O Protestantismo Brasileiro no Período Republicano
 
Alderi Souza de Matos
Situação Geral
  1. A Proclamação da República
Art. 1º – É proibido à autoridade federal, assim como à dos estados federados, expedir leis, regulamentos ou atos administrativos, estabelecendo alguma religião, ou vedando-a, e criar diferenças entre os habitantes do país, ou nos serviços sustentados à custa do orçamento, por motivo de crenças ou opiniões filosóficas ou religiosas.
Art. 2º – A todas as confissões religiosas pertence por igual a faculdade de exercerem o seu culto, regerem-se segundo a sua fé e não serem contrariadas nos atos particulares ou públicos que interessem ao exercício deste decreto.
Art. 3º – A liberdade aqui instituída abrange não só os indivíduos nos atos individuais, senão também as igrejas, associações e institutos em que se acharem agremiados, cabendo a todos o pleno direito de se constituírem e viverem coletivamente, segundo o seu credo e a sua disciplina, sem intervenção do poder público.
Art. 4º – Fica extinto o padroado com todas as suas instituições, recursos e prerrogativas. (...)
2. Conflitos
3. Mobilização Protestante
4. Tensões Internas
5. Situação Atual
I. Primeiro Período (1889-1930)
1. Igreja Congregacional
2. Igreja Presbiteriana.
3. Igreja Presbiteriana Independente.
4. Igreja Metodista.
5. Igreja Batista.
6. Igreja Luterana.
7. Igreja Episcopal.
II. Segundo Período (1930-1964)
  1. Congregação Cristã no Brasil: foi fundada pelo italiano Luigi Francescon (1866-1964). Radicado em Chicago, foi membro da Igreja Presbiteriana Italiana e aderiu ao pentecostalismo em 1907. Em 1910 (março-setembro) visitou o Brasil e iniciou as primeiras igrejas em Santo Antonio da Platina (PR) e São Paulo, entre imigrantes italianos. Veio 11 vezes ao Brasil até 1948. Em 1940, o movimento tinha 305 "casas de oração" e dez anos mais tarde 815.
 
  1. Assembléia de Deus: a Assembléia de Deus brasileira foi fundada pelos suecos Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar Vingren (1879-1933). Originalmente batistas, abraçaram o pentecostalismo em 1909 nos Estados Unidos. Conheceram-se numa conferência pentecostal em Chicago. Assim como Luigi Francescon, Berg foi influenciado pelo pastor batista W.H. Durham, que participou do avivamento de Los Angeles (1906). Sentindo-se chamados para trabalhar no Brasil, chegaram a Belém em novembro de 1910. Seus primeiros adeptos foram membros de uma igreja batista com a qual colaboraram.

  1. Igreja do Evangelho Quadrangular: foi fundada nos Estados Unidos pela evangelista Aimee Semple McPherson (1890-1944). O missionário Harold Williams fundou a primeira IEQ do Brasil em novembro de 1951, em São João da Boa Vista. Em 1953 teve início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo Raymond Boatright o principal evangelista. A igreja enfatiza quatro aspectos do ministério de Cristo: aquele que salva, batiza com o Espírito Santo, cura e virá outra vez. As mulheres podem exercer o ministério pastoral.

  1. Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo: foi fundada por Manoel de Mello, um evangelista da Assembléia de Deus que depois tornou-se pastor da IEQ. Separou-se da Cruzada Nacional de Evangelização em 1956, organizando a campanha "O Brasil para Cristo," da qual surgiu a igreja. Filiou-se ao Conselho Mundial de Igrejas em 1969 e desligou-se em 1986. Em 1979 inaugurou seu grande templo em São Paulo, sendo orador oficial Philip Potter, secretário-geral do CMI. Na inauguração, esteve presente o cardeal arcebispo de São Paulo, D. Paulo Evaristo Arns. Manoel de Mello morreu em 1990.
  1. Congregacional: os congregacionais uniram-se à Igreja Cristã Evangélica em 1942, formando a União das Igrejas Congregacionais e Cristãs do Brasil. Separaram-se em 1969, tomando o nome de União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. A outra ala dividiu-se em duas, a Igreja Cristã Evangélica no Brasil (Anápolis) e a Igreja Cristã Evangélica do Brasil (São Paulo), que mais tarde se uniram. O crescimento desses grupos foi pequeno, representando uma parcela cada vez menor do protestantismo brasileiro.

