Presbiterianos: Quem
Somos e de Onde Viemos
I. Expansão – Europa
Continental
- A partir da Suíça, o calvinismo difundiu-se na França,
no vale do Reno (da Alemanha até a Holanda), na Europa Oriental
(Boêmia, Polônia, Hungria), e nas Ilhas Britânicas
(Escócia, Inglaterra e Irlanda).
- A Academia de Genebra, fundada em 1559, foi muito importante para a
difusão inicial do movimento reformado em toda a Europa. Ela preparou
centenas de líderes que voltaram a seus países de origem,
especialmente a França, e difundiram as novas idéias.
- As perseguições religiosas, particularmente na França,
Itália e Países Baixos, também contribuíram para que
a fé reformada fosse levada para outras partes da Europa.
- França. O movimento reformado experimentou enorme
crescimento na década de 1550, apesar de intensas
perseguições. Em 1559 reuniu-se o primeiro sínodo da Igreja
Reformada da França, representando cerca de duas mil igrejas locais, que
aprovou a Confissão Galicana. Pela primeira vez, o
presbiterianismo foi organizado em âmbito nacional. Muitos dos reformados
franceses, os huguenotes, eram artesãos, comerciantes e nobres,
concentrando-se especialmente no oeste e sudoeste do país. Seus conflitos
com o partido católico liderado pela família Guise-Lorraine
levaram a um longo período de guerras religiosas (1562-1598), cujo
episódio mais sangrento foi o massacre do Dia de São
Bartolomeu (24-08-1572), em que milhares de huguenotes foram mortos à
traição em Paris e no interior da França, entre eles o
famoso Almirante Gaspard de Coligny. A paz só foi restaurada em 1598,
quando o rei Henrique IV, um ex-huguenote, promulgou o Edito de Nantes,
concedendo liberdade religiosa aos reformados. Esse edito foi revogado em 1685,
fazendo com que 300 mil huguenotes abandonassem a França. Os
remanescentes formaram o que ficou conhecido como "a igreja no deserto."
- Alemanha. Desde cedo o movimento reformado penetrou no sul do
país, procedente da vizinha Suíça. O movimento cresceu com
a chegada de milhares de refugiados vindos de outras regiões
(França, Países Baixos). Estrasburgo foi um importante
centro reformado entre 1521 e 1549, tendo como grande líder o reformador
Martin Bucer. Calvino ali esteve por três anos (1538-41). Em
Heidelberg, o príncipe Frederico III criou uma grande universidade
que tornou-se o centro do pensamento reformado na Alemanha. Nessa cidade foi
escrito o importante Catecismo de Heidelberg (1563). A Guerra dos
Trinta Anos (1618-48) resultou no reconhecimento final das igrejas
reformadas alemãs, que receberam o influxo de sessenta mil refugiados
huguenotes após a revogação do Edito de Nantes.
- Holanda: inicialmente, o calvinismo surgiu no sul dos
Países Baixos (Antuérpia, 1555). Em dez anos, formaram-se mais de
trezentas igrejas, em parte devido à chegada de imigrantes huguenotes que
fugiam das guerras religiosas em seu país. Essas igrejas adotaram como
sua declaração de fé a Confissão Belga,
escrita em 1561. O calvinismo foi implantado na Holanda no contexto da guerra de
independência contra a Espanha, iniciada em 1566 sob a liderança de
Guilherme de Orange. Como resultado do conflito, os Países Baixos
dividiram-se em Bélgica e Luxemburgo (católicos) e
Holanda (reformada). O primeiro sínodo nacional das igrejas
reformadas holandesas reuniu-se em 1571 na cidade de Emden, na Alemanha, e
adotou um sistema presbiterial de governo baseado no modelo francês.
Eventualmente, a igreja reformada tornou-se oficial, embora nem toda a
população tenha aderido ao movimento. No início do
século XVII, uma disputa teológica resultou no Sínodo de
Dort (1618-19), que rejeitou as idéias de Jacó Armínio
acerca da predestinação e afirmou os chamados cinco pontos do
calvinismo (depravação total, eleição incondicional,
expiação limitada, graça irresistível e
perseverança dos santos).
- Europa Oriental: na década de 1540, graças a
contatos com cidades suíças, surgiram igrejas reformadas na
Polônia e Boêmia (Checoslováquia) e mais tarde também
na Hungria. Na Boêmia, o movimento reformado associou-se aos
Irmãos Boêmios, os sucessores do antigo movimento liderado pelo
pré-reformador João Hus, morto em 1415. Na Polônia e
na Lituânia, as igrejas calvinistas experimentaram grande crescimento, mas
eventualmente foram suprimidas pela Contra-Reforma. A fé reformada foi
introduzida na Hungria em 1549, através de contatos com Zurique,
mas as igrejas sofreram perseguições de 1677 a 1781. Em 1970, a
igreja reformada húngara tinha cerca de um milhão e meio de
membros. Também existe uma grande comunidade reformada na
Romênia (700 mil membros em 1963).
II. Expansão – Ilhas
Britânicas
- Escócia: o protestantismo reformado foi levado para a
Escócia por George Wishart, que estudara na Suíça e foi
morto na fogueira em 1546. As primeiras igrejas reformadas surgiram no final da
década seguinte. Os eventos se precipitaram com o retorno do líder
John Knox (c. 1514-1572), que passou alguns anos em Genebra como
refugiado, estudou aos pés de Calvino e retornou ao seu país em
1559. No ano seguinte, o Parlamento aboliu o catolicismo e adotou a fé
reformada (Confissão Escocesa). Em dezembro de 1560, reuniu-se a
primeira assembléia geral da Igreja Presbiteriana escocesa, que elaborou
o Livro de Disciplina. Todavia, o Parlamento não aceitou esse
primeiro Livro de Disciplina – que prescrevia a forma presbiteriana de
governo –, mas manteve o episcopado como instrumento de controle estatal
da igreja. Ironicamente, entre 1561 e 1567 a Escócia foi governada por
uma rainha católica, Maria Stuart. Após a morte de Knox, Andrew
Melville (1545-1622), outro ex-exilado em Genebra, tornou-se o principal
defensor do sistema presbiteriano e de uma igreja autônoma do estado. Os
próximos quatro reis, especialmente Carlos II (1660-85), procuraram impor
o anglicanismo e perseguiram os presbiterianos. Estes fizeram um pacto nacional
para defender a sua fé e ficaram conhecidos como "covenanters"
(pactuantes). Somente em 1689 o presbiterianismo foi estabelecido
definitivamente, embora algumas modificações feitas pelo
Parlamento, como a Lei do Patronato Leigo (1717), tenham produzido várias
divisões na igreja. Em 1970, a Igreja da Escócia tinha cerca de 1
milhão e 155 mil membros comungantes.
- Inglaterra: desde o reinado de Eduardo VI (1547-1553) surgiram
fortes influências reformadas neste país. Martin Bucer, o
reformador de Estrasburgo, passou seus últimos anos na Inglaterra.
Calvino correspondeu-se com o rei Eduardo, com Somerset, o lorde protetor, e com
Thomas Cranmer, o arcebispo de Cantuária. O Livro de
Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos revelam clara
influência reformada. Durante o reinado de Maria Tudor (1553-58), a
Sanguinária, muitos protestantes ingleses refugiaram-se em Zurique e
Genebra. Porém, a rainha Elizabete I (1558-1603) não apreciava os
aspectos populares da forma presbiteriana de governo, preferindo uma estrutura
episcopal que deixava o controle último da igreja nas mãos das
autoridades civis. No seu reinado, surgiram os puritanos, alguns dos quais
sustentavam princípios presbiterianos. Os reis Tiago I e Carlos I
(1625-1649), que governavam a Inglaterra e a Escócia, continuaram a
opor-se aos puritanos. Carlos fez guerra contra os escoceses presbiterianos e
viu-se em dificuldades. Para isso, precisou convocar a eleição de
um parlamento, que teve uma maioria puritana. Dissolvido o parlamento, houve
nova eleição que resultou numa maioria puritana ainda maior. A
conseqüência foi a guerra civil, que terminaria com a
execução do rei. Esse parlamento puritano convocou a
Assembléia de Westminster (1643-49), que produziu os
"padrões presbiterianos" de culto, forma de governo e doutrina
(Confissão de Fé e Catecismos). Quando tais padrões foram
aprovados pelo parlamento, a Igreja da Inglaterra deixou de ser episcopal e
tornou-se presbiteriana. Porém, depois que Carlos II tornou-se rei em
1660, houve a restauração do episcopado e seguiram-se
vários anos de repressão contra os presbiterianos. A Igreja
Presbiteriana da Inglaterra, criada em 1876, tinha 60 mil membros comungantes em
1970.
