidade entre os presbiterianos das Ilhas Britânicas. Da Escócia, esses padrões foram levados para outras partes do mundo.
Fonte: Walter L. Lingle, Presbyterians: Their History and Beliefs (Richmond: John Knox Press, 1960).
 
  1. Os Padrões de Fé de Westminster:
 
Observação: em 1991, a Casa Editora Presbiteriana publicou uma edição especial da Confissão de Fé e dos Catecismos contendo, além do texto desses documentos, a reprodução de todas passagens bíblicas pertinentes a cada tópico.
  1. Confissão de Fé: compõe-se de 33 capítulos, que abordam os seguintes tópicos:

A Doutrina das Escrituras
1. Da Escritura Sagrada
 
A Doutrina de Deus (Ser e Obras)
2. De Deus e da Santíssima Trindade
3. Dos Decretos Eternos de Deus
4. Da Criação
5. Da Providência
 
A Doutrina da Salvação (Objetiva)
6. Da Queda do Homem, do Pecado e do seu Castigo
7. Do Pacto de Deus com o Homem
8. De Cristo o Mediador
9. Do Livre Arbítrio
 
A Doutrina da Salvação (Subjetiva)
10. Da Vocação Eficaz
11. Da Justificação
12. Da Adoção
13. Da Santificação
14. Da Fé Salvadora
15. Do Arrependimento para a Vida
16. Das Boas Obras
17. Da Perseverança dos Santos
18. Da Certeza da Graça e da Salvação
 
A Doutrina da Vida Cristã
19. Da Lei de Deus
20. Da Liberdade Cristã
21. Do Culto Religioso e do Domingo
 
A Doutrina do Cristão na Sociedade
22. Dos Juramentos Legais e dos Votos
23. Do Magistrado Civil
24. Do Matrimônio e do Divórcio
 
A Doutrina da Igreja
25. Da Igreja
26. Da Comunhão dos Santos
27. Dos Sacramentos
28. Do Batismo
29. Da Ceia do Senhor
30. Das Censuras Eclesiásticas
31. Dos Sínodos e dos Concílios

A Doutrina das Últimas Coisas
32. Do Estado do Homem depois da Morte e da Ressurreição dos Mortos
33. Do Juízo Final
Apêndice
34. Do Espírito Santo
35. Do Amor de Deus
Observação quanto ao texto da Confissão de Fé encontrado em A Confissão de Fé, o Catecismo Menor e o Breve Catecismo: Exemplar do Líder, 1ª ed. especial (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1991):
Os Capítulos 34 e 35 foram acrescentados pela Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (a Igreja do Norte) em 1903. A seção intitulada "A Autoridade da Confissão de Fé e dos Catecismos" (pág. 162-F) foi escrita pela Rev. John M. Kyle. (Ver a "Nota Histórica" que consta de edições anteriores da Confissão de Fé).
  1. Catecismo Maior: compõe-se de 196 perguntas e respostas distribuídas em três seções:
1ª Parte: Da finalidade do ser humano, da existência de Deus, da origem e da veracidade das Escrituras – Perguntas 1-5
 
2ª Parte: O que o ser humano deve crer sobre Deus – Perguntas 6-90
Deus ...................................... 6-8
Trindade ................................ 9-11
Decreto .......................... ....... 12-14
Criação .......................... ....... 15-17
Providência ........................... 18-20
Queda .................................... 21-29
Pacto ..................................... 30-35
Cristo, o Mediador ................ 36-56
Salvação ........................ ....... 57-61
Igreja ..................................... 62-65
União Vital ........................... 66, 69
Vocação Eficaz ..................... 67-69
Justificação ........................... 70-73
Adoção .................................. 74
Santificação ........................... 75-78
Perseverança .......................... 79-81
Últimas Coisas ....................... 82-90
 
