Uma Avaliação
Crítica de
"A Modificação
Puritana da Teologia de Calvino,"
de R. T.
Kendall
Paulo R. B. Anglada
INTRODUÇÃO
A Confissão de Fé de Westminster (1) distingue
"fé salvadora" de "certeza de salvação," dedicando a estes
temas capítulos distintos: o primeiro é tratado no capítulo
14 e o segundo no capítulo 18.
Segundo a Confissão, fé salvadora é a
graça ordinariamente operada pelo Espírito Santo através do
ministério da Palavra, "por meio da qual os eleitos são
habilitados a crer para a salvação das suas almas," e pode ser
aumentada e fortalecida pelo ministério da Palavra, pela
ministração dos sacramentos e pela oração.(2)
"Esta fé," professa a Confissão, "é de diferentes
graus: é fraca ou forte, pode ser muitas vezes e de muitos modos
assaltada e enfraquecida, mas sempre alcança segurança e
vitória, desenvolvendo-se em muitos até à plena
segurança em Cristo, que é tanto o Autor como o Consumador da
fé."(3)
Certeza de salvação, por sua vez, é a
convicção que crentes verdadeiros e sinceros em Cristo podem
alcançar nesta vida, de "se acharem em estado de graça."(4)
Esta doutrina é resumida na Confissão de Westminster em
quatro parágrafos. O primeiro trata da possibilidade dessa
segurança; o terceiro, dos meios pelos quais pode ser buscada; e o
quarto, como ela pode ser abalada e restaurada. O segundo parágrafo trata
dos fundamentos da certeza da salvação. Expressando perfeitamente
a concepção puritana quanto ao assunto, a Confissão
afirma que esta plena certeza de fé a que se refere, se baseia, primeira
e fundamentalmente, na veracidade objetiva das promessas de Deus. Em segundo
lugar, nas evidências internas das graças nas quais essas promessas
são feitas. E, em terceiro lugar, no testemunho interno do
Espírito Santo. Eis o texto:
Esta certeza não é uma simples persuasão conjectural e
provável, fundada numa esperança falha, mas uma segurança
infalível de fé, fundada na divina verdade das promessas de
salvação, na evidência interna daquelas graças
nas quais essas promessas são feitas, no testemunho do Espírito
de adoção que testifica com os nossos espíritos que
somos filhos de Deus, sendo esse Espírito o penhor da nossa
herança, e por meio de quem somos selados para o dia da
redenção.(5)
O ensino da Confissão de Fé de Westminster quanto a
este e outros assuntos é, entretanto, questionado por R. T. Kendall, em
um artigo intitulado: "A Modificação Puritana da Teologia de
Calvino," publicado como um dos capítulos do livro Calvino e sua
Influência no Mundo Ocidental, pela Casa Editora Presbiteriana, em
1990.(6)
Neste artigo, Kendall defende a tese de que o calvinismo puritano,
cristalizado na Confissão de Fé de Westminster,
particularmente a doutrina da segurança da salvação,
não reflete a doutrina de Calvino, constituindo-se, na verdade, em um
desvio da teologia do grande reformador. Segundo Kendall, Teodoro Beza, sucessor
de Calvino em Genebra, teria sido o principal responsável por este desvio
doutrinário, promovido posteriormente por William Perkins e pelo
movimento puritano em geral. A tese de Kendall, portanto, exposta no referido
artigo, é a de que o calvinismo dos calvinistas é um desvio e a
doutrina da certeza de salvação, conforme codificada pela
Assembléia de Westminster em seus símbolos de fé, uma
corrupção do ensino de Calvino.
O presente artigo é uma avaliação crítica do
capítulo de Kendall referido acima. Embora parte considerável de
"A Modificação Puritana da Teologia de Calvino" se dedique a
traçar a suposta relação teológica desde Beza
até a Confissão de Fé de Westminster, neste artigo
deter-me-ei apenas em investigar a tese principal de Kendall: que a doutrina da
segurança da salvação professada pelos puritanos ingleses
representa um desvio da doutrina de Calvino.
Para tal, me proponho: primeiro, a apresentar R. T. Kendall ao
leitor brasileiro, mencionando informações relevantes sobre a sua
formação, obras, posições teológicas e
práticas eclesiásticas, provavelmente desconhecidas de muitos; e,
segundo, a investigar o ensino de Calvino com relação ao
assunto, especialmente no que diz respeito à interpretação
de Kendall quanto à questão.(7)
I. APRESENTAÇÃO DE R. T. KENDALL AO LEITOR
BRASILEIRO
Visto que Kendall não é um autor conhecido no Brasil
(8) cabe aqui um breve resumo da sua formação, obras,
posições teológicas e práticas
eclesiásticas.
A. Formação
R. T. Kendall é pastor batista do sul dos Estados Unidos.
Após estudar no Southern Baptist Theological Seminary, em Louisville,
Kentucky (1971-1973), ele foi para a Inglaterra, onde alcançou o grau de
Doutor em Filosofia pela Universidade de Oxford. Durante seus estudos na
Inglaterra, seu interesse pela teologia puritana — objeto de sua
dissertação de doutorado — o aproximou de Martyn
Lloyd-Jones, vindo posteriormente a substituí-lo no pastorado da Capela
de Westminster, onde até agora exerce o seu ministério.
B. Obras
Além de artigos publicados em periódicos,(9) Kendall
é autor de diversos livros,(10) alguns bastante conhecidos. Os
escritos de Kendall são geralmente controvertidos do ponto de vista
reformado. Alguns deles são apreciados por arminianos,(11) outros
por carismáticos.(12) De modo geral, entretanto, suas obras
têm sido recebidas com sérias reservas no meio
reformado.(13)
C. Posições Teológicas e Práticas
Eclesiásticas
Embora Kendall tenha assumido o púlpito de Martyn Lloyd-Jones na
Capela de Westminster, suas posições teológicas são,
em muitas questões, opostas às daquele conhecido pregador
reformado. Isto tem alterado substancialmente as práticas
eclesiásticas na Capela de Westminster, provocando resistência
(14) e a saída de dezenas de antigos membros da Capela.(15)
Em meados da década passada, seis diáconos que questionaram o
antinomianismo de Kendall foram depostos dos seus ofícios, sendo dois
deles excluídos da igreja.(16)
Inicialmente, as posições teológicas de Kendall
parecem ter sido bem diferentes das que veio a sustentar posteriormente. Quando
foi para a Inglaterra, ele professava a posição reformada
tradicional com relação a Calvino e aos reformadores ingleses,
vindo a mudar de posição depois, durante seus estudos.(17)
Quanto à prática do apelo, Kendall chegou a escrever um artigo
condenando-a, lembrando que tais coisas "foram totalmente ausentes no
ministério dos maiores evangelistas — Edwards, Brainerd,
Whitefield, Spurgeon e John Wesley."(18) Posteriormente, entretanto, ele
admitiu a prática, passando a fazer uso dela, e a
defendê-la.
As posições teológicas e práticas
eclesiásticas de Kendall mais condenadas no meio reformado, dizem
respeito à sua apologia ao apelo, à sua concepção
quanto à doutrina da perseverança dos santos, à sua
associação com o movimento carismático, e às suas
teses com relação a Calvino e o calvinismo — objeto
específico deste artigo.
D. Prática de Apelo
Kendall passou a admitir a prática do apelo em 1982, quando Arthur
Blessitt foi convidado para pregar na Capela de Westminster e deu início
à prática. A partir de então Kendall a adotou, atribuindo a
ela parte do sucesso do seu ministério. Dois anos depois, ele publicou
Stand Up, and Be Counted (Levante-se e Seja Contado), livro no qual faz
apologia ao apelo, que prefere chamar de public pledge (compromisso
público), onde fornece vinte e duas razões para a
prática.(19)
E. Doutrina da Perseverança dos Santos
A doutrina de Kendall quanto à perseverança dos santos foi
publicada em Once Saved, Always Saved (Uma vez Salvo, Salvo para Sempre).