- Irlanda: a tradição reformada teve início
na Irlanda com a "Colônia de Ulster," a partir de 1606. O governo
inglês, no esforço de "domesticar" os irlandeses, plantou
comunidades inglesas e irlandesas nas regiões devastadas pela guerra ao
norte da ilha. Aos imigrantes escoceses, que levaram consigo o seu
presbiterianismo, uniram-se puritanos ingleses e huguenotes franceses. Houve uma
rígida separação étnica entre os novos moradores e
os irlandeses católicos do sul, e grande violência destes contra os
presbiterianos. Graças aos capelães de um exército
pacificador, um presbitério foi fundado no Ulster em 1642 e em 1660
já havia cinco deles. Os colonos alcançaram prosperidade na nova
terra, mas também se viram sujeitos a restrições
políticas, econômicas e religiosas impostas pelo governo
inglês, além de calamidades naturais como a seca. Com isso, a
partir de 1715, os "escoceses-irlandeses" começaram a sua grande
migração para os Estados Unidos. Até 1775, pelo menos 250
mil cruzaram o Atlântico. Em 1970, a Igreja Presbiteriana da Irlanda tinha
cerca de 140 mil membros comungantes.
III. A Assembléia de
Westminster
- Antecedentes: o rei Carlos I (1625-1649) queria impor o
anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses.
Porém, estes últimos se rebelaram e enfrentaram com êxito os
exércitos reais. Precisando de mais tropas e dinheiro, Carlos viu-se
forçado a promover a eleição de um parlamento. Para
frustração do rei, os ingleses elegeram um parlamento puritano,
que foi prontamente dissolvido. Feita nova eleição, a maioria
puritana tornou-se ainda mais expressiva. Diante da recusa do parlamento em ser
novamente dissolvido, resultou uma guerra civil.
- A Assembléia: por setenta e cinco anos os puritanos
vinham insistindo para que a Igreja da Inglaterra tivesse uma forma de governo,
doutrinas e culto mais puros. Assim, o parlamento convocou a Assembléia
de Westminster, composta de 121 dos mais capazes pastores da Inglaterra, 20
membros da Casa dos Comuns e 10 membros da Casa dos Lordes. Todos os 121
teólogos eram ministros da Igreja da Inglaterra e quase todos eram
calvinistas. Quanto ao governo da igreja, a maioria era a favor da forma
presbiteriana, muitos desejavam a forma congregacional e uns poucos defendiam a
forma episcopal. Essa questão gerou os debates mais longos e acalorados
da Assembléia, que reuniu-se na Abadia de Westminster, em Londres, a
partir de 1º de julho de 1643. Os trabalhos se estenderam por cinco anos e
meio, durante os quais houve mais de mil reuniões do plenário e
centenas de reuniões de comissões e sub-comissões.
- Os escoceses: tão logo a Assembléia iniciou os
seus trabalhos, as forças parlamentares começaram a sofrer reveses
na guerra. O parlamento buscou o auxílio da Escócia, que concordou
em ajudar sob uma condição – que todos os membros da
Assembléia de Westminster e do parlamento assinassem um pacto solene
comprometendo-se a manter e defender a Igreja Presbiteriana da Escócia e
a reformar a igreja da Inglaterra e da Irlanda em sua doutrina, governo, culto e
disciplina, de acordo com a Palavra de Deus. Isso foi aceito. Os presbiterianos
escoceses também puderam enviar representantes à Assembléia
de Westminster, quatro pastores e dois presbíteros, que participaram dos
trabalhos sem direito a voto. Eles exerceram uma influência
desproporcional ao seu número. Logo que chegaram e foi assinado o pacto
solene (setembro de 1643), houve uma mudança radical no trabalho da
Assembléia. Até então, a idéia era revisar os
Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana. Agora, passou-se a fazer uma
reforma completa da igreja.
- Os documentos: a Assembléia de Westminster
caracterizou-se na somente pela erudição teológica, mas por
uma profunda espiritualidade. Gastava-se muito tempo em oração e
tudo era feito em um espírito de reverência. Cada documento
produzido era encaminhado ao parlamento para aprovação, o que
só acontecia após muita discussão e estudo. Os chamados
"Padrões Presbiterianos" elaborados pela Assembléia foram os
seguintes:
- Diretório do Culto Público: concluído em
dezembro de 1644 e aprovado pelo parlamento no mês seguinte. Tomou o lugar
do Livro de Oração Comum. Também foi preparado o
Saltério: uma versão métrica dos Salmos para uso no
culto (novembro de 1645).
- Forma de Governo Eclesiástico: concluída em 1644
e aprovada pelo parlamento em 1648. Instituiu a forma de governo presbiteriana
em lugar da episcopal, com seus bispos e arcebispos.
- Confissão de Fé: concluída em dezembro de
1646 e sancionada pelo parlamento em março de 1648.
- Catecismo Maior e Breve Catecismo:
concluídos no final de 1647 e aprovados pelo parlamento em março
de 1648.
- Conseqüências: com o auxílio dos escoceses,
as forças parlamentares derrotaram o rei Carlos I, que foi decapitado em
1649. O comandante vitorioso, Oliver Cromwell, assumiu o governo. Porém,
em 1660, Carlos II subiu ao trono e restaurou o episcopado na Igreja da
Inglaterra. Teve início nova era de perseguições contra os
presbiterianos. Na Escócia, a Assembléia Geral da Igreja
Presbiteriana adotou os Padrões de Westminster logo que foram aprovados,
deixando de lado os seus próprios documentos de doutrina, liturgia e
governo que vinham da época de John Knox. Isso é ainda mais
surpreendente diante do fato de que somente quatro pastores escoceses
participaram da Assembléia de Westminster (Alexander Henderson, Robert
Baillie, George Gillespie e Samuel Rutherford). As razões para isso foram
os méritos dos padrões de Westminster e o desejo de maior unidade
entre os presbiterianos das Ilhas Britânicas. Da Escócia, esses
padrões foram levados para outras partes do mundo.
Fonte: Walter L. Lingle, Presbyterians: Their History
and Beliefs (Richmond: John Knox Press, 1960).
- Os Padrões de Fé de Westminster:
Observação: em 1991, a Casa Editora Presbiteriana
publicou uma edição especial da Confissão de Fé e
dos Catecismos contendo, além do texto desses documentos, a
reprodução de todas passagens bíblicas pertinentes a cada
tópico.
- Confissão de Fé: compõe-se de 33
capítulos, que abordam os seguintes tópicos:
A Doutrina das Escrituras
1. Da Escritura Sagrada
A Doutrina de Deus (Ser e Obras)
2. De Deus e da Santíssima Trindade
3. Dos Decretos Eternos de Deus
4. Da Criação
5. Da Providência
A Doutrina da Salvação (Objetiva)
6. Da Queda do Homem, do Pecado e do seu Castigo
7. Do Pacto de Deus com o Homem
8. De Cristo o Mediador
9. Do Livre Arbítrio
A Doutrina da Salvação (Subjetiva)
10. Da Vocação Eficaz
11. Da Justificação
12. Da Adoção
13. Da Santificação
14. Da Fé Salvadora
15. Do Arrependimento para a Vida
16. Das Boas Obras
17. Da Perseverança dos Santos
18. Da Certeza da Graça e da Salvação
A Doutrina da Vida Cristã
19. Da Lei de Deus
20. Da Liberdade Cristã
21. Do Culto Religioso e do Domingo
A Doutrina do Cristão na Sociedade
22. Dos Juramentos Legais e dos Votos
23. Do Magistrado Civil
24. Do Matrimônio e do Divórcio
A Doutrina da Igreja
25. Da Igreja
26. Da Comunhão dos Santos
27. Dos Sacramentos
28. Do Batismo
29. Da Ceia do Senhor
30. Das Censuras Eclesiásticas
31. Dos Sínodos e dos Concílios
A Doutrina das Últimas Coisas
32. Do Estado do Homem depois da Morte e da Ressurreição dos
Mortos
33. Do Juízo Final
Apêndice
34. Do Espírito Santo
35. Do Amor de Deus
Observação quanto ao texto da Confissão de
Fé encontrado em A Confissão de Fé, o Catecismo Menor e
o Breve Catecismo: Exemplar do Líder, 1ª ed. especial
(São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1991):
Os Capítulos 34 e 35 foram acrescentados pela Igreja Presbiteriana
dos Estados Unidos da América (a Igreja do Norte) em 1903. A
seção intitulada "A Autoridade da Confissão de Fé e
dos Catecismos" (pág. 162-F) foi escrita pela Rev. John M. Kyle. (Ver a
"Nota Histórica" que consta de edições anteriores da
Confissão de Fé).