3ª Parte: O que as Escrituras requerem do ser humano como seu dever – Perguntas 91-196
A Lei de Deus ........................ 91-97
Os 10 Mandamentos .............. 98-148
Pecado ................................... 149-153
Meios de Graça ..................... 154
Palavra .................................. 155-160
Sacramentos .......................... 161-177
Oração ................................... 178-185
O Pai Nosso ................... ....... 186-196
(c) Breve Catecismo: possui 107 perguntas e respostas, sintetizando os pontos mais importantes dos documentos maiores. Inclui uma abordagem detalhada dos Dez Mandamentos (perguntas 41-81).
IV. O Presbiterianismo nos Estados Unidos
  1. Os puritanos: o calvinismo chegou à América do Norte com os puritanos ingleses que se radicaram em Massachusetts no início do século XVII. O primeiro grupo fixou-se em Plymouth em 1620 e o segundo fundou as cidades de Salem e Boston em 1630. Nas décadas seguintes, mais de 20 mil puritanos cruzaram o Atlântico em busca de liberdade religiosa e novas oportunidades. Todavia, esses calvinistas optaram pelo forma de governo congregacional, não pelo sistema presbiteriano.
 
  1. Grupos reformados: muitos calvinistas que aceitavam a forma de governo presbiteriana vieram do continente europeu. Dentre os primeiros estavam os holandeses que fundaram Nova Amsterdã (depois Nova York) em 1623. Os huguenotes franceses também foram em grande número para a América do Norte, fugindo da perseguição religiosa em sua pátria. Um numeroso contingente de reformados alemães igualmente emigrou para os Estados Unidos entre 1700 e 1770. Esses imigrantes formaram as suas próprias denominações e mais tarde muitos deles ingressaram na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos.
 
  1. Os escoceses: muitos presbiterianos escoceses foram diretamente da Escócia para os Estados Unidos nos primeiros tempos da colonização. Todavia, foram os escoceses-irlandeses os principais responsáveis pela introdução do presbiterianismo naquele país. Durante o século XVIII, pelo menos 300 mil cruzaram o Atlântico. Eles se radicaram principalmente em Nova Jersey, Pensilvânia, Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da Pensilvânia, eles fundaram Pittsburgh, a cidade mais presbiteriana dos Estados Unidos. O Rev. Ashbel G. Simonton era descendente desses escoceses-irlandeses da Pensilvânia.
 
  1. Francis Makemie: No século XVII as comunidades presbiterianas dos Estados Unidos viviam dispersas. Foi só no início do século seguinte que elas começaram a unir-se em concílios. Nesse esforço, destacou-se o Rev. Francis Makemie (1658-1708), considerado o "pai do presbiterianismo americano." Ordenado na Irlanda do Norte em 1683, ele foi logo em seguida para a América do Norte. Makemie fundou diversas igrejas em Maryland e viajou extensamente encorajando os presbiterianos. Como a Igreja Anglicana era a igreja oficial de várias colônias, ele sofreu muitas perseguições. Chegou mesmo a ser preso em Nova York em 1706.
 
  1. Organização: sob a liderança de Makemie, foi organizado em 1706 o Presbitério de Filadélfia. Em 1717, organizou-se o Sínodo de Filadélfia, composto de quatro presbitérios. Ao todo, a denominação tinha apenas dezenove pastores, quarenta igrejas e cerca de três mil membros. Em 1729, foi aprovado o "Ato de Adoção," que aprovou a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster como padrões doutrinários do Sínodo. De 1741 a 1758, os presbiterianos dividiram-se em dois grupos por causa de diferenças acerca do avivamento e da educação teológica: Ala Velha (Sínodo de Filadélfia) e Ala Nova (Sínodo de Nova York).
 
  1. A Revolução: nesse período de divisão, vários evangelistas notáveis como Samuel Davies, Alexander Craighead e Hugh McAden trabalharam com grande êxito no sul do país, especialmente na Virgínia e nas Carolinas. Durante a Revolução Americana, os presbiterianos tiveram uma atuação destacada. O Rev. John Witherspoon (1723-1794), um escocês que foi presidente da Universidade de Princeton por vinte e cinco anos, foi o único pastor que assinou a Declaração de Independência dos Estados Unidos, em 1776. Muitos presbiterianos lutaram na guerra da independência.
 
