Sola Scriptura
Alderi Souza de Matos
- Princípios da Reforma: sola gratia, sola fides,
solus Christus, sacerdócio universal dos fiéis, sola
Scriptura.
- Sola Scriptura: somente a Escritura é a suprema
autoridade em matéria de vida e doutrina; só ela é o
árbitro de todas as controvérsias (= a supremacia das Escrituras).
Ela é a norma normanda ("norma determinante") e não a
norma normata ("norma determinada") para todas as decisões de
fé e vida.
- A autoridade da Escritura é superior à da Igreja e da
tradição. Contra a afirmação católica: "a
igreja ensina" ou "a tradição ensina," os reformadores afirmavam:
"a Escritura ensina."
- A experiência pessoal dos reformadores com as Escrituras e com
o Cristo revelado nas Escrituras. Lutero: "Quando eu estava com 20 anos de
idade, eu ainda não havia visto uma Bíblia. Eu achava que
não existiam evangelhos ou epístolas exceto as que estavam
escritas nas liturgias dominicais. Finalmente, encontrei uma Bíblia na
biblioteca e levei-a comigo para o mosteiro. Eu comecei a ler, reler e ler tudo
novamente, para grande surpresa do Dr. Staupitz."
- Para os reformadores, a Bíblia não era um livro de doutrinas e
proposições a serem aceitas intelectualmente ou mediante a
autoridade da igreja, mas uma revelação direta, viva e pessoal de
Deus, acessível a qualquer pessoa.
- Daí a preocupação de colocar as Escrituras nas
línguas vernaculares. Lutero e sua tradução no
castelo de Wartburgo. Calvino e sua introdução ao Novo Testamento
francês de seu primo Robert Olivétan (1535).
- A autoridade das Escrituras é intrínseca: a Igreja
não confere autoridade às Escrituras, mas apenas a reconhece. Essa
autoridade decorre da origem divina das Escrituras.
- Existem evidências internas e externas da inspiração e
divina autoridade das Escrituras, mas estes atributos não são
passíveis de "prova." A única evidência que importa é
o "testemunho interno do Espírito" no coração do
leitor. Ênfase de Calvino: "A menos que haja essa certeza [pelo testemunho
do Espírito], que é maior e mais forte que qualquer juízo
humano, será fútil defender a autoridade da Escritura
através de argumentos, ou apoiá-la com o consenso da Igreja, ou
fortalecê-lo com outros auxílios. A menos que seja posto este
fundamento, ela sempre permanecerá incerta" (8.1.71).
- A Igreja não se coloca acima da Escritura pelo fato de ter definido o
seu cânon (Novo Testamento). A Igreja apenas reconheceu o que
já era aceito há muito tempo pelos cristãos. Paralelo: a
observância do domingo e sua oficialização por Constantino.
A afirmação de que a igreja estabeleceu o cânon é
verdadeira; mas o evangelho estabeleceu a igreja, e a autoridade da Escritura
não está no cânon, mas no evangelho.
- Não foi a igreja que formou a Escritura, mas vice-versa. A Igreja
está edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e profetas" (Ef
2:20), ou seja, o evangelho, que está contido nas Escrituras e é a
sua essência. Lutero: a igreja, longe de ter prioridade sobre a Escritura,
é na realidade uma criação da Escritura, nascida do ventre
da Escritura.
- Por isso, Cristo é o centro e a chave das Escrituras
(ênfase especial dos reformadores). A Escritura se interpreta a si mesma
("analogia da Escritura"), sempre à luz do princípio
cristológico. A mensagem central da Bíblia, o evangelho, é
a única chave para a interpretação bíblica.
- Essa ênfase cristocêntrica, levou Lutero a estabelecer
distinções entre os livros da Bíblia. Nem todos revelam a
Cristo com igual clareza. Os evangelhos e Paulo o fazem de maneira profunda.
Já a carta de Tiago tem uma limitada ênfase cristológica
("epístola de palha").
- A interpretação alegórica e os múltiplos
sentidos atribuídos à Escritura, obscurecem a sua mensagem. Os
reformadores deram ênfase ao sentido comum, histórico-gramatical.
- Os "entusiastas" estavam errados ao apelarem para
revelações diretas fora das Escrituras. O Espírito Santo
é o autor último das Escrituras, o inspirador dos profetas e
apóstolos. Ele não pode contradizer-se.
- Por outro lado, o "princípio do livre exame" não
significa interpretar as Escrituras de modo subjetivo e exclusivista. É
preciso levar em conta a história e o testemunho da Igreja. Os
reformadores não sentiram a necessidade de abandonar os credos do
cristianismo antigo e o testemunho dos Pais da Igreja. Todos estes,
porém, devem ser julgados e avaliados pela Escritura.
- Lutero nada sabia de um conhecimento puramente objetivo, desinteressado ou
erudito da Bíblia. "A Palavra de Deus é viva. Isto significa que
ela vivifica aqueles que nela crêem. Portanto, devemos correr para ela
antes de perecermos e morrermos." A experiência é necessária
para o entendimento da Palavra: esta não deve ser simplesmente repetida
ou conhecida, mas vivida e sentida. Na Escritura o Deus vivo e verdadeiro sempre
confronta o leitor em julgamento e graça.
- Alguns textos relevantes: Sl 19:7-11; Sl 119; Jo 5:39; Rm 15:4; 2 Tm
3:16-17.