No livro, ele defende que a santificação não é
indispensável à salvação, escrevendo:
Eu afirmo categoricamente que a pessoa que é salva, "que confessa
que Jesus é Senhor e crê no seu coração que Deus o
ressuscitou dentre os mortos", vai para o céu quando morrer,
não importando que obras (ou falta de obras) possam acompanhar tal
fé. Em outras palavras, não importa que pecado (ou
ausência de obediência cristã) possa acompanhar tal
fé.(20)
Com afirmativas desta natureza, Kendall cria uma dicotomia entre fé
e obras, entre salvação e santificação,
insustentável biblicamente,(21) contrariando frontalmente a
fé reformada. Por esta razão o seu livro é criticado por
Iain Murray,(22) Donald MacLeod,(23) Christopher Bennett,(24)
Derek Thomas,(25) John MacArthur,(26) entre outros.
F. Associação com o Movimento
Carismático
A associação de Kendall com o movimento carismático
é cada vez mais intensa. Desde o início desta década,
conhecidos profetas carismáticos ligados à
"bênção de Toronto," tais como Paul Cain, Gerald Coates,
Rodney Howar-Browne e John Arnott têm pregado na Capela de Westminster,
sendo recomendados por Kendall.(27)
Em outubro de 1992, Paul Cain e Kendall promoveram uma conferência em
Londres, "The Word and Spirit," posteriormente publicada em livro.(28)
Nesta conferência, a presente associação do movimento
carismático com igrejas tradicionais, como a capela de Westminster, foi
profeticamente proclamada como o início da "Era
Pós-Carismática," que culminaria em um reavivamento
transdenominacional de proporções universais. O movimento
carismático é visto pelos profetas deste novo movimento apenas
como um Ismael. O verdadeiro filho da promessa, Isaque, estaria nascendo agora,
como filho da união entre líderes como Paul Cain e
Kendall.(29) Em abril de 1995, Gerald Coates profetizou diante de 4.000
pessoas em Spring Harvest, um reavivamento envolvendo Kendall e a Capela de
Westminster a ocorrer em dezoito meses. Kendall aceitou e divulgou o teor da
profecia, que nunca se cumpriu.(30)
O próprio Kendall explica o seu envolvimento com Paul Cain, Rodney
Howard-Browne e outros líderes carismáticos, relatando a cura de
sua esposa, em 1994, pela imposição de mãos de
Howard-Browne. Kendall menciona que "encorajada por isso, ela foi a um dos
cultos de Rodney um mês depois na Flórida. Ela voltou uma mulher
transformada a Londres." Ele menciona ainda que seu filho também "foi
alcançado através do mesmo culto e está hoje no centro de
muito do que está acontecendo na Capela de
Westminster."(31)
G. Calvino e o Calvinismo
As teses de Kendall quanto à relação entre Calvino e o
calvinismo, foram inicialmente publicadas em Calvin and the English Calvinism
to 1649. Como são substancialmente as mesmas expostas no artigo "A
Modificação Puritana da Teologia de Calvino," objeto da presente
avaliação, serão consideradas mais detalhadamente
adiante.
II. ENSINO DE CALVINO SOBRE A CERTEZA DE
SALVAÇÃO
Em "A Modificação Puritana da Teologia de Calvino," Kendall
tenta demonstrar que o calvinismo dos puritanos ingleses e da
Confissão de Fé de Westminster difere radicalmente do
calvinismo de Calvino quanto à doutrina da certeza de
salvação. Segundo Kendall, por causa do infralapsarianismo de
Calvino, e de sua crença na expiação ilimitada, ele
(Calvino) "não faz qualquer diferença entre fé e
segurança,"(32) não admitindo nenhuma outra fonte de
segurança de salvação, senão a fé na morte de
Cristo;(33) enquanto que para Beza, Perkins, para os puritanos ingleses em
geral, para os membros do Sínodo de Dort, e da Assembléia de
Westminster, o supralapsarianismo deles, e a crença na
expiação limitada os teria impedido de sustentar a doutrina da
segurança da salvação com base exclusiva na obra de
Cristo,(34) sendo obrigados a fazer "separação entre o
objeto da fé (a morte de Cristo) e a base da segurança (a
santificação)."(35)
O resultado do desvio teológico da tradição
Beza-Confissão de Westminster, segundo Kendall, seria um sistema
teológico antropocêntrico36 e introspectivo,(37)
radicalmente diferente do ensino de Calvino, que impede o crente de proclamar
com o grande reformador: "Cristo é para mim melhor do que mil
testemunhos."(38)
A. Distinções Teológicas entre Calvino e seus
Sucessores (39)
Algumas distinções entre o tratamento que Calvino e seus
sucessores dão às doutrinas mencionadas por Kendall são
conhecidas de longa data. William Cunningham (1805-1861), conhecido
teólogo reformado e professor de História Eclesiástica na
Faculdade de New College, Edinburgh, escreveu dois artigos em meados do
século passado,(40) em que analisa essas e outras alegadas
distinções entre a teologia de Calvino e Beza. No primeiro artigo,
ele trata da doutrina da segurança da salvação. No segundo,
da ordem dos decretos de Deus (infra/supralapsarianismo), da extensão da
expiação, e de outras questões não mencionadas por
Kendall: a imputação do pecado de Adão à sua
posteridade e a natureza da justificação.(41) A tese
principal de Kendall em "A Modificação Puritana da Teologia de
Calvino" é explicitamente mencionada por Cunningham há quase cento
e cinqüenta anos atrás, ao observar: "...tem sido
freqüentemente alegado que Beza, em suas mui hábeis
discussões sobre o assunto, levou sua visão concernente a alguns
pontos além do próprio Calvino, pelo que tem sido descrito como
sendo Calvino Calvinior."(42) A conclusão geral de
Cunningham com relação à questão, entretanto,
é a seguinte:
Não estamos preparados para negar completamente a verdade dessa
alegação; mas estamos persuadidos de que há menos base para
ela do que às vezes é suposto, e que os pontos de alegada
diferença entre eles em matéria de doutrina, dizem respeito
principalmente a tópicos com relação aos quais Calvino
não chegou a dar nenhum pronunciamento formal ou explícito, porque
não eram na época assuntos de discussão, ou mesmo porque
sequer foram objeto de sua consideração... nós cremos que
se tornará evidente, da nossa apreciação do assunto, que
não há realmente diferença substancial entre a teologia
de Calvino e de Beza..."(43)
Cunningham reconhece que os primeiros reformadores, incluindo Calvino,
enfatizaram a certeza de salvação nas suas
definições de fé salvadora, citando a conhecida
definição de Calvino, nas Institutas (III.2.7).(44)
Contudo, Cunningham considera o conceito de fé dos primeiros reformadores
(que inclui certeza de salvação), impossível de ser
sustentado biblicamente,(45) e o atribui a uma reação
à posição católico-romana(46) e à
intensa experiência espiritual deles.(47)
Quanto à ordem dos decretos de Deus, Cunningham observa que o
assunto não é revelado nas Escrituras e que sua
investigação está além da nossa capacidade.
Além do que, a mente de Deus sequer está sujeita à
sucessão de tempo, como a nossa.(48) Nesse ponto, ele conclui que
embora a posição supralapsariana de Beza seja evidente, a
posição de Calvino não é clara. Provavelmente,
Calvino sequer considerou a questão, embora a concepção
infralapsariana seja mais coerente com o seu ensino em
geral.(49)
Com relação à extensão da
expiação, Cunningham admite que não encontra nos escritos
de Calvino "afirmativas explícitas a qualquer limitação no
objeto da expiação, ou no número daqueles por quem Cristo
morreu." Mas observa também, que "nenhum calvinista, nem mesmo o Dr.