  1. A Assembléia Geral: em 1788, o Sínodo de Nova York e Filadélfia dividiu-se em quatro (Nova York e Nova Jersey, Filadélfia, Virgínia e Carolinas). No dia 21 de maio de 1789, reuniu-se pela primeira vez a "Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América." Naquela época, a Igreja Presbiteriana era a denominação mais influente do país. Em 1800, contava com 180 pastores, 450 igrejas e cerca de 20 mil membros.
 
  1. Crescimento: em 1801, presbiterianos e congregacionais iniciaram um trabalho cooperativo conhecido como "Plano de União." O objetivo era evangelizar com mais eficiência a população que estava indo para o oeste, a chamada "fronteira." Foi esse o período do avivamento conhecido como Segundo Grande Despertamento. O resultado foi um avanço fenomenal. Em 1837, a Igreja Presbiteriana já contava com 2140 pastores, quase 3000 igrejas e 220 mil membros. O Seminário de Princeton foi fundado em 1812 (entre seus grandes professores estiveram Archibald Alexander, Charles Hodge, A.A. Hodge e Benjamin B. Warfield).
 
  1. Divisões: devido a uma controvérsia sobre os requisitos para a ordenação de ministros, surgiu em 1810 a Igreja Presbiteriana de Cumberland, no Tennessee. Uma divisão mais séria ocorreu entre os grupos conhecidos como Velha Escola e Nova Escola, aquele sendo mais apegado aos padrões de Westminster do que este. Em 1837, a Velha Escola obteve a maioria na Assembléia Geral, cancelou o Plano de União de 1801 e excluiu quatro sínodos inteiros, dividindo ao meio a denominação. Foi criada a Junta de Missões Estrangeiras. Finalmente, em 1857 e 1861 ocorreram novas divisões, desta vez ocasionadas pelo problema da escravidão. As igrejas Nova Escola e Velha Escola do sul, favoráveis à escravidão, separaram-se das do norte. Eventualmente, foram criadas duas grandes denominações presbiterianas, a Igreja do Norte (PCUSA) e a Igreja do Sul (PCUS), que enviaram muitos missionários a todo o mundo, inclusive ao Brasil.