  1. Presbiteriana: com a nova Constituição aprovada em 1937, foi criado o Supremo Concílio da IPB. Um novo desafio para a igreja foi como posicionar-se em relação aos novos organismos ecumênicos que estavam se formando. Em 1948, Samuel Rizzo representou a IPB na Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas em Amsterdã. No ano seguinte, a igreja optou pela "equidistância" entre o CMI e o Concílio Internacional de Igrejas Cristãs, do líder fundamentalista norte-americano Carl McIntire. Em 1962, o Supremo Concílio aprovou o "Pronunciamento Social da IPB."
3. Presbiteriana Independente: a partir de 1930, surgiu um movimento de intelectuais (entre eles o Rev. Eduardo Pereira de Magalhães, neto de Eduardo Carlos Pereira) que pretendia reformar a liturgia, certos costumes eclesiásticos e até mesmo a Confissão de Fé. A questão eclodiu no Sínodo de 1938. Outro grupo organizou a Liga Conservadora, liderada pelo Rev. Bento Ferraz. A elite liberal retirou-se da IPI em 1942 e formou a Igreja Cristã de São Paulo. Em 1957 foi criado o Supremo Concílio da IPI, com três sínodos, dez presbitérios, 189 igrejas locais e 105 pastores.

4. Metodista: o primeiro bispo metodista brasileiro foi César Dacorso Filho (1891-1966), eleito em 1934, que por doze anos (1936-1948) foi o único bispo da Igreja. A Igreja Metodista foi a primeira denominação brasileira a filiar-se ao Conselho Mundial de Igrejas, em 1942. Seu órgão oficial era O Expositor Cristão. O crescimento dessa denominação foi pequeno, sendo uma de suas principais ênfases a educação.

5. Luterana: em 1949 os quatro sínodos luteranos organizaram-se em Federação Sinodal, a Igreja Luterana propriamente dita. No ano seguinte, a igreja solicitou admissão ao Conselho Mundial de Igrejas e em 1954 adotou o nome de Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. A Igreja Luterana filiou-se à Confederação Evangélica do Brasil em 1959. Foi nesse período que a igreja luterana nacionalizou-se, deixando de estar voltada apenas para o seu grupo étnico original.
6. Episcopal: o primeiro bispo brasileiro foi Athalício Theodoro Pithan, sagrado em 21-04-1940.Em abril de 1952, foi instalado o Sínodo da Igreja Episcopal Brasileira, contando com três bispos (Athalício T. Pithan, Luís Chester Melcher e Egmont Machado Krischke). Em 25-04-1965 a Igreja Episcopal do Brasil obteve da igreja-mãe a sua plena emancipação administrativa e passou a ser uma província autônoma da Comunhão Anglicana. Logo em seguida, filiou-se ao CMI.
II. Terceiro Período (1964-2000)
  1. Igreja Presbiteriana: em 1962, a missão Brasil Central propôs-se a entregar à Igreja toda a sua obra evangelística, médica e educacional. Em 1972, a IPB rompeu com a missão Brasil Central, sendo uma das possíveis causas a adoção da Confissão de 1967 pela Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos. Em 1973, a IPB rompeu suas relações com essa denominação (criada em 1958) e firmou novo convênio com a missão da Igreja Presbiteriana do Sul (PCUS).
2. Igreja Presbiteriana Independente: com uma postura inicialmente menos rígida que a IPB, a partir de 1972 a IPI tornou-se mais inflexível quanto ao ecumenismo e à renovação carismática. Em 1978, essa denominação admitiu aos seus presbitérios os três primeiros missionários estrangeiros da sua história, Richard Irwin, Albert James Reasoner e Gordon S. Trew, que antes colaboravam com a IPB.
3. Igreja Batista: acentuadamente conservadora nas áreas de teologia e política, a Convenção Batista Brasileira tem dado grande ênfase à obra missionária. Nos anos 60 e 70 foram realizadas grandes campanhas evangelísticas. Em 1960, Billy Graham pregou no Maracanã durante o X Congresso da Aliança Batista Mundial. O Pr. João Filson Soren (da 1ª Igreja Batista do Rio) foi eleito presidente da Aliança. Em 1965, foi realizada a Campanha Nacional de Evangelização, como uma espécie de resposta ao golpe de 1964. Seu tema foi "Cristo, a Única Esperança", implicando que as soluções meramente políticas eram insuficientes. O coordenador da campanha foi o Pr. Rubens Lopes (I.B. Vila Mariana). Em 1967-70 houve a Campanha das Américas e, em 1974, a Cruzada de Billy Graham no Rio de Janeiro. Seu presidente foi o Pr. Nilson do Amaral Fanini. Em 1978-80 foi realizada a Campanha Nacional de Evangelização.
4. Igreja Metodista: no início dos anos 60, Nathanael Inocêncio do Nascimento, reitor da Faculdade de Teologia de Rudge Ramos, liderou o "esquema" nacionalista que visava substituir os líderes missionários do Gabinete Geral por brasileiros (saíram Robert Davis e Duncan A. Reily e entraram Almir dos Santos e Omar Daibert, futuros bispos).
5. Igreja Luterana: em 1968, os quatro sínodos, originalmente independentes um do outro, integraram-se em definitivo na IECLB, aceitando uma nova constituição. No VII Concílio Geral (outubro de 1970) foi aprovado unanimemente o "Manifesto de Curitiba," contendo o posicionamento político-social da igreja. Esse manifesto foi entregue ao presidente Emílio Médici por três pastores. Em 1975 entrou em vigor a reforma do currículo da faculdade de teologia de São Leopoldo, refletindo as prioridades da igreja. A Igreja Luterana ligada ao Sínodo de Missouri é mais conservadora que a IECLB.
 