Twisse, o maior defensor do supralapsarianismo, jamais negou que há um
sentido em que se pode afirmar que Cristo morreu por todos os homens."(50)
Cunningham afirma, contudo, estar persuadido "de que não há
evidência satisfatória de que Calvino sustentou a doutrina de uma
expiação universal, ilimitada ou indefinida." Pelo
contrário, considera que "há suficiente evidência de que ele
não sustentou esta doutrina."(51) É verdade, afirma
Cunningham, que Calvino freqüentemente afirma a livre oferta do Evangelho
indiscriminadamente a todos os homens, sem distinção ou
exceção. Mas a doutrina da extensão da
expiação "não foi formalmente discutida" por Calvino, nem
parece que ele tenha considerado o problema.(52)
A questão, portanto, não consiste tanto em admitir a
existência de distinções entre o ensino de Calvino e dos
puritanos com relação à doutrina da segurança da
salvação, mas em avaliar a extensão ou natureza destas
distinções. Esperar que Beza, Perkins e demais calvinistas
ingleses nada tivessem a acrescentar ao ensino de Calvino sobre o tema é
superestimar Calvino, subestimar seus seguidores, e desconsiderar as
circunstâncias históricas peculiares em que viveram. Concluir,
contudo, que o tratamento puritano dado ao tema contradiz diretamente o ensino
de Calvino, representando um desvio — e não um desenvolvimento
— da sua teologia, requer evidências históricas mais
convincentes do que as que o autor parece oferecer tanto no livro Calvin and
the English Calvinism to 1649 como no artigo em
questão.(53)
O tratamento mais sistemático que Calvino dá ao tema
encontra-se no capítulo segundo do terceiro livro das Institutas.
O seu ensino sobre o assunto neste e em outros escritos, pode ser resumido como
segue:
B. Fé, Cristo, a Palavra e o Espírito
Para Calvino, fé salvadora não é mero assentimento
(assensus) com relação à veracidade do Evangelho ou
à existência de Deus. Inclui, também conhecimento
(cognitio) e confiança (fiducia) em Cristo. Para ele,
"visto que Deus habita em luz inacessível, é necessário que
Cristo seja colocado diante de nós e nos mostre o caminho." Cristo,
portanto, é "a luz do mundo" (Jo 8.12), "o caminho, a verdade a vida," e
ninguém vai ao Pai senão por ele (Jo 14.6).Calvino cita 1 Pedro
1.21, "...por meio dele, tendes fé em Deus," para demonstrar que a
fé em Deus acontece pelo conhecimento de Deus em
Cristo.(54)
Embora o nosso conhecimento da vontade de Deus seja limitado e até
certo ponto obscuro, a fé, segundo Calvino, "não consiste na
ignorância, mas no conhecimento" da vontade de Deus revelada na sua
Palavra.(55) Por isso "...Paulo põe a fé como companheira
inseparável da doutrina... (Ef 4.20-21),"(56) o que demonstra haver
"uma perpétua correspondência entre a fé e a Palavra ou
doutrina..."(57) Porque as Escrituras são a fonte da fé,
João afirma: "estas coisas foram escritas para que creiais..." (Jo
20.31).(58)
Não obstante a fé estar enraizada na Palavra,(59) o
nosso entendimento é inclinado à vaidade e obscurecido pelo
pecado, não podendo, por si mesmo, compreender a Palavra de Deus. "Por
isso, a Palavra de Deus, sem a iluminação do Espírito
Santo, de nada nos serve ou aproveita."(60) É preciso, portanto,
que o entendimento seja iluminado pelo Espírito e o coração
por ele confirmado para que haja confiança e certeza de
salvação.(61) Para Calvino, é mais fácil
instruir o entendimento do que aquietar o coração. "Por isso o
Espírito Santo exerce a função de um selo, selando em
nossos corações as próprias promessas, cuja certeza foi
previamente impressa em nosso entendimento."(62)
C. Fé Salvadora e Certeza de
Salvação
Para Calvino o fundamento da certeza de salvação do crente
não está em suas próprias obras, como ensinavam os
papistas,(63) ou na estrita observância dos mandamentos de
Deus,(64) mas nos decretos de Deus,(65) na livre
adoção,(66) na doutrina de Cristo;(67) descansa na
livre misericórdia de Deus,(68) na graça de
Cristo,(69) e não depende mais da participação nos
sacramentos do que da pregação da Palavra.(70)
Sem dúvida, Calvino considera que certeza de salvação
faz parte da essência da fé. Para ele, fé genuína
inclui necessariamente um elemento de certeza, não apenas objetiva, com
relação à veracidade das promessas de Deus e sua fidelidade
em cumpri-las,(71) mas também subjetiva, incluindo a
convicção de que estas promessas nos dizem respeito. Por isso
ambos os elementos (objetivo e subjetivo) estão presentes na conhecida
definição de Calvino de fé salvadora:
Podemos obter uma completa definição de fé, se
dissermos que é um conhecimento firme e certo da vontade misericordiosa
de Deus para conosco, a qual, sendo fundada na verdade da graciosa promessa em
Cristo, é tanto revelada às nossas mentes, quanto selada em nossos
corações pelo Espírito Santo.(72)
Adiante, ao detalhar sua definição, o reformador explica o
elemento subjetivo como essencial à fé, escrevendo: "O essencial
da fé consiste em que não pensemos que as promessas de
misericórdia que o Senhor nos oferece são verdadeiras somente fora
de nós, e não em nós; e sim, que as tenhamos como nossas,
recebendo-as de coração."(73)
Mas o que Calvino entende por este elemento de certeza incluído na
fé? Seria uma confiança sempre estável e inabalável,
isenta de qualquer dúvida ou desconfiança, que torna indevido o
auto-exame, e independe da santificação, como sugere Kendall?
Não. A certeza de salvação que Calvino afirma ser essencial
à fé não é uma convicção absoluta e
inabalável, que ao exclamar: "Cristo é para mim o melhor
testemunho," dispense o auto-exame e não admita a
santificação como evidência legítima de
salvação.
D. Certeza e Dúvida
Para Calvino, a fé se arma da Palavra para resistir aos golpes da
incredulidade, de modo que "jamais pode ser arrancada do coração
dos crentes a raiz da fé..."(74) Mas Calvino admite, que em virtude
do conhecimento deficiente do crente, da tentação e do pecado, a
sua confiança pode ser seriamente abalada:
Quando dizemos que a fé deve ser certa e segura, certamente
não estamos falando de uma segurança que nunca seja afetada pela
dúvida, ou de uma segurança que jamais seja assaltada pela
ansiedade; antes, afirmamos que os crentes sustentam uma luta perpétua
contra a sua própria desconfiança, e estamos longe, portanto, de
pensar que suas consciências possuam uma plácida tranqüilidade
nunca perturbada pela provação.(75)
Mencionando o exemplo de Davi, Calvino demonstra que a certeza que faz
parte da essência da fé pode ser de tal modo abalada, ao ponto de
perturbar a nossa paz de espírito, nos fazer envergonhar da nossa
própria incredulidade e desconfiar da fidelidade de Deus.(76)
Após citar o Salmo 80.4 e Lamentações 3.8, Calvino afirma:
"Inúmeros exemplos dessa natureza ocorrem nas Escrituras, dos quais
é manifesto que a fé dos santos era freqüentemente misturada
com dúvidas e temores, de modo que enquanto criam e tinham
esperança, eles entretanto denunciam algum grau de
incredulidade."(77)
Esta "imperfeição da fé" é explicada por
Calvino pela luta travada entre a carne e o espírito, razão pela
qual jamais nesta vida o crente se liberta completamente da dúvida, a
ponto de "possuir a plenitude da fé."(78) Pelo contrário, "a
fé está sujeita a várias dúvidas, de modo que as
mentes dos crentes raramente estão em descanso, ou, pelo menos não
estão sempre tranqüilas."(79) No seu comentário sobre o
livro de Gênesis, o reformador observa: "...aqueles que imaginam que a
fé é imune a todos os temores, não têm nenhuma
experiência da verdadeira natureza da fé... Além disso,
nossa fé nunca é tão firme a cada momento, que possa
repelir dúvidas ímpias e temores pecaminosos, do modo que
poderíamos desejar."(80)
No capítulo 26 de um tratado que escreveu sobre a Ceia do Senhor,
Calvino demonstra a sua preocupação pastoral com
relação à consciência de seus leitores quanto
às deficiências da fé e santidade próprias a todo
crente, com palavras que elucidam a sua concepção com respeito
à certeza da fé salvadora. Ei-las:
Mas, visto que jamais será encontrado sobre a terra homem algum que
tenha feito tal progresso na fé e santidade que não seja ainda
bastante deficiente em ambas, poderia haver o perigo de diversas pessoas com boa
consciência virem a ser perturbadas pelo que foi dito, se não
tivermos o cuidado de moderar as injunções que fizemos com
relação tanto à fé como ao arrependimento.