  1. O Século XX: em 1903, a PCUSA alterou levemente três parágrafos da Confissão de Fé de Westminster e acrescentou-lhe dois novos capítulos: um sobre o Espírito Santo e outro sobre o amor de Deus e as missões. Mais controvertida foi uma declaração acrescentada à Confissão que atenuou as suas afirmações sobre os decretos de Deus. Nas décadas de 1920 e 1930, a PCUSA foi abalada pela controvérsia modernista-fundamentalista. Em 1936, J. Gresham Machen, o líder dos conservadores, fundou sua própria denominação – a Igreja Presbiteriana Ortodoxa. Em 1957, a PCUSA fundiu-se com uma pequena denominação presbiteriana, surgindo a Igreja Presbiteriana Unida dos E.U.A. Apesar das dificuldades, a igreja continuou a crescer. Entre 1900 e 1957, o número de membros passou de um milhão para três milhões. Finalmente, em 1983, após mais de um século de separação, as igrejas do norte e do sul uniram-se para formar a atual Igreja Presbiteriana (E.U.A.), de tendência liberal. Antes disso, muitos elementos conservadores haviam deixado as igrejas-mães e criado duas novas denominações: a Igreja Presbiteriana da América (PCA, 1973) e a Igreja Presbiteriana Evangélica (EPC, 1981).
V. Primórdios do Calvinismo no Brasil
  1. Os franceses na Guanabara (1555-1567): no final de 1555, chegou à Baía da Guanabara uma expedição francesa comandada pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon, para fundar a "França Antártica." Esse empreendimento teve o apoio do almirante huguenote Gaspard de Coligny, que seria morto no massacre do dia de São Bartolomeu (24-08-1572).
  1. Os holandeses no Nordeste (1630-54): depois de uma árdua guerra contra a Espanha, a Holanda calvinista conquistou a sua independência em 1568 e começou a tornar-se uma das nações mais prósperas da Europa. Pouco tempo depois, Portugal caiu sob o controle da Espanha por sessenta anos – a chamada "União Ibérica" (1580-1640).
  1. Eventos posteriores: após a expulsão dos holandeses, o Brasil fechou as suas portas aos protestantes por mais de 150 anos. Foi só no início dos século XIX, com a vinda da família real portuguesa, que essa situação começou a se alterar. Em 1810, Portugal e Inglaterra firmaram um Tratado de Comércio e Navegação, cujo artigo XII concedeu tolerância religiosa aos imigrantes protestantes. Logo, muitos começaram a chegar, entre eles um bom número de reformados.
VI. História da Igreja Presbiteriana do Brasil (1ª parte)
Atualmente, existem no Brasil várias denominações de origem reformada ou calvinista. Entre elas incluem-se a Igreja Presbiteriana Independente, a Igreja Presbiteriana Conservadora e algumas igrejas criadas por imigrantes vindos da Europa continental, como suíços, holandeses e húngaros. Todavia, a maior e mais antiga denominação reformada do país é a Igreja Presbiteriana do Brasil. Sua história divide-se em alguns períodos bem definidos:
1. Implantação (1859-1869).
O surgimento do presbiterianismo no Brasil resultou do pioneirismo e desprendimento do Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867). Nascido em West Hanover, na Pensilvânia, Simonton estudou no Colégio de Nova Jersey e inicialmente pensou em ser professor ou advogado. Alcançado por um reavivamento em 1855, fez sua profissão de fé e pouco depois ingressou no Seminário de Princeton. Um sermão pregado por seu professor, o famoso teólogo Charles Hodge, levou-o a considerar o trabalho missionário no estrangeiro. Três anos depois, candidatou-se perante a Junta de Missões da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, citando o Brasil como campo de sua preferência. Dois meses após a sua ordenação, embarcou para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859, aos 26 anos de idade.