- Catecismo Maior: compõe-se de 196 perguntas e respostas
distribuídas em três seções:
1ª Parte: Da finalidade do ser humano, da
existência de Deus, da origem e da veracidade das Escrituras –
Perguntas 1-5
2ª Parte: O que o ser humano deve crer sobre Deus –
Perguntas 6-90
Deus ...................................... 6-8
Trindade ................................ 9-11
Decreto .......................... ....... 12-14
Criação .......................... ....... 15-17
Providência ........................... 18-20
Queda .................................... 21-29
Pacto ..................................... 30-35
Cristo, o Mediador ................ 36-56
Salvação ........................ ....... 57-61
Igreja ..................................... 62-65
União Vital ........................... 66, 69
Vocação Eficaz ..................... 67-69
Justificação ........................... 70-73
Adoção .................................. 74
Santificação ........................... 75-78
Perseverança .......................... 79-81
Últimas Coisas ....................... 82-90
3ª Parte: O que as Escrituras requerem do ser humano como seu
dever – Perguntas 91-196
A Lei de Deus ........................ 91-97
Os 10 Mandamentos .............. 98-148
Pecado ................................... 149-153
Meios de Graça ..................... 154
Palavra .................................. 155-160
Sacramentos .......................... 161-177
Oração ................................... 178-185
O Pai Nosso ................... ....... 186-196
(c) Breve Catecismo: possui 107 perguntas e respostas,
sintetizando os pontos mais importantes dos documentos maiores. Inclui uma
abordagem detalhada dos Dez Mandamentos (perguntas 41-81).
IV. O Presbiterianismo nos Estados
Unidos
- Os puritanos: o calvinismo chegou à América do
Norte com os puritanos ingleses que se radicaram em Massachusetts no
início do século XVII. O primeiro grupo fixou-se em Plymouth em
1620 e o segundo fundou as cidades de Salem e Boston em 1630. Nas décadas
seguintes, mais de 20 mil puritanos cruzaram o Atlântico em busca de
liberdade religiosa e novas oportunidades. Todavia, esses calvinistas optaram
pelo forma de governo congregacional, não pelo sistema presbiteriano.
- Grupos reformados: muitos calvinistas que aceitavam a forma de
governo presbiteriana vieram do continente europeu. Dentre os primeiros estavam
os holandeses que fundaram Nova Amsterdã (depois Nova York) em
1623. Os huguenotes franceses também foram em grande número
para a América do Norte, fugindo da perseguição religiosa
em sua pátria. Um numeroso contingente de reformados
alemães igualmente emigrou para os Estados Unidos entre 1700 e
1770. Esses imigrantes formaram as suas próprias
denominações e mais tarde muitos deles ingressaram na Igreja
Presbiteriana dos Estados Unidos.
- Os escoceses: muitos presbiterianos escoceses foram
diretamente da Escócia para os Estados Unidos nos primeiros tempos da
colonização. Todavia, foram os escoceses-irlandeses os
principais responsáveis pela introdução do presbiterianismo
naquele país. Durante o século XVIII, pelo menos 300 mil cruzaram
o Atlântico. Eles se radicaram principalmente em Nova Jersey,
Pensilvânia, Maryland, Virgínia e nas Carolinas. No oeste da
Pensilvânia, eles fundaram Pittsburgh, a cidade mais presbiteriana dos
Estados Unidos. O Rev. Ashbel G. Simonton era descendente desses
escoceses-irlandeses da Pensilvânia.
- Francis Makemie: No século XVII as comunidades
presbiterianas dos Estados Unidos viviam dispersas. Foi só no
início do século seguinte que elas começaram a unir-se em
concílios. Nesse esforço, destacou-se o Rev. Francis Makemie
(1658-1708), considerado o "pai do presbiterianismo americano." Ordenado na
Irlanda do Norte em 1683, ele foi logo em seguida para a América do
Norte. Makemie fundou diversas igrejas em Maryland e viajou extensamente
encorajando os presbiterianos. Como a Igreja Anglicana era a igreja oficial de
várias colônias, ele sofreu muitas perseguições.
Chegou mesmo a ser preso em Nova York em 1706.
- Organização: sob a liderança de Makemie,
foi organizado em 1706 o Presbitério de Filadélfia. Em
1717, organizou-se o Sínodo de Filadélfia, composto de
quatro presbitérios. Ao todo, a denominação tinha apenas
dezenove pastores, quarenta igrejas e cerca de três mil membros. Em 1729,
foi aprovado o "Ato de Adoção," que aprovou a Confissão de
Fé e os Catecismos de Westminster como padrões doutrinários
do Sínodo. De 1741 a 1758, os presbiterianos dividiram-se em dois grupos
por causa de diferenças acerca do avivamento e da educação
teológica: Ala Velha (Sínodo de Filadélfia) e Ala
Nova (Sínodo de Nova York).
- A Revolução: nesse período de
divisão, vários evangelistas notáveis como Samuel Davies,
Alexander Craighead e Hugh McAden trabalharam com grande êxito no sul do
país, especialmente na Virgínia e nas Carolinas. Durante a
Revolução Americana, os presbiterianos tiveram uma
atuação destacada. O Rev. John Witherspoon (1723-1794), um
escocês que foi presidente da Universidade de Princeton por vinte e cinco
anos, foi o único pastor que assinou a Declaração de
Independência dos Estados Unidos, em 1776. Muitos presbiterianos lutaram
na guerra da independência.
- A Assembléia Geral: em 1788, o Sínodo de Nova
York e Filadélfia dividiu-se em quatro (Nova York e Nova Jersey,
Filadélfia, Virgínia e Carolinas). No dia 21 de maio de 1789,
reuniu-se pela primeira vez a "Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana
dos Estados Unidos da América." Naquela época, a Igreja
Presbiteriana era a denominação mais influente do país. Em
1800, contava com 180 pastores, 450 igrejas e cerca de 20 mil membros.
- Crescimento: em 1801, presbiterianos e congregacionais
iniciaram um trabalho cooperativo conhecido como "Plano de União." O
objetivo era evangelizar com mais eficiência a população que
estava indo para o oeste, a chamada "fronteira." Foi esse o período do
avivamento conhecido como Segundo Grande Despertamento. O resultado foi
um avanço fenomenal. Em 1837, a Igreja Presbiteriana já contava
com 2140 pastores, quase 3000 igrejas e 220 mil membros. O Seminário
de Princeton foi fundado em 1812 (entre seus grandes professores estiveram
Archibald Alexander, Charles Hodge, A.A. Hodge e Benjamin B. Warfield).
- Divisões: devido a uma controvérsia sobre os
requisitos para a ordenação de ministros, surgiu em 1810 a
Igreja Presbiteriana de Cumberland, no Tennessee. Uma divisão mais
séria ocorreu entre os grupos conhecidos como Velha Escola e
Nova Escola, aquele sendo mais apegado aos padrões de Westminster
do que este. Em 1837, a Velha Escola obteve a maioria na Assembléia
Geral, cancelou o Plano de União de 1801 e excluiu quatro sínodos
inteiros, dividindo ao meio a denominação. Foi criada a Junta de
Missões Estrangeiras. Finalmente, em 1857 e 1861 ocorreram novas
divisões, desta vez ocasionadas pelo problema da escravidão. As
igrejas Nova Escola e Velha Escola do sul, favoráveis à
escravidão, separaram-se das do norte. Eventualmente, foram criadas duas
grandes denominações presbiterianas, a Igreja do Norte
(PCUSA) e a Igreja do Sul (PCUS), que enviaram muitos missionários
a todo o mundo, inclusive ao Brasil.