É perigoso o ensino que alguns adotam, exigindo perfeita
confiança de coração e perfeita penitência, excluindo
todos quantos não as tenham de modo perfeito. Pois, assim fazendo, eles
excluem a todos, sem exceção alguma. Onde está o homem
que pode gloriar-se de não ser maculado por nenhuma mancha de
desconfiança? Seguramente, a fé que os filhos de Deus têm
é tal que eles sempre podem orar: Senhor, ajuda-me na minha falta de
fé.(81)
Este cuidado, que Calvino demonstra em moderar suas próprias
afirmativas com relação à certeza da fé salvadora,
parece faltar a Kendall; o qual não parece dar a devida
atenção à advertência do próprio reformador
quanto às implicações pastorais envolvidas.
E. O Perigo da Fé Temporária
Calvino admite também a existência de uma "fé
temporária"(82) (a qual não merece ser chamada de
fé), mas que externamente se confunde com a fé salvadora. Como
exemplos, ele cita Simão, o mago mencionado em Atos 8.13,18, e aqueles
representados pelo solo espinhoso na parábola do semeador (Lucas
8.7,13-14). A respeito destes, ele observa: "Ainda que algumas vezes
pareça que tenham lançado raízes, não há vida
neles. O coração humano tem tantos recônditos de vaidade,
tantos esconderijos de engano, é tão encoberto de fraude e
hipocrisia, que freqüentemente engana a si mesmo."(83) "A
experiência nos mostra," afirma Calvino, "que às vezes os
réprobos se sentem tocados por um sentimento semelhante ao dos eleitos,
de modo que na opinião deles, não diferem muito dos crentes...
ainda que haja grande semelhança e afinidade entre os eleitos e os que
possuem uma fé passageira, sem dúvida, a confiança
não existe senão nos eleitos."(84)
Comentando o "solo rochoso" em Mateus 13.20, Calvino sugere o auto-exame
profundo, como o remédio apropriado para o perigo que a "fé
temporária" representa, dizendo:
Esta classe difere da anterior, pois fé temporária
é um tipo de vegetação que promete a princípio algum
fruto; mas o coração de tais pessoas não foi devida e
completamente subjugado, ao ponto de tornar-se suficientemente macio para
nutrir-se por muito tempo. Nós vemos muitas pessoas desse tipo em nossos
próprios dias, as quais abraçam avidamente o Evangelho, e logo
depois se afastam, pois não têm a viva disposição
necessária para dar-lhes firmeza e perseverança. Que cada um,
portanto, examine a si mesmo profundamente, a fim de que o entusiasmo
que produz uma chama brilhante não venha a desaparecer rapidamente,
segundo o ditado, "como fogo de palha." Porque se a palavra não penetrar
profundamente no coração inteiro, e não lançar
raízes profundas, a fé não terá o suprimento de
umidade necessário para perseverar.(85)
F. A Necessidade de Auto-exame
Comentando 1 Coríntios 1.9, Calvino observa que "quando o crente
olha para si mesmo descobre apenas ocasião para tremer ou mesmo
desesperar-se; mas visto ter sido chamado para a comunhão de Cristo, ele
deveria, no que diz respeito à segurança da
salvação, considerar-se de nenhum outro modo, senão na
condição de membro de Cristo, de modo a reconhecer os
benefícios de Cristo como seus próprios."(86)
Mas será que com palavras como estas Calvino condena o auto-exame,
considerando-o uma introspecção mórbida, como sugere
Kendall? De modo nenhum. Por causa das "imperfeições da fé"
e do perigo da fé temporária, Calvino considera legítimo o
auto-exame, afirmando: "Sem dúvida, é preciso advertir os crentes
a examinarem-se cuidadosa e humildemente, a fim de que uma segurança
carnal não se introduza e tome o lugar da verdadeira certeza de
fé."(87) Dezenas de vezes em seus comentários e em outros
escritos, Calvino exorta seus leitores ao auto-exame, condena os que
negligenciam a prática, e ora rogando a Deus que habilite seus ouvintes a
investigarem séria e profundamente seus corações e vidas, a
fim de não serem enganados pela pecaminosidade do
coração.(88) Calvino observa que:
...assim como os crentes repousam com segurança na graça de
Deus, assim também, quando eles direcionam sua atenção para
suas próprias fragilidades, eles de modo algum entregam-se
descuidadamente à negligência, mas são, pelo temor dos
perigos, encorajados à oração. Entretanto, longe
está esse temor de perturbar a tranqüilidade de consciência.
Pois a desconfiança de nós mesmos leva-nos a descansar mais
seguramente na misericórdia de Deus.(89)
Uma das razões pelas quais Calvino condena a prática da
confissão auricular é que, uma vez havendo se confessado, o
pecador tende a negligenciar a prática do auto-exame.(90)
Observando que a "auto-indulgência" é condenada em
Provérbios 21.2, como uma peste inerente à raça humana,
Calvino exorta seus leitores ao auto-exame, a levarem suas consciências
diante de Deus, a fim de que possam descobrir os recônditos secretos dos
seus corações e a pecaminosidade que neles se esconde. Ele
recomenda que o auto-exame seja rigoroso e continue até alarmar-nos
completamente, preparando-nos, deste modo, para receber a graça de
Cristo. "Porque Deus resiste ao soberbo, contudo aos humildes concede a sua
graça."(91) Comentando as instruções do
apóstolo Paulo em 1 Coríntios 11.28, "Examine-se, pois o homem a
si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice," Calvino escreve:
"Por isso, conforme entendo, ele quer dizer que cada crente deve investigar a si
próprio; e considerar, primeiro, se com confiança interior de
coração se apoia na salvação obtida por Cristo...;
e, segundo, se, com zelo por pureza e santidade aspira imitar a
Cristo..."(92) Em sua exposição do capítulo 13 do
Livro de Ezequiel, Calvino escreve: "Portanto, aprendamos a examinarmo-nos a
nós mesmos, e a investigar se aquelas marcas interiores pelas quais Deus
distingue seus filhos dos estranhos nos pertencem, isto é: a raiz viva de
piedade e fé."(93) E comentando o Salmo 19.12, "Quem há que
possa discernir as próprias faltas...", Calvino escreve:
Esta exclamação nos mostra o uso que devemos fazer das
promessas da lei que têm uma condição anexada a elas. Qual
seja: ...cada pessoa deveria examinar sua própria vida, e comparar
não apenas suas ações, mas também seus pensamentos,
com esta regra perfeita de justiça que é apresentada na lei...
Não basta considerar o que a doutrina da lei contém; nós
devemos também olhar para dentro de nós mesmos, a fim de que
possamos ver o quão aquém estamos em nossa obediência
à lei.(94)
As seguintes perguntas e respostas do Catecismo da Igreja de
Genebra, preparado por Calvino, demonstram o seu pensamento sobre o
auto-exame:
Pergunta: Quem faz uso correto e legítimo deste Sacramento [a
ceia]?
Resposta: Aquele que o Apóstolo Paulo indica: "Examine-se o homem a
si mesmo," antes de participar
(1 Coríntios 11.28).
Pergunta: O que a pessoa deve inquirir neste exame?
Resposta: Se ela é um verdadeiro membro de Cristo.
Pergunta: Por meio de qual evidência ela deve chegar a este
conhecimento?
Resposta: Se ela é provida de fé e arrependimento, se tem
sincero amor pelo próximo, se tem sua mente
pura de toda inimizade e malícia.
Pergunta: É requerido que a fé e o amor da pessoa devam ser
perfeitos?