Em abril de 1860, Simonton dirigiu o seu primeiro culto em português; em janeiro de 1862, recebeu os primeiros membros, sendo fundada a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. No breve período em que viveu no Brasil, Simonton, auxiliado por alguns colegas, fundou o primeiro jornal evangélico do país (Imprensa Evangélica, 1864), criou o primeiro presbitério (1865) e organizou um seminário (1867). O Rev. Simonton morreu vitimado pela febre amarela aos 34 anos, em 1867 (sua esposa, Helen Murdoch, havia falecido três anos antes).
Os principais colaboradores de Simonton nesse período foram: seu cunhado Alexander L. Blackford, que em 1865 organizou as igrejas de São Paulo e Brotas; Francis J. C. Schneider, que trabalhou entre os imigrantes alemães em Rio Claro, lecionou no seminário do Rio e foi missionário na Bahia; George W. Chamberlain, grande evangelista e operoso pastor da Igreja de São Paulo. Os quatro únicos estudantes do "seminário primitivo" foram também grandes obreiros: Antonio B. Trajano, Miguel G. Torres, Modesto P. B. Carvalhosa e Antonio Pedro de Cerqueira Leite.
Outras poucas igrejas organizadas no primeiro decênio foram as de Lorena, Borda da Mata (Pouso Alegre) e Sorocaba. O homem que mais contribuiu para a criação dessas e outras igrejas foi o notável Rev. José Manoel da Conceição (1822-1873), um ex-sacerdote que tornou-se o primeiro brasileiro a ser ordenado ministro do evangelho (1865). Visitou incansavelmente dezenas de vilas e cidades no interior de São Paulo, Vale do Paraíba e sul de Minas, pregando o evangelho da graça.
2. Consolidação (1869-1888).
Simonton e seus companheiros eram todos da igreja presbiteriana do norte dos Estados Unidos (PCUSA). Em 1869 chegaram os primeiros missionários da igreja do sul (PCUS): George N. Morton e Edward Lane. Eles fixaram-se em Campinas, região onde havia muitas famílias norte-americanas que vieram para o Brasil após a Guerra Civil no seu país (1861-65). Em 1870, Morton e Lane fundaram a igreja de Campinas e em 1873 o famoso, porém efêmero, Colégio Internacional. Os missionários da PCUS evangelizaram a região da Mogiana, o oeste de Minas, o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. O pioneiro em várias dessas regiões foi o incansável Rev. John Boyle.
Os obreiros da PCUS também foram os pioneiros presbiterianos no nordeste e norte do Brasil (de Alagoas até a Amazônia). Os principais foram John Rockwell Smith, fundador da igreja do Recife (1878); DeLacey Wardlaw, pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W. Butler, o "médico amado" de Pernambuco. O mais conhecido dentre os primeiros pastores brasileiros do nordeste foi o Rev. Belmiro de Araújo César, patriarca de uma grande família presbiteriana.
Enquanto isso, os missionários da igreja do norte dos Estados Unidos também continuavam o seu trabalho, auxiliados por novos colegas. Seus principais campos eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb; Rio de Janeiro, que inaugurou seu templo em 1874, e Nova Friburgo, onde trabalhou o Rev. John M. Kyle; Paraná, cujos pioneiros foram Robert Lenington e George A. Landes; e especialmente São Paulo. Na capital paulista, o casal Chamberlain fundou em 1870 a Escola Americana, que mais tarde veio a ser o Mackenzie College, dirigido pelo educador Horace Manley Lane. No interior da província destacou-se o Rev. João Fernandes Dagama, português da Ilha da Madeira. No Rio Grande do Sul, trabalhou por algum tempo o Rev. Emanuel Vanorden, um judeu holandês.
Entre os novos pastores "nacionais" desse período estavam Eduardo Carlos Pereira, José Zacarias de Miranda, Manuel Antônio de Menezes, Delfino dos Anjos Teixeira, João Ribeiro de Carvalho Braga e Caetano Nogueira Júnior. As duas igrejas norte-americanas também enviaram notáveis missionárias educadoras: Mary P. Dascomb, Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper.