- O Século XX: em 1903, a PCUSA alterou levemente
três parágrafos da Confissão de Fé de Westminster e
acrescentou-lhe dois novos capítulos: um sobre o Espírito Santo e
outro sobre o amor de Deus e as missões. Mais controvertida foi uma
declaração acrescentada à Confissão que atenuou as
suas afirmações sobre os decretos de Deus. Nas décadas de
1920 e 1930, a PCUSA foi abalada pela controvérsia
modernista-fundamentalista. Em 1936, J. Gresham Machen, o líder dos
conservadores, fundou sua própria denominação – a
Igreja Presbiteriana Ortodoxa. Em 1957, a PCUSA fundiu-se com uma pequena
denominação presbiteriana, surgindo a Igreja Presbiteriana Unida
dos E.U.A. Apesar das dificuldades, a igreja continuou a crescer. Entre 1900 e
1957, o número de membros passou de um milhão para três
milhões. Finalmente, em 1983, após mais de um século de
separação, as igrejas do norte e do sul uniram-se para formar a
atual Igreja Presbiteriana (E.U.A.), de tendência liberal. Antes
disso, muitos elementos conservadores haviam deixado as igrejas-mães e
criado duas novas denominações: a Igreja Presbiteriana da
América (PCA, 1973) e a Igreja Presbiteriana Evangélica
(EPC, 1981).
V. Primórdios do
Calvinismo no Brasil
- Antes da chegada do Rev. Ashbel Simonton, alguns grupos e indivíduos
reformados estiveram no Brasil.
- Os franceses na Guanabara (1555-1567): no final de 1555,
chegou à Baía da Guanabara uma expedição francesa
comandada pelo vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon, para fundar
a "França Antártica." Esse empreendimento teve o apoio do
almirante huguenote Gaspard de Coligny, que seria morto no massacre do
dia de São Bartolomeu (24-08-1572).
- Em resposta a uma carta de Villegaignon, Calvino e a igreja de Genebra
enviaram um grupo de crentes reformados, sob a liderança dos pastores
Pierre Richier e Guillaume Chartier (1557). Fazia parte do grupo o sapateiro
Jean de Léry, que mais tarde estudou na Academia de Genebra e
tornou-se pastor (†1611). Ele escreveria um relato da
expedição, História de uma Viagem à Terra do
Brasil, publicado em Paris em 1578.
- Em 10 de março de 1557, esses reformados celebraram o primeiro culto
evangélico do Brasil e talvez das Américas. Todavia, pouco tempo
depois Villegaignon entrou em conflito com as calvinistas acerca dos sacramentos
e os expulsou da pequena ilha em que se encontravam.
- Alguns meses depois, os colonos reformados embarcaram para a França.
Quando o navio ameaçou naufragar, cinco deles voltaram e foram presos:
Jean du Bordel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques
le Balleur. Pressionados por Villegaignon, escreveram uma bela
declaração de suas convicções, a
"Confissão de Fé da Guanabara" (1558). Em seguida, os
três primeiros foram mortos e Lafon, o único alfaiate da
colônia, teve a vida poupada. Balleur fugiu para São Vicente, foi
preso e levado para Salvador (1559-67), sendo mais tarde enforcado no Rio de
Janeiro, quando os últimos franceses foram expulsos.
- A França Antártica é considerada como a primeira
tentativa de estabelecer tanto uma igreja quanto um trabalho missionário
protestante na América Latina.
- Os holandeses no Nordeste (1630-54): depois de uma
árdua guerra contra a Espanha, a Holanda calvinista conquistou a sua
independência em 1568 e começou a tornar-se uma das
nações mais prósperas da Europa. Pouco tempo depois,
Portugal caiu sob o controle da Espanha por sessenta anos – a chamada
"União Ibérica" (1580-1640).
- Em 1621, os holandeses criaram a Companhia das Índias
Ocidentais com o objetivo de conquistar e colonizar territórios da
Espanha nas Américas, especialmente uma rica região
açucareira: o nordeste do Brasil. Em 1624, os holandeses tomaram
Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano seguinte. Finalmente,
em 1630 eles tomaram Recife e Olinda e depois boa parte do Nordeste.
- O maior líder do Brasil holandês foi o príncipe
João Maurício de Nassau-Siegen, que governou o nordeste de
1637 a 1644. Nassau foi um notável administrador, promoveu a cultura, as
artes e as ciências, e concedeu uma boa medida de liberdade religiosa aos
residentes católicos e judeus.
- Sob os holandeses, a Igreja Reformada era oficial. Foram criadas vinte e
duas igrejas locais e congregações, dois presbitérios
(Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um sínodo, o
Sínodo do Brasil (1642-1646). Mais de cinquenta pastores ou
"predicantes" serviram essas comunidades.
- A Igreja Reformada realizou uma admirável obra missionária
junto aos indígenas. Além de pregação, ensino e
beneficência, foi preparado um catecismo na língua nativa. Outros
projetos incluíam a tradução da Bíblia e a futura
ordenação de pastores indígenas.
- Em 1654, após quase dez anos de luta, os holandeses foram expulsos,
transferindo-se para o Caribe. Os judeus que os acompanhavam foram para Nova
Amsterdã, a futura Nova York.
- Eventos posteriores: após a expulsão dos
holandeses, o Brasil fechou as suas portas aos protestantes por mais de 150
anos. Foi só no início dos século XIX, com a vinda da
família real portuguesa, que essa situação começou a
se alterar. Em 1810, Portugal e Inglaterra firmaram um Tratado de
Comércio e Navegação, cujo artigo XII concedeu
tolerância religiosa aos imigrantes protestantes. Logo, muitos
começaram a chegar, entre eles um bom número de reformados.
- Após a independência, a Constituição Imperial
(1824) reafirmou esses direitos, com algumas restrições. Em 1827
foi fundada no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa,
que veio a congregar, ao lado de luteranos, reformados alemães, franceses
e suíços.
- Um dos primeiros pastores presbiterianos a visitar o Brasil foi o Rev.
James Cooley Fletcher (1823-1901), que aqui chegou em 1851. Fletcher foi
capelão dos marinheiros que aportavam no Rio de Janeiro e deu
assistência religiosa a imigrantes europeus. Ele manteve contatos com D.
Pedro II e outros membros destacados da sociedade; lutou em favor da liberdade
religiosa, da emancipação dos escravos e da
imigração protestante. Ele escreveu o livro O Brasil e os
Brasileiros (1857), que foi muito apreciado nos Estados Unidos.
- Fletcher não fez nenhum trabalho missionário junto aos
brasileiros, mas contribuiu para que isso acontecesse. Foi ele quem influenciou
o Rev. Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah P. Kalley a virem para o
Brasil, o que ocorreu em 1855. Kalley fundou a Igreja Evangélica
Fluminense em 1858. No ano seguinte, chegou ao Rio de Janeiro o fundador da
Igreja Presbiteriana do Brasil, o Rev. Ashbel G. Simonton.
VI. História da Igreja Presbiteriana
do Brasil (1ª parte)
Atualmente, existem no Brasil várias denominações de
origem reformada ou calvinista. Entre elas incluem-se a Igreja Presbiteriana
Independente, a Igreja Presbiteriana Conservadora e algumas igrejas criadas por
imigrantes vindos da Europa continental, como suíços, holandeses e
húngaros. Todavia, a maior e mais antiga denominação
reformada do país é a Igreja Presbiteriana do Brasil. Sua
história divide-se em alguns períodos bem definidos:
1. Implantação (1859-1869).
O surgimento do presbiterianismo no Brasil resultou do pioneirismo e
desprendimento do Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867). Nascido em West
Hanover, na Pensilvânia, Simonton estudou no Colégio de Nova Jersey
e inicialmente pensou em ser professor ou advogado. Alcançado por um
reavivamento em 1855, fez sua profissão de fé e pouco depois
ingressou no Seminário de Princeton. Um sermão pregado por seu
professor, o famoso teólogo Charles Hodge, levou-o a considerar o
trabalho missionário no estrangeiro. Três anos depois,
candidatou-se perante a Junta de Missões da Igreja Presbiteriana dos
Estados Unidos, citando o Brasil como campo de sua preferência. Dois meses
após a sua ordenação, embarcou para o Brasil, chegando ao
Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859, aos 26 anos de idade.
Em abril de 1860, Simonton dirigiu o seu primeiro culto em português;
em janeiro de 1862, recebeu os primeiros membros, sendo fundada a Igreja
Presbiteriana do Rio de Janeiro. No breve período em que viveu no
Brasil, Simonton, auxiliado por alguns colegas, fundou o primeiro jornal
evangélico do país (Imprensa Evangélica, 1864),
criou o primeiro presbitério (1865) e organizou um seminário
(1867). O Rev. Simonton morreu vitimado pela febre amarela aos 34 anos, em 1867
(sua esposa, Helen Murdoch, havia falecido três anos antes).
Os principais colaboradores de Simonton nesse período foram: seu
cunhado Alexander L. Blackford, que em 1865 organizou as igrejas de
São Paulo e Brotas; Francis J. C. Schneider, que trabalhou entre os
imigrantes alemães em Rio Claro, lecionou no seminário do Rio e
foi missionário na Bahia; George W. Chamberlain, grande evangelista e
operoso pastor da Igreja de São Paulo. Os quatro únicos estudantes
do "seminário primitivo" foram também grandes obreiros: Antonio B.
Trajano, Miguel G. Torres, Modesto P. B. Carvalhosa e Antonio Pedro de Cerqueira
Leite.
Outras poucas igrejas organizadas no primeiro decênio foram as de
Lorena, Borda da Mata (Pouso Alegre) e Sorocaba. O homem
que mais contribuiu para a criação dessas e outras igrejas foi o
notável Rev. José Manoel da Conceição
(1822-1873), um ex-sacerdote que tornou-se o primeiro brasileiro a ser ordenado
ministro do evangelho (1865). Visitou incansavelmente dezenas de vilas e cidades
no interior de São Paulo, Vale do Paraíba e sul de Minas, pregando
o evangelho da graça.
2. Consolidação (1869-1888).
Simonton e seus companheiros eram todos da igreja presbiteriana do norte
dos Estados Unidos (PCUSA). Em 1869 chegaram os primeiros missionários da
igreja do sul (PCUS): George N. Morton e Edward Lane. Eles
fixaram-se em Campinas, região onde havia muitas famílias
norte-americanas que vieram para o Brasil após a Guerra Civil no seu
país (1861-65). Em 1870, Morton e Lane fundaram a igreja de Campinas e em
1873 o famoso, porém efêmero, Colégio Internacional. Os
missionários da PCUS evangelizaram a região da Mogiana, o oeste de
Minas, o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. O pioneiro em
várias dessas regiões foi o incansável Rev. John
Boyle.
Os obreiros da PCUS também foram os pioneiros presbiterianos no
nordeste e norte do Brasil (de Alagoas até a Amazônia). Os
principais foram John Rockwell Smith, fundador da igreja do Recife
(1878); DeLacey Wardlaw, pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W.
Butler, o "médico amado" de Pernambuco. O mais conhecido dentre os
primeiros pastores brasileiros do nordeste foi o Rev. Belmiro de Araújo
César, patriarca de uma grande família presbiteriana.
Enquanto isso, os missionários da igreja do norte dos Estados Unidos
também continuavam o seu trabalho, auxiliados por novos colegas. Seus
principais campos eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e
Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb; Rio de Janeiro, que inaugurou seu templo
em 1874, e Nova Friburgo, onde trabalhou o Rev. John M. Kyle; Paraná,
cujos pioneiros foram Robert Lenington e George A. Landes; e especialmente
São Paulo. Na capital paulista, o casal Chamberlain fundou em 1870 a
Escola Americana, que mais tarde veio a ser o Mackenzie College, dirigido
pelo educador Horace Manley Lane. No interior da província destacou-se o
Rev. João Fernandes Dagama, português da Ilha da Madeira. No Rio
Grande do Sul, trabalhou por algum tempo o Rev. Emanuel Vanorden, um judeu
holandês.
Entre os novos pastores "nacionais" desse período estavam Eduardo
Carlos Pereira, José Zacarias de Miranda, Manuel Antônio de
Menezes, Delfino dos Anjos Teixeira, João Ribeiro de Carvalho Braga e
Caetano Nogueira Júnior. As duas igrejas norte-americanas também
enviaram notáveis missionárias educadoras: Mary P. Dascomb,
Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper.
3. Dissensão (1888-1903).
Em setembro de 1888 foi organizado o Sínodo da Igreja
Presbiteriana do Brasil, que assim tornou-se autônoma, desligando-se
das igrejas-mães norte-americanas. O Sínodo compunha-se de
três presbitérios (Rio de Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e
Pernambuco) e tinha vinte missionários, doze pastores nacionais e 59
igrejas. O primeiro moderador foi o veterano Rev. Blackford. O Sínodo
criou o Seminário Presbiteriano, elegeu seus dois primeiros professores e
dividiu o Presbitério de Campinas e Oeste de Minas em dois: São
Paulo e Minas.
Nesse período a denominação expandiu-se grandemente,
com muitos novos missionários, pastores brasileiros e igrejas locais. O
Seminário começou a funcionar em Nova Friburgo no final de
1892 e no início de 1895 transferiu-se para São Paulo, tendo
à frente o Rev. John Rockwell Smith. O Mackenzie College ou
Colégio Protestante foi criado em 1891, sendo seu primeiro presidente o
Dr. Horace M. Lane. Por causa da febre amarela, o Colégio Internacional
foi transferido de Campinas para Lavras, e mais tarde veio a chamar-se
Instituto Gammon, numa homenagem ao seu grande líder, o Rev.
Samuel R. Gammon (1865-1928).
A primeira escola evangélica do nordeste foi o Colégio
Americano de Natal (1895), fundado por Katherine H. Porter, esposa do Rev.
William C. Porter. Na mesma época, a cidade de Garanhuns
começou a tornar-se um grande centro da obra presbiteriana. Além
do trabalho evangelístico, foram lançadas as bases de duas
importantes instituições educacionais: o Colégio Quinze de
Novembro e o Seminário do Norte, hoje sediado em Recife. No final desse
período, além de estar presente em todos os estados do nordeste, a
Igreja Presbiteriana chegou ao Pará e ao Amazonas.
No sul, foi iniciada a obra presbiteriana em Santa Catarina (São
Francisco do Sul e Florianópolis). A igreja também iniciou a sua
marcha vitoriosa no leste de Minas. O primeiro obreiro a residir em Alto
Jequitibá foi o Rev. Matatias Gomes dos Santos (1901). As igrejas de
São Paulo e do Rio de Janeiro passaram a ser pastoreadas por dois grandes
líderes, respectivamente Eduardo Carlos Pereira (1888) e
Álvaro Emídio G. dos Reis (1897).
Infelizmente, os progressos desse período foram em parte ofuscados
por uma grave crise que se abateu sobre a vida da igreja. Inicialmente,
surgiu uma diferença de prioridades entre o Sínodo e a Junta de
Missões de Nova York. O Sínodo queria apoio para a obra
evangelística e para instalar o Seminário, ao passo que a Junta
preferiu dar ênfase à obra educacional, principalmente
através do Mackenzie. Paralelamente, surgiram desentendimentos entre o
pastor da Igreja Presbiteriana de São Paulo, Rev. Eduardo Carlos Pereira,
e os líderes do Mackenzie, Horace M. Lane e William A. Waddell.
Com o passar do tempo, o Rev. Eduardo C. Pereira passou a tornar-se mais
radical em suas posições, perdendo o apoio até mesmo de
muitos dos seus colegas brasileiros. Como uma alternativa ao jornal de Eduardo,
O Estandarte, o Rev. Álvaro Reis criou O Puritano em 1899.
Em 1900 foi criada a Igreja Presbiteriana Unida, que resultou da
fusão de duas igrejas formadas por pessoas que haviam saído da
igreja do Rev. Eduardo. Na mesma época, um novo problema veio complicar
ainda mais a situação: o debate acerca da
maçonaria.
Em março de 1902, Eduardo C. Pereira e seus partidários
começaram a divulgar a sua Plataforma, com cinco tópicos sobre as
questões missionária, educativa e maçônica.