Resposta: Ambos devem ser inteiramente livres de toda hipocrisia, mas seria
vão exigir uma perfeição
absoluta, em nada deficiente, visto que isto jamais será encontrado
em homem algum.(95)
Adiante, na mesma obra, ele escreve:
Portanto, conforme a exortação de São Paulo, que cada
um submeta à prova e examine a sua consciência, para ver se
realmente se arrependeu de suas faltas, e está insatisfeito consigo
mesmo, desejando viver daí em diante de modo santo e de acordo com a
vontade de Deus; acima de tudo, para ver se tem colocado a sua confiança
na misericórdia de Deus, e busca sua salvação inteiramente
em Jesus Cristo, e se, renunciando a toda inimizade, verdadeiramente tenciona e
resolve viver em concórdia e amor fraternal com seus
próximos.
Se tivermos este testemunho em nossos corações diante de
Deus, não tenhamos nenhuma dúvida de que ele nos adotou como
filhos, e que o Senhor Jesus dirige a nós a sua palavra, convidando-nos
para participar da sua mesa...(96)
Comentando Romanos 8.9, "vós, porém, não estais na
carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em
vós..." Calvino afirma que por meio dessa sentença, os leitores
são "estimulados a examinarem-se mais cuidadosamente, a fim de não
professarem o nome de Deus em vão." E prossegue afirmando que "a marca
mais segura pela qual os filhos de Deus são distinguidos dos filhos do
mundo é quando, pelo Espírito de Deus, são renovados para a
pureza e santidade."(97) Adiante, comentando o verso 33 do mesmo
capítulo, Calvino afirma: "...não há dúvida que
somos todos encorajados a examinar nosso chamado, de modo que possamos nos
tornar seguros de que somos filhos de Deus."(98)
Chamo a atenção do leitor para esta última
referência bibliográfica. Um dos textos mais usados pelos puritanos
para defender o auto-exame, em busca da santificação como
evidência da obra do Espírito no coração (o assim
chamado ato-reflexo), encontra-se no capítulo primeiro, verso dez, da
Primeira Carta de Pedro. Comentando o texto, Calvino escreve:
...uma das provas de que fomos realmente eleitos, e não chamados em
vão pelo Senhor, é uma boa consciência e integridade de vida
em consonância com nossa profissão de fé... se alguém
pensa que o chamado se evidencia seguro pelo homem, não há nisso
nenhum absurdo; podemos, entretanto ir além: cada pessoa confirma o seu
chamado vivendo um vida santa e piedosa. Mas é muito tolo inferir disso
as acusações dos sofistas; pois esta é uma prova
extraída não da causa, mas, pelo contrário, do sinal ou
efeito... pureza de vida não é impropriamente chamada de
evidência ou prova de eleição, pela qual os fiéis
podem não apenas testificar a outros que são filhos de Deus, mas
também confirmar a si próprios nesta confiança, não
obstante fixem sua sólida fundação em outra
coisa.(99)
G. Fé e Santificação
O que Calvino não admite, como acabamos de ver, é a
dissociação entre fé e santificação. Para
ele, "não pode haver santidade no homem, sem fé,"(100) pois
a santidade brota da fé.(101) "De fato, a fé é a
fonte de toda santidade, como mencionado em Atos 15, onde Pedro diz que Deus
purifica o coração dos homens pela fé."(102) Na
concepção de Calvino, "piedade e santidade de vida distinguem o
verdadeiro crente daquele conhecimento fictício e morto de Deus; pois a
verdade é que aqueles que estão em Cristo, como Paulo diz, se
despiram do velho homem."(103) Na introdução de seus
sermões sobre a carta aos Gálatas, Calvino adverte que "a
fé sem santidade de vida é não apenas nua, mas
morta."(104) Para ele, arrependimento e santificação
são conseqüências necessárias da fé:
...o homem é justificado pela fé somente, e por simples
perdão; não obstante, real santidade de vida, por assim dizer,
não é separada da livre imputação de justiça.
Deveria ser um fato além de qualquer controvérsia, que o
arrependimento não apenas segue a fé, mas também nasce da
fé... Sem dúvida ninguém pode abraçar a graça
do Evangelho sem transportar-se dos erros de sua vida passada para o reto
caminho, e aplicar-se com todo empenho à prática do
arrependimento.(105)
Refutando a distinção católico-romana entre "fé
informe" e "fé formada," ele afirma:
Visto que a fé abraça Cristo como Ele nos é oferecido
pelo Pai, e Ele é oferecido não somente para
justificação, perdão dos pecados, e paz, mas também
para santificação, como a fonte de água viva, é
certo que homem algum jamais O conhecerá devidamente sem que ao mesmo
tempo receba a santificação do Espírito; ou, para expressar
o assunto mais claramente, a fé consiste no conhecimento de Cristo;
Cristo não pode ser conhecido sem santificação do
Espírito: portanto, fé não pode ser dissociada de uma
disposição piedosa.(106)
CONCLUSÃO
Esta breve investigação sobre o ensino de Calvino com
relação à fé salvadora e a certeza de
salvação demonstra que a interpretação de Kendall
é equivocada e exagerada.
É verdade que, para Calvino, a fé é obra do
Espírito e encerra não apenas conhecimento, mas também um
elemento de confiança e certeza nas promessas de Deus em Cristo,
reveladas na sua Palavra. É impossível que alguém seja
convertido e não confie na veracidade das promessas de Deus e que estas
promessas digam respeito particularmente a ele. Na sua concepção,
entretanto, esta confiança não é absoluta, como sugere
Kendall. Ela é freqüentemente abalada por temores, dúvidas e
incredulidade. Calvino admite também a existência de uma fé
temporária, que pode se confundir com a fé verdadeira. Por isso
mesmo, ele recomenda o auto-exame (que Kendall tanto condena no ensino
puritano), a fim de livrar os crentes professos do perigo de uma
segurança carnal, encorajando-os a identificar as marcas da obra do
Espírito, as quais identificam os crentes verdadeiros: zelo por pureza,
desejo de viver de modo santo, piedade, fé, arrependimento, amor ao
próximo, etc.; a fim de que possam descansar mais seguramente na
graça de Deus. Na concepção de Calvino, a fé
não pode ser dissociada da piedade. Para ele, repito, "a fé, sem
santidade de vida, é não apenas nua, mas morta."
Portanto, embora Calvino enfatize o elemento objetivo na sua
definição de fé salvadora, seus comentários
práticos e pastorais sobre o assunto já indicam claramente a
necessidade de se fazer as distinções que seus seguidores
puritanos viriam a desenvolver e enfatizar. Calvino enfatiza o fundamento
objetivo da certeza de fé na veracidade das promessas de Deus, mas
não rejeita os elementos subjetivos das evidências da graça
divina no coração e o testemunho interno do Espírito Santo,
como marcas da verdadeira fé. A Confissão de Fé de
Westminster, embora faça distinção mais clara entre
fé salvadora e certeza de salvação, não ensina nada
substancialmente diferente, ao enfatizar também as evidências
subjetivas da fé, visto que reconhece que estas se fundamentam
primordialmente "na divina verdade das promessas de
salvação."
Iain H. Murray observa, no segundo volume de sua biografia de Martyn
Lloyd-Jones, que a tese de Kendall (objeto deste artigo), foi uma das
controvérsias mais penosas em que o grande pregador de Westminster foi
obrigado a se envolver. Quando as teses de Kendall começaram a tornar-se
claras (o que veio a ocorrer por volta de 1977), Lloyd-Jones opôs-se a
elas. Para ele, essas teses não expressavam o ensino do Novo Testamento,
e distorciam o ensino de Calvino e dos puritanos. Tão logo a tese de
doutorado de Kendall foi publicada, em 1979, o Dr. Lloyd-Jones deu-se ao
trabalho de reler Calvino e escritos puritanos sobre a questão, e
concluiu que "as diferenças entre Calvino e os puritanos eram
diferenças de ênfase, não de substância," as quais
"poderiam ser prontamente explicadas em termos de legítimo
desenvolvimento e da mudança das circunstâncias pastorais nas quais
os puritanos estavam constantemente pregando."(107)
Desde então, estudiosos reformados tradicionais têm sido
forçados a reconsiderar a questão, e, de modo geral, têm
chegado à mesma conclusão do Dr. Lloyd-Jones.(108) Minhas
pesquisas nos escritos de Calvino confirmam esta conclusão: o ensino
puritano resumido na Confissão de Fé de Westminster,
distinguindo fé salvadora de segurança de salvação,
não representa um desvio do ensino de Calvino. Representa, sim, um
desenvolvimento pastoral legítimo de distinções
reconhecidas pelo próprio reformador.