3. Dissensão (1888-1903).
Em setembro de 1888 foi organizado o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, que assim tornou-se autônoma, desligando-se das igrejas-mães norte-americanas. O Sínodo compunha-se de três presbitérios (Rio de Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e Pernambuco) e tinha vinte missionários, doze pastores nacionais e 59 igrejas. O primeiro moderador foi o veterano Rev. Blackford. O Sínodo criou o Seminário Presbiteriano, elegeu seus dois primeiros professores e dividiu o Presbitério de Campinas e Oeste de Minas em dois: São Paulo e Minas.
Nesse período a denominação expandiu-se grandemente, com muitos novos missionários, pastores brasileiros e igrejas locais. O Seminário começou a funcionar em Nova Friburgo no final de 1892 e no início de 1895 transferiu-se para São Paulo, tendo à frente o Rev. John Rockwell Smith. O Mackenzie College ou Colégio Protestante foi criado em 1891, sendo seu primeiro presidente o Dr. Horace M. Lane. Por causa da febre amarela, o Colégio Internacional foi transferido de Campinas para Lavras, e mais tarde veio a chamar-se Instituto Gammon, numa homenagem ao seu grande líder, o Rev. Samuel R. Gammon (1865-1928).
A primeira escola evangélica do nordeste foi o Colégio Americano de Natal (1895), fundado por Katherine H. Porter, esposa do Rev. William C. Porter. Na mesma época, a cidade de Garanhuns começou a tornar-se um grande centro da obra presbiteriana. Além do trabalho evangelístico, foram lançadas as bases de duas importantes instituições educacionais: o Colégio Quinze de Novembro e o Seminário do Norte, hoje sediado em Recife. No final desse período, além de estar presente em todos os estados do nordeste, a Igreja Presbiteriana chegou ao Pará e ao Amazonas.
No sul, foi iniciada a obra presbiteriana em Santa Catarina (São Francisco do Sul e Florianópolis). A igreja também iniciou a sua marcha vitoriosa no leste de Minas. O primeiro obreiro a residir em Alto Jequitibá foi o Rev. Matatias Gomes dos Santos (1901). As igrejas de São Paulo e do Rio de Janeiro passaram a ser pastoreadas por dois grandes líderes, respectivamente Eduardo Carlos Pereira (1888) e Álvaro Emídio G. dos Reis (1897).
Infelizmente, os progressos desse período foram em parte ofuscados por uma grave crise que se abateu sobre a vida da igreja. Inicialmente, surgiu uma diferença de prioridades entre o Sínodo e a Junta de Missões de Nova York. O Sínodo queria apoio para a obra evangelística e para instalar o Seminário, ao passo que a Junta preferiu dar ênfase à obra educacional, principalmente através do Mackenzie. Paralelamente, surgiram desentendimentos entre o pastor da Igreja Presbiteriana de São Paulo, Rev. Eduardo Carlos Pereira, e os líderes do Mackenzie, Horace M. Lane e William A. Waddell.
Com o passar do tempo, o Rev. Eduardo C. Pereira passou a tornar-se mais radical em suas posições, perdendo o apoio até mesmo de muitos dos seus colegas brasileiros. Como uma alternativa ao jornal de Eduardo, O Estandarte, o Rev. Álvaro Reis criou O Puritano em 1899. Em 1900 foi criada a Igreja Presbiteriana Unida, que resultou da fusão de duas igrejas formadas por pessoas que haviam saído da igreja do Rev. Eduardo. Na mesma época, um novo problema veio complicar ainda mais a situação: o debate acerca da maçonaria.
Em março de 1902, Eduardo C. Pereira e seus partidários começaram a divulgar a sua Plataforma, com cinco tópicos sobre as questões missionária, educativa e maçônica. Após pouco mais de um ano de debates acalorados, a crise chegou ao seu triste desfecho em 31 de julho de 1903, durante a reunião do Sínodo. Após serem derrotados em suas propostas, Eduardo e seus colegas desligaram-se do Sínodo e formaram a Igreja Presbiteriana Independente.
 
