Os Filhos de Deus e a Cultura
Popular
Mauro Meister
Quando Deus determinou criar a raça humana, ele estabeleceu alguns
propósitos e parâmetros para um bom relacionamento entre criador e
criatura. Esses propósitos e parâmetros são descritos pela
Bíblia e por nossa teologia na forma de uma aliança. Deus fez uma
aliança com a criatura e estabeleceu pelo menos três diferentes
mandatos para a humanidade: o mandato espiritual (seu relacionamento com o
Criador), o mandato social (seu relacionamento em família) e o mandato
cultural (seu relacionamento com a sociedade). Não estarei surpreendendo
ninguém se disser que quebramos os três! O homem negou seu Criador,
desobedecendo suas ordens, quebrou os seus elos familiares com mentiras,
acusações e esquivando-se de suas responsabilidades (Adão e
Eva - marido e esposa - Caim e Abel -irmãos) e desenvolveu o mandato
cultural da pior forma possível (poligamia, assassinato, brutalidade,
etc.). Por curiosidade, verifique Gênesis 4:17-23. Coisas boas
aconteceram, mas as ruins... prevaleceram.
Este artigo vai tratar do problema da quebra do terceiro mandato – o
cultural. Como os cristãos podem e devem relacionar-se com o que tem
acontecido no nosso mundo? Quais devem ser os nossos limites e a nossa
influência na cultura em que vivemos? O que de fato tem acontecido com os
cristãos na modernidade?
É fundamental que, antes de mais nada, o cristão
conheça a sua cidadania: "Eles continuam no mundo... Eles não
são do mundo..." (João 17:11,16). Nós somos cisadãos
dos céus, mas as nossas passagens para lá ainda não
chegaram, e enquanto estamos aqui temos muito o que fazer, sem no entanto
esquecermos que somos de lá. O problema é que além de
sermos muitos parecidos com o pessoal do lado de cá, muitas vezes nos
deixamos influenciar com os erros do mundo, desobedecendo o mandato
cultural.
Observando o que acontece nos Estados Unidos, de onde as missões que
nos trouxeram o evangelho saíram, pode-se observar como as coisas
estão se deteriorando rapidamente, e mais rápido ainda, chegando
aqui. Ao contrário do nosso Brasil, os Estados Unidos nasceram de ideais
religiosos, recebendo forte influência da Palavra de Deus. Hoje é
proibido falar em Deus nas escolas públicas (professores que por ventura
o façam correm o risco de ser demitidos); o mesmo povo que luta por
salvar as baleias (o que se deve fazer), luta pela legalização do
aborto e igualdade para os homossexuais (algo semelhante acontecendo no Brasil
em 1997/98?). Onde chegamos!? Ora, estes são apenas exemplos dos
extremos. Muitas coisas bem pequeninas tem influenciado comunidades inteiras de
cristãos (estou falando de verdadeiros cristãos e não dos
que apenas se chamam assim), e essas pequenas influências vão se
tornando imensos tropeços. Por favor não me entenda mal.
Não estou defendendo nenhum isolacionismo cristão (a
história já comprovou que os monastérios não
funcionam). Isto é errado. Mas penso que os cristãos precisam
conhecer melhor o terreno em que estão pisando.
Como esta influência nos assalta? Já que nos livramos dos
perigos de imperadores malucos como Nero e de ameaças terríveis
como o Coliseu (a propósito, não há evidências claras
de que cristãos tenham morrido no Coliseu), como livrar-nos da má
influência cultural? (por favor, não é livrar-se da cultura,
mas do que é podre nela). Em primeiro lugar, entendendo-a (devo estas
idéias ao Dr. Kenneth Meyer em seu livro All God's Children and Blue
Suede Shoes ["Todos os Filhos de Deus e Sapatos Azuis de Veludo" esta
última parte referindo-se a uma música muito popular cantada por
Elvis Presley] e ao Dr. David Wells, preletor no Francis Schaeffer Institute,
Covenant Theological Seminary, Saint Louis, EUA, em setembro de 1992).