ENGLISH ABSTRACT
This article is an evaluation of R. T. Kendall’s thesis, summarized
in "Puritan Modification of Calvin’s Theology," in W. Stanford Reid, ed.,
John Calvin: His Influence in the Western World (Grand Rapids: Zondervan,
1982) 199-214, that the Puritan doctrine of assurance of salvation presented in
the eighteenth chapter of The Westminster Confession of Faith, is a
deviation of Calvin’s doctrine. After summarizing the teaching of the
Westminster Confession concerning the theme, and presenting R. T. Kendall
to Brazilian readers, (since this is his first writing published in Portuguese),
Anglada investigates Calvin’s writings concerning the subject, and
concludes that although certain distinction between Calvin and his Puritan
successors have been recognized for more than a century, their doctrine of
assurance of salvation should not be understood as a deviation, but as a
development of Calvin’s own teaching. From Calvin’s
Institutes, commentaries, sermons, tracts and letters, Anglada attempts
to demonstrate that, saving faith, for Calvin, is not an absolute confidence,
which allows no place for doubts, rejects the practice of self-examination, and
does not demand sanctification, as Kendall suggests.
____________________
NOTAS
1 Daqui em diante, simplesmente Confissão,
Confissão de Fé, ou CFW.
2 CFW, 14.1.
3 Ibid., 14.3.
4 Ibid., 18.1.
5 Ibid., 18.2 (ênfases minhas).
6 R. T. Kendall, "A Modificação Puritana da Teologia de
Calvino," em Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, ed. W.
Stanford Reid, trad. Vera Lúcia L. Kepler (São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1990), 245-65.
7 Se outra oportunidade me for concedida, e os afazeres ministeriais me
permitirem, gostaria de poder expandir este artigo, a fim de expor mais
detalhadamente o ensino da Confissão de Fé de Westminster
sobre o tema, e avaliar biblicamente o que me parece ser, não um desvio,
mas um desenvolvimento puritano da teologia de Calvino.
8 Até onde é do meu conhecimento, este é o primeiro
escrito de R. T. Kendall traduzido para a língua portuguesa.
9 Tais como "John Cotton: First English Calvinist?" Westminster/Puritan
Conference (1976), 38ss; "Preaching in Early Puritanism,"
Westminster/Puritan Conference (1984), 18ss; e "Puritans in the Pulpit
and Such as Run to Hear Preaching," Westminster/Puritan Conference
(1990), 86ss.
10 Entre os quais, Calvin and English Calvinism to 1649 (Oxford
University Press, 1979); Tithing: A Call to Serious Biblical Giving
(Grand Rapids: Zondervan, 1983); Stand Up and Be Counted (Grand Rapids:
Zondervan, 1984), Once Saved, Always Saved (Chicago: Moody Press, 1983);
Word of the Lord: Bible Lectures from Westminster Chapel (Grand Rapids:
Zondervan, 1988); Before the Throne: A comprehensive Guide to the
Importance and practice of Worship (Nashville: Broadman and Holman, 1993);
Rediscovering God (Christian Focus Publications, 1994); God Meant it
for Good (Morning Star Publications, 1994); Just Love (Geanies House,
Scotland: Christian Focus Publication, 1997); Understanding Theology
(Geanies House, Scotland: Christian Focus Publication); Higher Ground
(Geanies House, Scotland: Christian Focus Publication); When God says "Well
Done" (Geanies House, Scotland: Christian Focus Publication); e Meekness
and Majesty (Geanies House, Scotland: Christian Focus
Publication).
11 Ver Kenneth Grider, resenha de John Calvin: His Influence in the
Western Word, ed. por W. Stanford Reid, Wesleyan Theological Journal,
17:2 (Fall 1982), 111-113.
12 Ver Bobby Conner, "MorningStar Publications," The Morning Star
Prophetic Bulletin (April 1997); disponível em
http://www.kalama.com/~debodino/mspb497.htm; Internet.
13 Ver, por exemplo, William Young, resenha de Calvin and English
Calvinism to 1649, por R. T. Kendall, Gospel Magazine (Jan/Feb 1978),
16-19, e Bulwark (May/June 1980, 15-18); John H. Armstrong, resenha de
Stand Up and Be Counted, por R. T. Kendall, The Journal of the
Evangelical Theological Society, 29:3 (September 1986), 339-40; Timothy J.
Ralston, resenha de Before the Throne: A comprehensive Guide to the
Importance and practice of Worship, por R. T. Kendall, Bibliotheca Sacra,
153:609 (Jan/Mar 1996), 128; John MacArthur Jr., "Perseverance of the Saints,"
The Master Seminary Journal, 4:1 (Spring 1993), 5-24; W. Stanford Reid,
resenha de Calvin and English Calvinism to 1649, por R. T. Kendall,
Westminster Theological Journal, 43:1 (Fall 1980), 155-164; Paul Helm,
resenha de Calvin and English Calvinism to 1649, por R. T. Kendall,
Scottish Journal of Theology, 24 (1981), 179-184; A. N. S. Lane, resenha
de Calvin and English Calvinism to 1649, por R. T. Kendall,
Themelios, 6 (1980-1981), 29-31; Derek Thomas, resenha de Once Saved,
Always Saved, por R. T. Kendall, Evangelical Presbyterian (Jan. 1984)
6; Iain Murray, "Will the unholy be saved?" resenha de Once Saved, Always
Saved, por R. T. Kendall, Banner of Truth, 246 (March 1984), 1-15;
Derek Thomas, resenha de Stand Up and Be Counted, por R. T. Kendall,
Evangelical Presbyterianism (Jan. 1985), 2-5; Donald MacLeod, resenha de
Once Saved, Always Saved, por R. T. Kendall, Monthly Record of the
Free Church of Scotland (June 1984), 141-142; G. W. Harper, "Calvin and
English Calvinism to 1649: A Review Article," Calvin Theological Journal,
20 (Nov. 1985), 255-262.
14 Ver Armstrong, resenha de Stand Up and Be Counted, 339.
15 Conferir Alan Howe, False Prophecy in London, Christian Research
Network Home Page; http://web.ukonline.co.uk/crn/fal_pro.htm;
Internet.
16 Ver Richard Alderson, "The Theology of Dr. R. T. Kendall - Part 2,"
CRN Journal, 2 (1998).
17 Olhar Reid, resenha de Calvin and English Calvinism to 1649,
155.
18 R. T. Kendall, "Full Assurance," Evangelical Magazine (April/May
1967).
19 Alderson, "The Theology of Dr. R. T. Kendall - Part 2." Para uma
refutação das razões fornecidas por Kendall, ver "Appendix
1," in Erroll Hulse, The Great Invitation (England: Evangelical Press,
1986), 172-176.
20 Ver Once Saved, Always Saved, 52-53 (ênfase
minha).
21 Conferir, por exemplo, Efésios 1.4; 2.10; Romanos 8.29; Filemon
2.12-13; 1 João 3.2-10; e Hebreus 12.14.
22 Iain Murray observa que "nenhuma confissão de fé
calvinista jamais ensinou que a perseverança de um indivíduo
até a glória independa da presença ou ausência de
santificação ou santidade em sua vida." (Ver Murray, "Will the
unholy be saved?").
23 O qual considera que a doutrina de Kendall representa "um rompimento com
a religião evangélica," e "uma violência à Palavra de
Deus" (ver resenha de Once Saved, Always Saved).
24 Christopher Bennett considera a posição de Kendall
antibíblica, pois, embora seja verdade que a salvação
não se baseia em obras, "um fator relevante na nossa certeza de que temos
verdadeira fé, é que nossa fé nos transforma... Boa parte
de Tiago e 1 João parece ir de encontro à tese de Kendall." (Ver
Bennett, resenha de Once Saved, Always Saved, por R. T. Kendall,
Christian Arena [June 1984], 29s).