Após pouco mais de um ano de debates acalorados, a crise chegou ao seu
triste desfecho em 31 de julho de 1903, durante a reunião do
Sínodo. Após serem derrotados em suas propostas, Eduardo e seus
colegas desligaram-se do Sínodo e formaram a Igreja Presbiteriana
Independente.
VII. História da Igreja Presbiteriana do
Brasil (2ª parte)
4. Reconstituição (1903-1917).
No início de agosto de 1903, os independentes organizaram o
seu presbitério, com quinze presbíteros e sete pastores (Eduardo
C. Pereira, Caetano Nogueira Jr., Bento Ferraz, Ernesto Luiz de Oliveira,
Otoniel Mota, Alfredo Borges Teixeira e Vicente Temudo Lessa). Seguiu-se um
triste período de divisões de comunidades, luta pela posse de
propriedades, litígios judiciais. Uma pastoral do Presbitério
Independente chegou a vedar aos sinodais a Ceia do Senhor. O período mais
conflitivo estendeu-se até 1906. Nessa época, o Sínodo
contava com 77 igrejas e cerca de 6500 membros; em 1907, os independentes tinham
56 igrejas e 4200 comungantes.
O prédio do seminário, no Higienópolis, foi
ocupado sem solenidade em setembro de 1899. Os principais professores eram os
Revs. John R. Smith e Erasmo Braga (este a partir de 1901); o principal membro
da diretoria era o Rev. Álvaro Reis. Em fevereiro de 1907, o
seminário foi transferido para Campinas, ocupando a antiga propriedade do
Colégio Internacional. A primeira turma de Campinas só se formou
em 1912. Entre os formandos estavam Tancredo Costa, Herculano de Gouvêa
Jr., Miguel Rizzo Jr. e Paschoal Luiz Pitta. Mais tarde viriam Guilherme Kerr,
Jorge T. Goulart, Galdino Moreira e José Carlos Nogueira.
A obra presbiteriana crescia em muitos lugares. A primeira cidade
atingida no Leste de Minas foi Alto Jequitibá (Manhuaçu) e no
Espírito Santo, São José do Calçado. Os primeiros
pastores daqueles campos foram Matatias Gomes dos Santos, Aníbal Nora,
Constâncio Omero Omegna e Samuel Barbosa. No Vale do Ribeira, o
evangelista Willes R. Banks continuava em atividade; a família
Vassão daria grandes contribuições à igreja.
Em 1907, o Sínodo dividiu-se em dois (Norte e Sul) e em 1910 foi
organizada a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana do Brasil. O
moderador do último sínodo e instalador da Assembléia Geral
foi o veterano Modesto Carvalhosa, ordenado 40 anos antes. A Assembléia
Geral foi instalada na Igreja do Rio e o Rev. Álvaro Reis foi eleito seu
primeiro moderador. Os conciliares visitaram a Ilha de Villegaignon para lembrar
os mártires calvinistas e comemorar o 4º centenário do
nascimento de Calvino. Na época, a Igreja Presbiteriana do Brasil tinha
10 mil membros comungantes, outro tanto de menores e cerca de 150 igrejas em
sete presbitérios. As demais denominações tinham os
seguintes números: metodistas – 6 mil membros; independentes
– 5 mil; batistas – 5 mil; episcopais – cerca de mil. Em 1911,
a IPB enviou o seu primeiro missionário a Portugal, Rev. João da
Mota Sobrinho, que lá ficou até 1922.
Os missionários americanos continuam em plena atividade. A
Missão Sul da PCUS dividiu-se em Missão Leste (Lavras) e
Missão Oeste (Campinas) devido a divergências quanto ao lugar da
educação na obra missionária. O Rev. William Waddell fundou
uma influente escola em Ponte Nova, Bahia. Pierce Chamberlain trabalhou na Bahia
de 1899 a 1909. A obra presbiteriana no Mato Grosso começou nesse
período: os pioneiros foram os missionários Franklin Graham (1913)
e Philippe Landes (1915).
Em 1917, foi aprovado o Modus Operandi, um acordo entre a igreja e
as missões norte-americanas pelo qual os missionários
desligaram-se dos concílios da IPB, separando-se os campos nacionais
(presbitérios) dos campos das missões. Em 1924, pela primeira
reuniu-se a Assembléia Geral sem nenhum missionário como delegado
de presbitério.
5. Cooperação (1917-1932).
O maior líder presbiteriano desse período foi o Rev.
Erasmo Braga (1877-1932), professor do seminário e secretário
da Assembléia Geral. Em 1916, participou com dois colegas do Congresso de
Ação Cristã na América Latina, no Panamá.
Poucos anos depois, tornou-se o dinâmico secretário da
Comissão Brasileira de Cooperação, entidade que liderou um
grande esforço cooperativo entre as igrejas evangélicas do Brasil
na década de 1920. As principais áreas de cooperação
foram literatura, educação cristã e educação
teológica. Foi fundado o Seminário Unido no Rio de Janeiro, que
existiu até 1932.
Outros esforços cooperativos desse período foram: (1)
Instituto José Manoel da Conceição, fundado pelo
Rev. William A. Waddell na cidade de Jandira, perto de São Paulo (1928);
visava preparar os jovens que depois seguiriam para o seminário. (2)
Associação Evangélica de Catequese dos Índios
(1928), depois Missão Evangélica Caiuá: idealizada
pelo Rev. Albert S. Maxwell e instalada em Dourados, Mato Grosso; esforço
cooperativo das igrejas presbiteriana, independente, metodista e
episcopal.
O Seminário de Campinas correu o risco de ser extinto por
causa do Seminário Unido, mas finalmente superou a crise. Em 1921, o
Seminário do Norte foi transferido para o Recife. As principais
instituições educacionais das missões eram o
Colégio Agnes Erskine, em Recife; Colégio 15 de Novembro
(Garanhuns); Escola de Ponte Nova (Bahia); Colégio 2 de Julho (Salvador);
Instituto Gammon (Lavras); Instituto Cristão (Castro) e principalmente o
Mackenzie. Os principais periódicos presbiterianos eram O Puritano
e o Norte Evangélico.
Em 1924, a Assembléia Geral encerrou o trabalho missionário
em Lisboa. No mesmo ano, Erasmo Braga e alguns amigos fundaram a Sociedade
Missionária Brasileira de Evangelização em Portugal, que
enviou para aquele país o Rev. Paschoal L. Pitta e sua esposa
Odete. O casal ali esteve por quinze anos (1925-1940), regressando ao Brasil
devido à constante falta de recursos.
Em 1921, morreu o Rev. Antonio Bandeira Trajano. Com ele desapareceu a
primeira geração de obreiros presbiterianos no Brasil, os da
década de 1860. Outros obreiros falecidos nesse período
foram: Eduardo Carlos Pereira (1923), Álvaro Reis (1925), Carlota Kemper
(1927), Samuel Gammon (1928) e Erasmo Braga (1932).
XIII. História da Igreja Presbiteriana do
Brasil (3ª parte)
6. Organização (1932-1959).
- Neste período a IPB continuou a crescer e a aperfeiçoar a sua
estrutura, criando entidades voltadas para o trabalho feminino, mocidade,
missões nacionais e estrangeiras, literatura e ação social.
O período terminou com a comemoração do centenário
do presbiterianismo no Brasil.
- A igreja era constituída dos seguintes sínodos: (1)
Setentrional: estendia-se de Alagoas até a Amazônia, estando
o maior número de igrejas no Estado de Pernambuco; (2)
Bahia-Sergipe: criado em 1950, quando o Presbitério Bahia-Sergipe,
antigo campo da Missão Central, dividiu-se nos presbitérios de
Salvador, Campo Formoso e Itabuna; (3) Minas-Espírito Santo:
surgiu em 1946, abrangendo o leste de Minas e o Espírito Santo, a
região de maior crescimento da igreja; (4) Central: formado em
1928, incluía o Estado do Rio de Janeiro, bem como o sul e o oeste de
Minas Gerais; (5) Meridional: sínodo histórico (1910-47),
abrangia São Paulo, Paraná e Santa Catarina; (6) Oeste do
Brasil: foi formado em 1947, abrangendo todo o norte e oeste de São
Paulo. No final da década de 50, foram entregues pelas missões os
Presbitérios do Triângulo Mineiro, Goiás e Cuiabá.
