Cavernas e Tronos
“Cavernas não são o
lugar ideal para levantar o moral.
Escura.
Molhada. Fria. Mal cheirosa...
uma caverna
se torna ainda pior quando você está sozinho.
Mas no fundo daquela caverna,
Davi,
enquanto rimava cada nota com uma
lágrima,
tornou-se o maior
encorajador de corações
quebrantados
que este mundo jamais
conheceu”.
Um Conto de
Três Reis – Um Estudo sobre
Quebrantamento
Gene
Edwards
Ora no trono, ora na caverna. Esta parece ser a
terrível sina do ministério pastoral.
No trono, há o poder, a honra, o
reconhecimento e a indisfarçável sensação que
chegamos lá onde queríamos desde o ínicio; o nosso destino
apelidado de vocação encontra seu
pedestal.
Na caverna, há o medo, a
solidão, o questionamento e a irresistível certeza que perdemos o
rumo traçado desde o começo; a nossa vocação
renomeada destino encontra seu túmulo.
Parece não haver meio termo, equilíbrio, constância. Dos
pratos largos da crise e do sucesso servimo-nos de grandes porções
e a grandes goles bebemos ora do vinho da fama, ora do vinagre do fracasso. Tudo
parece exagerado: nos embriagamos no vinho do sucesso e destilamos
arrogância e auto-suficiência e, algumas vezes, nos envenenamos no
vinagre da derrota e vomitamos angústia e
desolação.
Quem nunca esteve no trono
e na caverna? Não ao mesmo tempo, por certo, mas quase imediatamente um
após o outro, sem importar a ordem dos fatores, embora verdadeiro seja
Salomão ao dizer que “o orgulho precede a queda”, fazendo a
sala do trono a ante-sala da caverna.
No
“Depósito das Vocações Desconhecidas” há
sempre dois elemntos da mesma multiforme natureza dAquele que
chama:
O seu poder para subjugar exércitos,
envergonhar os inimigos e cumprir a vontade de Deus na terra. Quem recebe uma
larga porção de tal poder, certamente será conhecido na
terra por muitos. Seu verdadeiro caráter será conhecido, isto
é, revelado por tal poder, pois tem a capacidade de mesmo tocando o
exterior das pessoas, manifestar o que há de melhor ou pior no mais
profundo de suas almas.
A segunda face é
mais uma herança do que um presente que se recebe. O presente
frequentemente é usado naquela parte do homem que todos podem ver, mas
tal herança é plantado lá dentro como uma semente, que
cresce e enche todo o homem de dentro para fora. Verdadeiramente, eis aí
o único elemento no universo conhecido por Deus e pelos anjos que pode
mudar um coração humano: a
graça.
O primeiro elemento é costumaz
frequentador da sala do trono, pois se alimenta daqueles sentimentos que
proliferam no nosso coração quando sentamos no trono. O segundo
só se revela na solidão das cavernas, porque inspirando suspiros
confinados é capaz de exalar sopros
renovados.
A verdade, todavia, é que Deus
não nos chamou para nos escondermos em cavernas, nem para reinarmos em
tronos. Entre o trono e a caverna é que encontramos o nosso habitat e a
nossa realização vocacional. No altar da oração, nas
páginas da palavra, na mesa da comunhão e nas ruas do
serviço podemos fugir do tentador magnetismo do trono e nos libertar das
espessas teias da caverna; não são estes que chamamos “meios
de graça”?
Seja no trono ou na caverna
o lugar onde você está, saiba, companheiro, que não
está sozinho. Há milhares de testemunhas vivas e mortas, terrenas
e celestiais, que antecipam o momento em que você sairá do trono ou
da caverna para, mais uma vez, dizer: “Sim, Senhor. Eis-me aqui. Envia-me
a mim”.
Aí, então, o milagre
acontecerá de novo: o Deus que tudo pode e de ninguém precisa lhe
revestirá do poder que só o trono parecia lhe oferecer e da
graça que só a caverna parecia ter.
Robinson G.
Monteiro