VII. História da Igreja Presbiteriana do Brasil (2ª parte)
4. Reconstituição (1903-1917).
No início de agosto de 1903, os independentes organizaram o seu presbitério, com quinze presbíteros e sete pastores (Eduardo C. Pereira, Caetano Nogueira Jr., Bento Ferraz, Ernesto Luiz de Oliveira, Otoniel Mota, Alfredo Borges Teixeira e Vicente Temudo Lessa). Seguiu-se um triste período de divisões de comunidades, luta pela posse de propriedades, litígios judiciais. Uma pastoral do Presbitério Independente chegou a vedar aos sinodais a Ceia do Senhor. O período mais conflitivo estendeu-se até 1906. Nessa época, o Sínodo contava com 77 igrejas e cerca de 6500 membros; em 1907, os independentes tinham 56 igrejas e 4200 comungantes.
O prédio do seminário, no Higienópolis, foi ocupado sem solenidade em setembro de 1899. Os principais professores eram os Revs. John R. Smith e Erasmo Braga (este a partir de 1901); o principal membro da diretoria era o Rev. Álvaro Reis. Em fevereiro de 1907, o seminário foi transferido para Campinas, ocupando a antiga propriedade do Colégio Internacional. A primeira turma de Campinas só se formou em 1912. Entre os formandos estavam Tancredo Costa, Herculano de Gouvêa Jr., Miguel Rizzo Jr. e Paschoal Luiz Pitta. Mais tarde viriam Guilherme Kerr, Jorge T. Goulart, Galdino Moreira e José Carlos Nogueira.
A obra presbiteriana crescia em muitos lugares. A primeira cidade atingida no Leste de Minas foi Alto Jequitibá (Manhuaçu) e no Espírito Santo, São José do Calçado. Os primeiros pastores daqueles campos foram Matatias Gomes dos Santos, Aníbal Nora, Constâncio Omero Omegna e Samuel Barbosa. No Vale do Ribeira, o evangelista Willes R. Banks continuava em atividade; a família Vassão daria grandes contribuições à igreja.
Em 1907, o Sínodo dividiu-se em dois (Norte e Sul) e em 1910 foi organizada a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana do Brasil. O moderador do último sínodo e instalador da Assembléia Geral foi o veterano Modesto Carvalhosa, ordenado 40 anos antes. A Assembléia Geral foi instalada na Igreja do Rio e o Rev. Álvaro Reis foi eleito seu primeiro moderador. Os conciliares visitaram a Ilha de Villegaignon para lembrar os mártires calvinistas e comemorar o 4º centenário do nascimento de Calvino. Na época, a Igreja Presbiteriana do Brasil tinha 10 mil membros comungantes, outro tanto de menores e cerca de 150 igrejas em sete presbitérios. As demais denominações tinham os seguintes números: metodistas – 6 mil membros; independentes – 5 mil; batistas – 5 mil; episcopais – cerca de mil. Em 1911, a IPB enviou o seu primeiro missionário a Portugal, Rev. João da Mota Sobrinho, que lá ficou até 1922.
Os missionários americanos continuam em plena atividade. A Missão Sul da PCUS dividiu-se em Missão Leste (Lavras) e Missão Oeste (Campinas) devido a divergências quanto ao lugar da educação na obra missionária. O Rev. William Waddell fundou uma influente escola em Ponte Nova, Bahia. Pierce Chamberlain trabalhou na Bahia de 1899 a 1909. A obra presbiteriana no Mato Grosso começou nesse período: os pioneiros foram os missionários Franklin Graham (1913) e Philippe Landes (1915).
Em 1917, foi aprovado o Modus Operandi, um acordo entre a igreja e as missões norte-americanas pelo qual os missionários desligaram-se dos concílios da IPB, separando-se os campos nacionais (presbitérios) dos campos das missões. Em 1924, pela primeira reuniu-se a Assembléia Geral sem nenhum missionário como delegado de presbitério.
5. Cooperação (1917-1932).
O maior líder presbiteriano desse período foi o Rev. Erasmo Braga (1877-1932), professor do seminário e secretário da Assembléia Geral. Em 1916, participou com dois colegas do Congresso de Ação Cristã na América Latina, no Panamá. Poucos anos depois, tornou-se o dinâmico secretário da Comissão Brasileira de Cooperação, entidade que liderou um grande esforço cooperativo entre as igrejas evangélicas do Brasil na década de 1920. As principais áreas de cooperação foram literatura, educação cristã e educação teológica. Foi fundado o Seminário Unido no Rio de Janeiro, que existiu até 1932.
Outros esforços cooperativos desse período foram: (1) Instituto José Manoel da Conceição, fundado pelo Rev. William A. Waddell na cidade de Jandira, perto de São Paulo (1928); visava preparar os jovens que depois seguiriam para o seminário. (2) Associação Evangélica de Catequese dos Índios (1928), depois Missão Evangélica Caiuá: idealizada pelo Rev. Albert S. Maxwell e instalada em Dourados, Mato Grosso; esforço cooperativo das igrejas presbiteriana, independente, metodista e episcopal.
O Seminário de Campinas correu o risco de ser extinto por causa do Seminário Unido, mas finalmente superou a crise. Em 1921, o Seminário do Norte foi transferido para o Recife. As principais instituições educacionais das missões eram o Colégio Agnes Erskine, em Recife; Colégio 15 de Novembro (Garanhuns); Escola de Ponte Nova (Bahia); Colégio 2 de Julho (Salvador); Instituto Gammon (Lavras); Instituto Cristão (Castro) e principalmente o Mackenzie. Os principais periódicos presbiterianos eram O Puritano e o Norte Evangélico.