- Nesse período, as missões norte-americanas continuaram
o seu trabalho: (1) PCUS: (a) Missão Norte: atuou no
nordeste, onde o principal obreiro foi o Rev. William Calvin Porter
(†1939); o campo mais importante era o de Garanhuns, onde estavam o
Colégio 15 de Novembro e o jornal Norte Evangélico; (b)
Missão Leste: atuou no oeste de Minas e depois em Dourados, Mato
Grosso, cuja igreja foi organizada em 1951. (c) Missão Oeste:
concentrou-se mais no Triângulo Mineiro, onde o casal Edward e Mary Lane
fundou em 1933 o Instituto Bíblico de Patrocínio. (2)
PCUSA: (a) Missão Central: seus principais campos eram
Ponte Nova/Itacira, a bacia do Rio São Francisco, o sul da Bahia e o
norte de Minas.; (b) Missão Sul: atuou no Paraná e Santa
Catariana, fundindo-se com a Missão Central por volta de 1937. O Rev.
Filipe Landes foi grande evangelista no Mato Grosso (norte e sul). Em Rio Verde,
Goiás, atuou o Rev. Dr. Donald Gordon.
- Trabalho feminino: as primeiras sociedades de senhoras surgiram em
1884-85 e as primeiras federações, na década de 1920. Os
primeiros secretários gerais do trabalho feminino foram o Rev. Jorge T.
Goulart e as sras. Genoveva Marchant, Blanche Lício, Cecília
Siqueira e Nady Werner. O primeiro congresso nacional reuniu-se na I. P.
Riachuelo, no Rio, em 1941; o segundo congresso realizou-se também no Rio
em 1954. A SAF em Revista foi criada em 1954.
- Mocidade: algumas entidades precursoras foram a
Associação Cristã de Moços (Myron Clark), o
Esforço Cristão (Clara Hough) e a União Cristã de
Estudantes de Brasil (Eduardo P. Magalhães). Benjamim Moraes Filho foi o
primeiro secretário do trabalho da mocidade (1938). O primeiro congresso
nacional reuniu-se em Jacarepaguá em 1946, quando foi criada a
confederação. Entre os líderes da época estavam
Francisco Alves, Jorge César Mota, Paulo César, Waldo
César, Tércio Emerique, Gutemberg de Campos, Paulo Rizzo e Billy
Gammon.
- Missões Nacionais: em 1940 foi organizada na I. P. Unida a
Junta Mista de Missões Nacionais, com representantes da IPB e das
missões norte-americanas. Entre os primeiros líderes estavam
Coriolano de Assunção, Guilherme Kerr, Filipe Landes, Eduardo
Lane, José Carlos Nogueira e Wilson N. Lício. Até 1958, a
Junta ocupou quinze regiões em todo o Brasil, com cerca de 150 locais de
pregação. Em 1950 foi criada a Missão Presbiteriana da
Amazônia.
- Missão em Portugal: os primeiros obreiros foram João da
Mota Sobrinho (1911-1922) e Paschoal Luiz Pitta (1925-1940). Em 1944 a IPB
assumiu o trabalho e foi criada a Junta de Missões Estrangeiras, com o
apoio das igrejas norte-americanas. Os primeiros missionários foram
Natanael Emerique, Aureliano Lino Pires, Natanael Beuttenmuller e Teófilo
Carnier.
- Outras organizações: (a) Casa Editora:
começou a ser organizada em 1945, no início da Campanha do
Centenário, sob a liderança do Rev. Boanerges Ribeiro. A primeira
sede foi instalada em dependências cedidas pela I. P. Unida, na Rua
Helvetia. (b) Orfanatos: em 1910, a Assembléia Geral
planejou um orfanato para Lavras; em 1919, passou a funcionar em Valença,
e em 1929 veio a ocupar uma propriedade da I. P. de Copacabana em
Jacarepaguá. O orfanato foi denominado Instituto Álvaro Reis. (c)
Conselho Interpresbiteriano (CIP): foi criado em 1955 para superintender
as relações da IPB com as missões e as juntas
missionárias dos Estados Unidos. Tinha mais autoridade que o "modus
operandi" de 1917.
- Outras igrejas: (a) Igreja Presbiteriana Independente: em
1957, foi criado o Supremo Concílio, com três sínodos, dez
presbitérios, 189 igrejas, 105 pastores e cerca de 30 mil membros
comungantes; O Estandarte continuava a ser o jornal oficial. No final dos
anos 30 houve um conflito teológico. Em 1942, um grupo de intelectuais
liberais (entre os quais o Rev. Eduardo P. Magalhães) retirou-se da IPI e
formou a Igreja Cristã de São Paulo. (b) Igreja Presbiteriana
Conservadora: foi fundada em 1940 pelos membros da Liga Conservadora da IPI.
Em 1957, contava com mais de vinte igrejas em quatro estados e tinha um
seminário. Seu órgão oficial é O Presbiteriano
Conservador. (c) Igreja Presbiteriana Fundamentalista: foi fundada em
1956 pelo Rev. Israel Gueiros, pastor da 1ª I. P. de Recife e ligado ao
Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (do fundamentalista
americano Carl McIntire).
- Neste período, a IPB participou de vários movimentos
cooperativos: Associação Evangélica Beneficente
(fundada por Otoniel Mota em 1928), Associação Cristã de
Beneficência Ebenézer (dirigida pelo Dr. Benjamin Hunnicutt),
Missão Evangélica Caiuá, Instituto José Manoel da
Conceição, Confederação Evangélica do Brasil
(fundada em 1934), Sociedade Bíblica do Brasil, Centro
Áudio-Visual Evangélico (CAVE, fundado em 1951) e Universidade
Mackenzie, transferida à IPB no início dos anos 60.
- Constituição da IPB: em 1924, foram aprovadas pequenas
modificações no antigo Livro de Ordem adotado quando da
criação do Sínodo, em 1888. Em 1937, entrou em vigor a nova
Constituição da Igreja (os independentes haviam aprovado a
sua três anos antes), sendo criado o Supremo Concílio. Houve
protestos do norte contra alguns pontos: diaconato para ambos os sexos,
"confirmação" em vez de "profissão de fé" e o nome
"Igreja Cristã Presbiteriana." Em 1950, foi promulgada um nova
Constituição e no ano seguinte o Código de
Disciplina e os Princípios de Liturgia.
- Estatística: em 1957, a IPB contava com seis sínodos,
41 presbitérios, 489 igrejas, 883 congregações, 369
ministros, 127 candidatos ao ministério, 89.741 membros comungantes e
71.650 não-comungantes. Os primeiros presidentes do Supremo
Concílio foram os Revs. Guilherme Kerr, José Carlos Nogueira,
Natanael Cortez, Benjamim Moraes Filho e José Borges dos Santos
Júnior.
- A Campanha do Centenário: foi lançada em 1946, tendo
como objetivos: avivamento espiritual, expansão numérica,
consolidação das instituições da igreja,
afirmação da fé reformada e homenagem aos pioneiros. A
Comissão Central do Centenário, organizada em 1948, enfrentou
muitas dificuldades. Após 1950, a campanha ganhou ímpeto. A
Comissão Unida do Centenário (IPB, IPI e I. Reformada
Húngara) planejou uma grande campanha evangelística (Edwyn Orr e
William Dunlap) que se estendeu por todo o país em 1952. Outras medidas:
criação do Museu Presbiteriano, Seminário do
Centenário e jornal Brasil Presbiteriano, resultante da
fusão de O Puritano e Norte Evangélico (1958). A
18ª Assembléia da Aliança Presbiteriana Mundial reuniu-se em
São Paulo de 27-07 a 06-08 de 1959. O lema do centenário foi: "Um
ano de gratidão por um século de bênçãos."
IX. Nossa Identidade
A fé reformada tem uma série de características e
ênfases que conferem aos presbiterianos uma identidade bem definida. Cinco
áreas são especialmente importantes:
- Doutrina: os presbiterianos crêem que uma
teologia correta, equilibrada e bíblica é essencial para a
vida do cristão. Todo crente, mesmo sem o saber, tem
concepções teológicas e essas concepções
irão influenciar todos os aspectos da sua vida cristã. Os
reformados não valorizam a teologia pela teologia, mas como um
instrumento para nos proporcionar um melhor conhecimento de Deus e do nosso
relacionamento com ele.