25 Derek Thomas observa que a tese de Kendall "é uma licença
para o pecado, a fim de que a graça possa abundar" (resenha de Once
Saved, Always Saved, Evangelical Presbyterian), chegando a
considerá-lo "o expoente moderno do antinomianismo" (conferir resenha
de No Holiness, No Heaven, por Rechard Alderson, Evangelical Times
[March 1987]).
26 O qual, referindo-se às afirmativas de Kendall em Once Saved,
Always Saved, escreveu: "Isto é um completo assalto contra a doutrina
da perseverança afirmada na Confissão de Westminster. Pior, isto
subverte a própria Escritura" (ver MacArthur, "Perseverance of the
Saints").
27 Ver Alderson, "The Theology of Dr. R. T. Kendall - Part 2."
28 Paul Cain and R. T. Kendall, The Word and The Spirit (Eastbourne:
Kingsway Publications, 1996).
29 Conferir "Somebody Moved the Goalposts," in Mainstream Report,
Cross+Word Home Page (Spring 1993);
http://www.fardistant.demon.co.uk/ms/ms193.htm; Internet; e "New Revelations,"
in Mainstream Report, Cross+Word Home Page (Spring 1995);
http://www.fardistant.demon.co.uk/ms/ ms195.htm; Internet.
30 Ver o teor da profecia em Alan Howe, False Prophecy in London,
Christian Research Network Home Page; http://web.ukonline.co.uk/crn/fal_pro.htm;
Internet. Mais informações com relação ao
envolvimento de Kendall com o movimento carismático, podem ser
encontradas em artigos publicados em boletins informativos carismáticos
na Internet, tais como: Steve Beard, "Toronto Church celebrates three-year
season of renewal," Thunderstruck home-page;
http//www.thunderstruck.org/nw-tor.htm; Don Hawley, "Christianity’s
Shamefull Divorce," Don Hawley’s Place home-page;
http//www.sabath.com/ hawley24.htm; Eoin Giller, "The Story of Eoin Giller,"
SDAAnonymous home-page; http// www.sabath.com/sdanon/coin.htm; Daina
Doucet, "Ministry Enhanced, Acts & Facts; http://
www.tacf.org/stf/2-1/actsfacts.html; e Joel Wolensky, resenha de The Word and
The Spirit, por Paul Cain e R. T. Kendall;
http://www.sabbath.com/joel1.htm.
31 R. T. Kendall, "A Gentleman’s Response to Hank Hanegraff,"
Ministryes Today On Line (Nov/Dez 1997);
http://www.ministriestoday.com/stories/mn197104.htm; Internet. Mais
informações sobre o impacto de pregadores carismáticos como
John Arnott (incluindo gargalhadas, gritos e quedas) e a prática de
imposição de mãos nos cultos da Capela de Westminster podem
ser encontradas em boletins informativos da própria Capela:
Westminster Chapel Magazine e Westminster Record.
32 Kendall, "Modificação Puritana," 257.
33 Ibid., 253.
34 Ibid.
35 Ibid.
36 Ibid., 258.
37 Ibid., 262.
38 Ibid., 264.
39 As traduções de obras em inglês citadas neste
trabalho são minhas. Nas referências bibliográficas aos
comentários de Calvino, indicarei, além da página da
publicação, a referência bíblica a que se refere,
para facilitar a localização em outra
edição.
40 O primeiro artigo, "The Reformers and the Doctrine of Assurance," foi
publicado em outubro de 1856, e o segundo, "Calvin and Beza," em julho de 1861,
ambos em British and Foreign Evangelical Review. Estes artigos foram
posteriormente republicados (em 1962) como dois capítulos do livro The
Reformers and the Theology of the Reformation (republicação,
Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1967, 1989), 111-148 e 345-412.
41 Ver Cunningham, The Reformers and the Theology of the
Reformation, 350.
42 Ibid., 349.
43 Ibid., 349-50 (ênfase minha).
44 Ibid., 119.
45 Ibid., 118,120.
46 Calvino, de fato, geralmente trata do assunto da certeza de
salvação em contraposição à doutrina
católico-romana que a admite meramente como conjectura. Ver, por exemplo,
John Calvin, Commentary on the First Epistle to the Corinthians, trans.
John Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 2:12, 92 e 4:4, 128; John
Calvin, Commentary on the Second Epistle to the Corinthians, trans. John
Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 13:5, 251; John Calvin, "Epistle Dedicatory
to Sigismund Augustus," in The Commentaries on the Epistle of Paul the
Apostle to the Hebrews, trans. John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1996) 19;
John Calvin, Commentary on the Epistle to the Philippians, trans. John
Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 2:13, 57; John Calvin, Commentary on the
Epistle to the Colossians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 1:23, 26; e John
Calvin, "Admonition and Exhortation of the Legates of the Apostolic See to the
Fathers in the Council of Trent," in Selected Works of John Calvin, vol.
3, ed. Henry Beveridge and Jules Bonnet (Albany, Oregon: Ages, 1998)
130.
47 Ver Cunningham The Reformers and the Theology of the Reformation,
113-117. John Brown de Haddington (1784-1858), comentando Hebreus 13:9, menciona
(em 1830), como exemplo de doutrinas "várias e estranhas" que estavam
"importunando a igreja" em sua época, a doutrina "da identidade da
fé no Evangelho com uma certeza pessoal de salvação..."
(John Brown, Hebrews [reimpressão, Banner of Thuth Trust, 1976]
694). Thomas Smith (Calvin and His Enemies: A Memory of Life, Principles and
Memories of John Calvin [Philadelphia: Presbyterian Board of Education,
1856]), também considera que Calvino errou ao fazer a segurança da
salvação necessária à fé verdadeira
(reimpressão, Albany: Ages, 1998), 28. Ver ainda Robert L. Dabney,
"Assurance of Grace and Salvation," in Systematic Theology (reprint
Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1985), 702.
48 Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation,
360.
49 Ibid., 364-65. Em um artigo interessante, Lynne Courter Boughton,
"Supralapsarianism and the Role of Metaphysics in Sixteenth-Century Reformed
Theology," Westminster Theological Journal, 58,1 (Spring 1986) 63-96,
conclui que "Beza não difere de Calvino em sua atitude para com a
metafísica, seus conceitos de teologia, ou sua
interpretação da predestinação... Além disso,
Calvino, apesar de negar a necessidade de uma discussão especulativa ou
definitiva dos decretos eternos, não impediu a adoção do
supralapsarianismo ou do infralapsarianismo pelos seus herdeiros espirituais.
É mais correto manter com Downey e Wiley que o Reformador concebia um
‘duplo decreto’ no qual Deus não apenas predestinou pessoas
à eleição, mas também à
reprovação antes da criação e da queda." (p. 79-80).
Citando John S. Bray, Theodore Beza’s Doctrine of Predestination
(Nieuwkoop: DeGraaf, 1975), 70-71, Boughton observa que "em 1555, quando Beza
informou Calvino do seu entendimento supralapsariano dos decretos, na sua
‘tabula predestinationis’ seu mentor não expressou
objeção" (Ibid., 80).
50 Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation,
396.
51 Ibid., 398 (itálico do autor).
52 Ibid., 397. Para refutações mais detalhadas da tese
de Kendall com relação à posição de Calvino
quanto à extensão da expiação, ver W. R. Godfrey
"Reformed Thought on the Extent of the Atonement to 1618," Westminster
Theological Journal, 37 (1975) 133-171; Roger Nicole, "John Calvin’s
View of the Extent of the Atonement," Westminster Theological Journal,
47:2 (Fall 1985) 197-225; Roger Nicole, "Covenant, Universal Call and Definite
Atonement," The Journal of the Evangelical Theological Society, 38:3
(September 1995) 403-412; Mark W. Karlberg, resenha de Christ and the
Decree: Christology and Predestination in Reformed Theology from Calvin to
Perkins, por Richard A. Muller, Westminster Theological Journal, 49:2
(Fall 1987) 442-446.