Em 1924, a Assembléia Geral encerrou o trabalho missionário em Lisboa. No mesmo ano, Erasmo Braga e alguns amigos fundaram a Sociedade Missionária Brasileira de Evangelização em Portugal, que enviou para aquele país o Rev. Paschoal L. Pitta e sua esposa Odete. O casal ali esteve por quinze anos (1925-1940), regressando ao Brasil devido à constante falta de recursos.
Em 1921, morreu o Rev. Antonio Bandeira Trajano. Com ele desapareceu a primeira geração de obreiros presbiterianos no Brasil, os da década de 1860. Outros obreiros falecidos nesse período foram: Eduardo Carlos Pereira (1923), Álvaro Reis (1925), Carlota Kemper (1927), Samuel Gammon (1928) e Erasmo Braga (1932).
XIII. História da Igreja Presbiteriana do Brasil (3ª parte)
6. Organização (1932-1959).
IX. Nossa Identidade
A fé reformada tem uma série de características e ênfases que conferem aos presbiterianos uma identidade bem definida. Cinco áreas são especialmente importantes:
  1. Doutrina: os presbiterianos crêem que uma teologia correta, equilibrada e bíblica é essencial para a vida do cristão. Todo crente, mesmo sem o saber, tem concepções teológicas e essas concepções irão influenciar todos os aspectos da sua vida cristã. Os reformados não valorizam a teologia pela teologia, mas como um instrumento para nos proporcionar um melhor conhecimento de Deus e do nosso relacionamento com ele.
  1. Culto: o reconhecimento da soberania do Senhor e a preocupação com a sua glória devem ter reflexos sobre o culto, a expressão mais visível e central da vida coletiva da igreja. Calvino acentuou os seguintes princípios para o culto: integridade bíblica e teológica (lex orandi, lex credendi), equilíbrio entre estrutura/forma e essência, inteligibilidade, edificação, simplicidade (sem pompa, teatralismo), flexibilidade (p.e., freqüência da Ceia do Senhor), participação congregacional (cânticos, salmos metrificados).
  1. Vida Comunitária: a identidade presbiteriana também deve manifestar-se na maneira como os irmãos vivem e se relacionam na comunidade da fé. Os reformados crêem firmemente no sacerdócio de todos os fiéis, ou seja, todos os crentes são iguais em sua dignidade e direitos. Não existe distinção entre clero e leigos: todo crente é um ministro de Deus. Os ofícios instituídos na igreja (pastor, presbítero, diácono) visam apenas dar maior ordem e estabilidade ao trabalho e suprir necessidades nas áreas de liderança, assistência espiritual e beneficência.
  1. Missão: os presbiterianos reconhecem que Deus chama os seus filhos e filhas para uma missão junto à sociedade e ao mundo. Essas missão tem duas dimensões primordiais:
  1. Ética: uma outra área importante para a vida reformada diz respeito aos valores. O cristão é chamado para uma vida de santidade e integridade na sua relação com Deus, com a igreja e com a sociedade, naquilo que ele é e faz. Não se pode dissociar a ética pessoal da ética social. Se um crente não é íntegro individualmente, dificilmente poderá lutar pela justiça, honestidade e transparência na vida política, econômica e social do país. Esse é outro elemento importante para a identidade presbiteriana, em um mundo cada vez mais carente de padrões firmes e seguros. Mais uma vez, o fundamento de tudo está na soberania e na graça de Deus.
Leituras Recomendadas:
Biéler, André, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, trad. Waldyr C. Luz (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990).
Biéler, André, El Humanismo Social de Calvino (Buenos Aires: Editorial Escaton, 1973).
Calvino, João, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã, 4 vols., trad. Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985-1989).
Carlson, Paul, Our Presbyterian Heritage (Elgin, Illinois: David C. Cook, 1973).
Ferreira, Wilson Castro, Calvino: Vida, Influência e Teologia (Campinas: Luz Para o Caminho, 1985).
George, Timothy, A Teologia dos Reformadores (São Paulo: Vida Nova).
Lingle, Walter L., Presbyterians: Their History and Beliefs (Richmond: John Knox, 1960).
Lopes, Augustus Nicodemus, Calvino e a Responsabilidade Social da Igreja (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas).
Matos, Alderi S., "Amando a Deus e ao Próximo: João Calvino e o Diaconato em Genebra," Fides Reformata II/2 (Julho-Dezembro 1997), 69-88.
Parker, T.H.L., Calvin: An Introduction to his Thought (Louisville: Westminster/John Knox, 1995).
Souza, Manoel B. de, Porque Somos Presbiterianos, 2ª ed. (Rio de Janeiro: Edições Princeps, 1963).
Reid, W. Stanford, Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990).
Van Halsema, Thea B., João Calvino Era Assim (São Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968).