- O fundamento maior da fé reformada são as Escrituras do
Antigo e do Novo Testamento, nossa única regra de fé e
prática. Os documentos de Westminster (Confissão de
Fé e Catecismos) não tem a mesma autoridade que a Bíblia.
Eles são aceitos pelos presbiterianos como expressão
histórica do seu entendimento da fé cristã e como um
roteiro ou auxílio para o estudo das Escrituras.
- A fé reformada abraça três categorias de
doutrinas: (a) algumas delas são aceitas por todos os cristãos,
como a trindade, o caráter divino-humano de Jesus Cristo, a sua
ressurreição, sua morte expiatória, a segunda vinda, etc.
– essencialmente, as verdades afirmadas pelos grandes concílios da
igreja antiga, nos séculos IV e V; (b) outras doutrinas são as que
temos em comum com as demais igrejas protestantes ou evangélicas: as
Escrituras como única regra de fé e prática, a
suficiência da obra redentora de Cristo, a salvação
exclusivamente pela graça mediante a fé, o sacerdócio
universal dos crentes, os sacramentos do batismo e da santa ceia, etc.; (c)
finalmente, existem aquelas doutrinas e práticas mais específicas
dos presbiterianos, como a ênfase na absoluta soberania de Deus, a
conseqüente crença na eleição ou
predestinação, o batismo por "aspersão" e o batismo
infantil, e a forma de governo presbiterial.
- Por causa da sua ênfase nas Escrituras e na boa teologia, os
reformados tem dado grande valor à educação, tanto
para as pessoas em geral, quanto para os seus pastores – os ministros da
Palavra. Essa preocupação intelectual nunca deve ocorrer às
expensas da vida espiritual (estudo + devoção).
- Culto: o reconhecimento da soberania do Senhor e a
preocupação com a sua glória devem ter reflexos sobre o
culto, a expressão mais visível e central da vida coletiva da
igreja. Calvino acentuou os seguintes princípios para o culto:
integridade bíblica e teológica (lex orandi, lex credendi),
equilíbrio entre estrutura/forma e essência, inteligibilidade,
edificação, simplicidade (sem pompa, teatralismo), flexibilidade
(p.e., freqüência da Ceia do Senhor), participação
congregacional (cânticos, salmos metrificados).
- O objetivo principal do culto é exaltar e glorificar a Deus, e
não agradar os participantes. Daí a necessidade de
reverência. O culto também visa suprir necessidades
legítimas da congregação. Disso decorre a importância
da pregação no culto reformado. A pregação
autêntica deve ser bíblica, doutrinária e prática,
isto é, relacionada com a vida. O culto deve refletir um saudável
equilíbrio entre intelecto e sentimento, mente e coração.
Um belo exemplo desse equilíbrio foi a vida do pastor e teólogo
reformado Jonathan Edwards (1703-1758).
- Vida Comunitária: a identidade presbiteriana
também deve manifestar-se na maneira como os irmãos vivem e se
relacionam na comunidade da fé. Os reformados crêem firmemente no
sacerdócio de todos os fiéis, ou seja, todos os crentes são
iguais em sua dignidade e direitos. Não existe distinção
entre clero e leigos: todo crente é um ministro de Deus. Os
ofícios instituídos na igreja (pastor, presbítero,
diácono) visam apenas dar maior ordem e estabilidade ao trabalho e suprir
necessidades nas áreas de liderança, assistência espiritual
e beneficência.
- O sistema presbiteriano é democrático e representativo. Todos
os membros comungantes da igreja tem o direito e o dever de envolver-se nas
atividades e decisões da comunidade, participando das assembléias,
elegendo oficiais, contribuindo para o sustento da igreja e seus programas,
servindo em diferentes áreas conforme os dons e capacidades de cada um. O
conceito do pacto tem muitas implicações para a vida familiar e
eclesial.
- A tradição reformada também dá grande valor
à participação do crente na comunidade mais ampla, a
sociedade. Calvino, a partir das suas convicções teológicas
e da sua experiência em Genebra, insistiu que o cristão deve viver
responsavelmente no mundo, como cidadão, como profissional e em outras
capacidades. Deus é o senhor de todas as coisas; portanto, todas as
esferas da vida devem refletir os valores do seu reino.
- Missão: os presbiterianos reconhecem que Deus chama os
seus filhos e filhas para uma missão junto à sociedade e ao mundo.
Essas missão tem duas dimensões primordiais:
- Evangelização: desde o princípio, os calvinistas
tiveram uma forte preocupação missionária, primeiramente na
Europa e mais tarde em outras partes do mundo. Foi graças a essa
preocupação que nasceu a Igreja Presbiteriana do Brasil. No que
diz respeito ao mundo, a missão maior da igreja é compartilhar o
evangelho da graça e da glória de Deus com aqueles carentes de
reconciliação, perdão e vida eterna. A crença na
eleição não é um empecilho, mas um incentivo para a
evangelização. Alguns dos maiores evangelistas e
missionários do mundo foram calvinistas, como os pregadores ingleses
George Whitefield (1714-1770) e Charles H. Spurgeon (1834-1892), o pioneiro das
Novas Hébridas John Paton (1824-1907), a missionária em Calabar,
África Ocidental, Mary Slessor (1848-1915) e o missionário aos
muçulmanos Samuel M. Zwemer (1867-1952).
- Serviço: Calvino e seus herdeiros sempre deram muita
importância ao serviço cristão ou diaconia. Seguindo o
exemplo de Cristo, o crente deve ser instrumento de Deus para ministrar a todos
os tipos de necessidades humanas, ao ser humano integral: corpo, mente e
espírito. Isso é tão importante que as igrejas reformadas
têm uma classe de oficiais dedicados especificamente às atividades
beneficentes: os diáconos. Todavia, o serviço cristão
é dever de todo crente. Historicamente, os reformados têm se
envolvido em muitas iniciativas de socorro aos sofredores e carentes, e
têm se mobilizado para transformar situações de
injustiça e opressão.
- Ética: uma outra área importante para a vida
reformada diz respeito aos valores. O cristão é chamado para uma
vida de santidade e integridade na sua relação com Deus, com a
igreja e com a sociedade, naquilo que ele é e faz. Não se pode
dissociar a ética pessoal da ética social. Se um crente não
é íntegro individualmente, dificilmente poderá lutar pela
justiça, honestidade e transparência na vida política,
econômica e social do país. Esse é outro elemento importante
para a identidade presbiteriana, em um mundo cada vez mais carente de
padrões firmes e seguros. Mais uma vez, o fundamento de tudo está
na soberania e na graça de Deus.
Leituras
Recomendadas:
Biéler, André, O Pensamento Econômico e Social de
Calvino, trad. Waldyr C. Luz (São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1990).
Biéler, André, El Humanismo Social de Calvino (Buenos
Aires: Editorial Escaton, 1973).
Calvino, João, As Institutas ou Tratado da Religião
Cristã, 4 vols., trad. Waldyr Carvalho Luz (São Paulo: Casa
Editora Presbiteriana, 1985-1989).
Carlson, Paul, Our Presbyterian Heritage (Elgin, Illinois: David C.
Cook, 1973).
Ferreira, Wilson Castro, Calvino: Vida, Influência e Teologia
(Campinas: Luz Para o Caminho, 1985).
George, Timothy, A Teologia dos Reformadores (São Paulo: Vida
Nova).
Lingle, Walter L., Presbyterians: Their History and Beliefs
(Richmond: John Knox, 1960).
Lopes, Augustus Nicodemus, Calvino e a Responsabilidade Social da Igreja
(São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas).
Matos, Alderi S., "Amando a Deus e ao Próximo: João Calvino e
o Diaconato em Genebra," Fides Reformata II/2 (Julho-Dezembro 1997),
69-88.
Parker, T.H.L., Calvin: An Introduction to his Thought (Louisville:
Westminster/John Knox, 1995).
Souza, Manoel B. de, Porque Somos Presbiterianos, 2ª ed. (Rio
de Janeiro: Edições Princeps, 1963).
Reid, W. Stanford, Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental
(São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990).
Van Halsema, Thea B., João Calvino Era Assim (São
Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968).