53 Stanford Reid, o próprio editor do livro Calvino e sua
Influência no Mundo Ocidental, em que foi publicado o artigo "A
Modificação Puritana da Doutrina de Calvino," avaliando
criticamente a tese de Kendall, Calvin and the English Calvinism to 1649,
reconhece que "o autor não parece considerar a possibilidade de
desenvolvimento..." e que ele "parece extrair conclusões para as quais
não oferece prova adequada." Reid conclui sua resenha afirmando que, na
sua avaliação, "na melhor das hipóteses, o veredicto dos
tribunais escoceses ‘Not proven’ (não provado) é a
única resposta que pode ser dada ao argumento do livro" (Reid, resenha de
Calvin and English Calvinism to 1649, 157 e 164).
54 Institutas, III.2.1.
55 Ibid., III.2.2
56 Ibid., III.2.6.
57 Ibid.
58 Ibid.
59 Ibid., III.2.31.
60 Ibid., III.2.33.
61 Ibid.
62 Ibid., III.2.36.
63 Calvin, "Admonition and Exhortation," 130.
64 Ibid., 140.
65 John Calvin, Commentary on the First Epistle to the Thessalonians
(Albany, Oregon: Ages, 1998) 5:9, 55.
66 John Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, trans.
Christopher Fetherstone, ed. Henry Beveridge (Albany, Oregon: Ages, 1998) 15:11,
509.
67 John Calvin, Commentary on the Psalms, vol. 1, trans. James
Anderson (Albany, Oregon: Ages, 1998) 69:32, 1005.
68 Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 381.
69 Calvin, "Admonition and Exhortation," 109.
70 Institutas, IV.14.14. Ver também John Calvin, "Letter 224
- To Henry Bullinger, New Explanations Regarding the Supper," in Selected
Works of John Calvin, vol. 5, Letters, 1545-1553, trans. David
Constable, ed. Henry Beveridge and Jules Bonnet (Albany, Oregon: Ages, 1998)
182; e John Calvin, "Catechism of the Church of Geneva," in Selected Works of
Calvin, Vol. 2, ed. Henry Beveridge and Jules Bonnet (Albany, Oregon: Ages,
1998) 82.
71 Ver o comentário de Calvino sobre a frase "plena certeza da
esperança," em Hebreus 6:11, onde ele afirma que "assim como a verdade de
Deus é imutavelmente fixa, assim também a fé, que nele se
sustenta..." (Calvin, Commentary on The Epistle to the Hebrews,
126).
72 Institutas, III.2.7.
73 Ibid., III.2.16.
74 Ibid., III.2.21.
75 Ibid., III.2.17. Ver também o final da seção
III.2.24.
76 Ibid., III.2.17.
77 Ibid., III.20.16.
78 Ibid., III.2.18.
79 Ibid., III.2.37. Ver também Calvin, Commentary on the
Book of Psalm, vol. 1, 27:1-3, 422.
80 John Calvin, Commentary on Genesis, 32, trans. and ed. John King
(Albany, Oregon: Ages, 1998) 559.
81 John Calvin, "Short Treatise on the Supper of Our Lord," in Selected
Works of Calvin, vol. 2, 168 (ênfase minha).
82 Institutas, III.2.11; IV.17.33; John Calvin, Commentary on the
Book of Psalms, vol. 2 (Albany, Oregon: Ages, 1998) 16:12, 351; John Calvin,
Commentary on Matthew, Mark and Luke, vol. 2, trans. William Pringle
(Albany, Oregon: Ages, 1997) 155.
83 Institutas, III.2.10.
84 Ibid., III.2.11.
85 Calvin, Commentary on Matthew, Mark and Luke, vol. 2, 83
(itálico meu).
86 Calvin, Commentary on the First Epistle to the Corinthians, 1:9,
48.
87 Institutas, III.2.11.
88 Conferir, por exemplo: Calvin, Commentary on the Psalms, vol. 2,
85:1-4, 72; 102:3-7, 260; 103:10, 287; 106:6; 348; Calvin, Commentary on the
Acts of the Apostles, 6:5, 195; John Calvin, Commentary on the Gospel
According to John, trans. William Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998)
21:17, 677; John Calvin, Commentary on the Prophet Isaiah, vol. 2, trans.
William Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 53:6, 388 e 56:12, 450; John
Calvin, Commentary on the Prophet Jeremiah, vol. 1, trans. John Owen
(Albany, Oregon: Ages, 1998) 8:4-6, 391; John Calvin, Sermons on
Galatians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 1:3-5, 45; 2:14-15, 172; 3:1-3, 222;
3:7-9, 261; 3:15-18, 292; 3:19-20, 307; 3:21-25, 318; 4:15-20, 404; 5:19-23,
513, 523; 6:1-2, 546; e 6:2-5, 557, 564. Eis uma das diversas
orações de Calvino neste sentido, no final de sua
exposição do capítulo 11 de Jeremias: "...e possamos
aprender a examinar de tal modo todos os nossos pensamentos e submeter à
prova os nossos sentimentos, a fim de que nenhuma hipocrisia nos engane, e
não venhamos a dormir nos nossos pecados..." (Calvin, Commentary on
the Prophet Jeremiah, vol., 1, 568). Ver também sua
oração no final da sua exposição de
Lamentações 2:2 (John Calvin, Commentary on the Lamentations of
the Prophet Jeremiah, Chapter 2, Lecture Fourth, [Albany, Oregon: Ages,
1998] 49).
89 Calvin, Commentary on the Epistle to the Philippians, 2:13,
57.
90 Institutas, III, 4.
91 Ibid., III, 12, 5.
92 Ibid., IV, 17.
93 John Calvin, Commentary on the Prophet Ezekiel, Lecture 35
(Albany, Oregon: Ages, 1998) 414
94 Calvin, Commentary Upon the Book of Psalms, vol. 1, 19:12,
315.
95 Ver capítulo sobre os Sacramentos (Calvin, "Catechism of the
Church of Geneva," 90).
96 Ver capítulo sobre A Maneira de Celebrar a Ceia do Senhor
(Calvin, "Catechism of the Church of Geneva," 90).
97 John Calvin, Commentary on the Epistle to the Romans, transl.
John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1998) 8:9-11, 223.
98 Ibid., 8:35-37, 251.
99 John Calvin, Commentary on the Second Epistle of Peter, trans.
John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1998) 1:10, 14.
100 John Calvin, Commentary on the Second Epistle to the
Thessalonians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 1:10, 12.
101 Calvin, Commentary on First Thessalonians, 3:12, 35.
102 John Calvin, "Sermon 20 - The Final Advent of our Lord Christ," in
Sermons on the Deity of Christ, (Albany, Oregon: Ages, 1998)
258.
103 John Calvin, Commentary on the First Epistle of John (Albany,
Oregon: Ages, 1998) 2:3, 20.
104 John Calvin, "To the Right Honorable Sir William Cecill Knight," in
Sermons on Galatians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 12.
105 Institutas, III.3.1.
106 Ibid., III.2.8.
107 Ver Iain H. Murray, D. Martyn Lloyd-Jones, vol. 2: The Fight of
Faith: 1939-1981 (Edinburgh: Banner of Truth, 1990) 721-26.
108 Para um estudo mais profundo do assunto, recomendo a tese de doutorado
de Joel R. Beeke, publicada com o título Assurance of Faith:
Calvin, English Protestantism, and the Dutch Second Reformation (New York: Peter
Lang, 1991) — o livro foi republicado este ano (1998) pela editora Banner
of Truth, com o título Assurance of Faith. Ver também
artigos escritos pelo mesmo autor sobre aspectos particulares da questão,
como os seguintes: "Personal Assurance of Faith; The Puritan and Chapter 18:2 of
the Westminster Confession," Westminster Theological Journal, 55:1
(Spring 1993); "Does Assurance Belong to the Essence of Faith? Calvin and the
Calvinists," The Master Seminary Journal 5:1 (Spring 1994) 43-71; and
"Anthony Burgess on Assurance," The Banner of Sovereign Grace Truth, 6:1
(January 1998) 5-7; 6:2 (February 1998) 33-36; e 6:3 (March 1998)
66-68.