6. Igreja Deus é Amor: seu fundador é David Miranda (nascido em 1936), filho de um agricultor do Paraná. Vindo para São Paulo, converteu-se numa pequena igreja pentecostal e em 1962 fundou sua igreja em Vila Maria. Logo transferiu-se para o centro da cidade (Praça João Mendes). Em 1979, foi adquirida a "sede mundial" na Baixada do Glicério, o maior templo evangélico do Brasil, com capacidade para dez mil pessoas. Em 1991 a igreja afirmava ter 5.458 templos, 15.755 obreiros e 581 horas diárias em rádios, bem como estar presente em 17 países (principalmente no Paraguai, Uruguai e Argentina). A Igreja Deus é Amor dá preferência exclusiva ao uso do rádio como meio de divulgação, não se utilizando da televisão.

7. Igreja Universal do Reino de Deus: foi fundada por Edir Macedo (nascido em 1944), filho de um comerciante fluminense. Macedo trabalhou por 16 anos na Loteria do Estado (subiu de contínuo para um posto administrativo). De origem católica, ingressou na Igreja de Nova Vida na adolescência. Deixou essa igreja para iniciar a sua própria, inicialmente denominada Igreja da Bênção. Em 1977 deixou o emprego público para dedicar-se ao trabalho religioso. Nesse mesmo ano surgiu o nome IURD e o primeiro programa de rádio. Macedo viveu nos EUA de 1986 a 1989. Voltando ao Brasil, transferiu a sede da igreja para São Paulo e adquiriu a Rede Record. Em 1990 a IURD elegeu três deputados federais. Macedo esteve preso por doze dias em 1992, sob a acusação de estelionato, charlatanismo e curandeirismo. A IURD também investe maciçamente no exterior, atuando em mais de 70 países.
Conclusão
A história do protestantismo brasileiro no período republicano é uma história de notável crescimento e crescente visibilidade social. Nesse longo período, as igrejas evangélicas deram importantes contribuições a indivíduos, famílias e à sociedade nas áreas evangelística, educacional e ética. Infelizmente, é também uma história de lamentáveis divisões e, particularmente nos últimos anos, de um testemunho questionável e valores distorcidos. Trabalhemos e oremos para que a fé evangélica produza em nosso país os seus melhores frutos no século XXI. 
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