O grande problema que temos ao enfrentar a chamada "cultura popular"
é que na verdade somos moldados por ela, não só naquilo que
pensamos e sentimos, mas na forma como pensamos e sentimos. Como isso
aconteceu?
Primeiro, filosoficamente. O fato é que os "grandes
filósofos" conseguiram destruir toda a base para que o homem continue
crendo em verdades absolutas. Tudo é relativo tudo é meia-verdade
(não meia-mentira). Nos meios sociais a idéia de "contar uma
mentirinha de vez em quando" é muito comum, afinal, foi por uma boa
causa, não é mesmo? A cultura moderna apresenta um boa
oportunidade para muitos aproveitarem e serem 'meio-cristãos' (precisamos
urgentemente de uma teologia da meia-salvação, se é que
já não inventaram). Portanto, nosso primeiro grande problema
diante da cultura popular é a relativização da
verdade.
Em segundo lugar, a cultura popular especializou-se em oferecer-nos
gratificação instantânea (depois da Polaroid, o que falta
inventar - lembranças eternas reveladas instantaneamente - nem acabamos
de viver o momento e já o trocamos pela foto). Nós,
cristãos modernos, estamos mergulhados na nossa cultura sem perceber o
que de mal ela pode nos fazer. Faça um auto-teste de QCP (Quociente de
Cultura Popular).
Se você for comprar uma TV, você prefere com controle ou sem
controle? Se for fazer compras, qual a loja lhe chama mais a
atenção, a loja com entrega imediata ou sem entrega imediata? Se
for a um restaurante, prefere um com bufê ou aquele demorado a
la carte? O telefone, sem fio ou com fio? (eu sempre preferi os primeiros).
Faça as contas de quantos aparelhos de TV, rádios, gravadores,
vídeo cassetes, CDs, PCs, Fax, telefones e demais controles remotos
você tem em casa. Por aí dá prá se tirar uma
idéia. O ter estas coisas todas não é o mal, deixar que
elas moldem seus desejos é muito ruim. Se eu posso ter isto
imediatamente, por que deixar para amanhã? (a mesma idéia da
cultura inflacionária). Ora, tudo isto que a cultura Pop nos oferece
matou outros valores que certamente demandam mais tempo. Por exemplo, por que
perder tempo lendo um livro se eu posso ver o filme? E o pior, por que fazer
algo que demanda da minha mente se eu tenho quem pensa por mim?
Aqui está, creio eu, o grande perigo para todos os cristãos
com alto QCP. A cultura popular não só se especializou em
gratificação imediata como também em moldar a mente daquele
a quem gratifica. Ela lhe diz o que é bom e você perde o direito de
pensar e analisar o que é realmente bom e agrada a Deus.
A cultura da gratificação instantânea invadiu a igreja!
Esta foi a última arma do inimigo para destruir os filhos de Deus, e tem
funcionado bem. Já há algum tempo temos as igrejas
instantâneas, os crentes instantâneos, as curas instantâneas,
líderes instantâneos, tudo instantâneo. Nada pode esperar, e
tudo tem que ser como eu quero. As conseqüências são
óbvias: não só a igreja tem que ser como eu a quero, com
todo o tipo de gratificação instantânea que a cultura
popular oferece, mas o Deus desta igreja tem que ser também moldado
à imagem e semelhança da minha cultura. Não é de se
admirar que o nosso povo ande tão confuso.
Não sei se este artigo vai ajudá-lo a entender um pouco de si
mesmo e das coisas que lhe cercam. Porém recomendo: não espere
entender tudo instantaneamente... Prá terminar, posso dizer que as
respostas a estes problemas todos não aparecem instantaneamente, mas
somente quando observamos as palavras de Paulo em Romanos 12:2 - "E não
vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus."