Uma Avaliação Crítica de
"A Modificação Puritana da Teologia de Calvino,"
de R. T. Kendall

Paulo R. B. Anglada
 
INTRODUÇÃO
A Confissão de Fé de Westminster (1)  distingue "fé salvadora" de "certeza de salvação," dedicando a estes temas capítulos distintos: o primeiro é tratado no capítulo 14 e o segundo no capítulo 18.
Segundo a Confissão, fé salvadora é a graça ordinariamente operada pelo Espírito Santo através do ministério da Palavra, "por meio da qual os eleitos são habilitados a crer para a salvação das suas almas," e pode ser aumentada e fortalecida pelo ministério da Palavra, pela ministração dos sacramentos e pela oração.(2)  "Esta fé," professa a Confissão, "é de diferentes graus: é fraca ou forte, pode ser muitas vezes e de muitos modos assaltada e enfraquecida, mas sempre alcança segurança e vitória, desenvolvendo-se em muitos até à plena segurança em Cristo, que é tanto o Autor como o Consumador da fé."(3) 
Certeza de salvação, por sua vez, é a convicção que crentes verdadeiros e sinceros em Cristo podem alcançar nesta vida, de "se acharem em estado de graça."(4)  Esta doutrina é resumida na Confissão de Westminster em quatro parágrafos. O primeiro trata da possibilidade dessa segurança; o terceiro, dos meios pelos quais pode ser buscada; e o quarto, como ela pode ser abalada e restaurada. O segundo parágrafo trata dos fundamentos da certeza da salvação. Expressando perfeitamente a concepção puritana quanto ao assunto, a Confissão afirma que esta plena certeza de fé a que se refere, se baseia, primeira e fundamentalmente, na veracidade objetiva das promessas de Deus. Em segundo lugar, nas evidências internas das graças nas quais essas promessas são feitas. E, em terceiro lugar, no testemunho interno do Espírito Santo. Eis o texto:
Esta certeza não é uma simples persuasão conjectural e provável, fundada numa esperança falha, mas uma segurança infalível de fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças nas quais essas promessas são feitas, no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos que somos filhos de Deus, sendo esse Espírito o penhor da nossa herança, e por meio de quem somos selados para o dia da redenção.(5) 
O ensino da Confissão de Fé de Westminster quanto a este e outros assuntos é, entretanto, questionado por R. T. Kendall, em um artigo intitulado: "A Modificação Puritana da Teologia de Calvino," publicado como um dos capítulos do livro Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, pela Casa Editora Presbiteriana, em 1990.(6) 
Neste artigo, Kendall defende a tese de que o calvinismo puritano, cristalizado na Confissão de Fé de Westminster, particularmente a doutrina da segurança da salvação, não reflete a doutrina de Calvino, constituindo-se, na verdade, em um desvio da teologia do grande reformador. Segundo Kendall, Teodoro Beza, sucessor de Calvino em Genebra, teria sido o principal responsável por este desvio doutrinário, promovido posteriormente por William Perkins e pelo movimento puritano em geral. A tese de Kendall, portanto, exposta no referido artigo, é a de que o calvinismo dos calvinistas é um desvio e a doutrina da certeza de salvação, conforme codificada pela Assembléia de Westminster em seus símbolos de fé, uma corrupção do ensino de Calvino.
O presente artigo é uma avaliação crítica do capítulo de Kendall referido acima. Embora parte considerável de "A Modificação Puritana da Teologia de Calvino" se dedique a traçar a suposta relação teológica desde Beza até a Confissão de Fé de Westminster, neste artigo deter-me-ei apenas em investigar a tese principal de Kendall: que a doutrina da segurança da salvação professada pelos puritanos ingleses representa um desvio da doutrina de Calvino.
Para tal, me proponho: primeiro, a apresentar R. T. Kendall ao leitor brasileiro, mencionando informações relevantes sobre a sua formação, obras, posições teológicas e práticas eclesiásticas, provavelmente desconhecidas de muitos; e, segundo, a investigar o ensino de Calvino com relação ao assunto, especialmente no que diz respeito à interpretação de Kendall quanto à questão.(7)
 
I. APRESENTAÇÃO DE R. T. KENDALL AO LEITOR BRASILEIRO
Visto que Kendall não é um autor conhecido no Brasil (8)  cabe aqui um breve resumo da sua formação, obras, posições teológicas e práticas eclesiásticas.
A. Formação
R. T. Kendall é pastor batista do sul dos Estados Unidos. Após estudar no Southern Baptist Theological Seminary, em Louisville, Kentucky (1971-1973), ele foi para a Inglaterra, onde alcançou o grau de Doutor em Filosofia pela Universidade de Oxford. Durante seus estudos na Inglaterra, seu interesse pela teologia puritana — objeto de sua dissertação de doutorado — o aproximou de Martyn Lloyd-Jones, vindo posteriormente a substituí-lo no pastorado da Capela de Westminster, onde até agora exerce o seu ministério.
B. Obras
Além de artigos publicados em periódicos,(9)  Kendall é autor de diversos livros,(10)  alguns bastante conhecidos. Os escritos de Kendall são geralmente controvertidos do ponto de vista reformado. Alguns deles são apreciados por arminianos,(11)  outros por carismáticos.(12)  De modo geral, entretanto, suas obras têm sido recebidas com sérias reservas no meio reformado.(13) 
C. Posições Teológicas e Práticas Eclesiásticas
Embora Kendall tenha assumido o púlpito de Martyn Lloyd-Jones na Capela de Westminster, suas posições teológicas são, em muitas questões, opostas às daquele conhecido pregador reformado. Isto tem alterado substancialmente as práticas eclesiásticas na Capela de Westminster, provocando resistência (14)  e a saída de dezenas de antigos membros da Capela.(15)  Em meados da década passada, seis diáconos que questionaram o antinomianismo de Kendall foram depostos dos seus ofícios, sendo dois deles excluídos da igreja.(16) 
Inicialmente, as posições teológicas de Kendall parecem ter sido bem diferentes das que veio a sustentar posteriormente. Quando foi para a Inglaterra, ele professava a posição reformada tradicional com relação a Calvino e aos reformadores ingleses, vindo a mudar de posição depois, durante seus estudos.(17)  Quanto à prática do apelo, Kendall chegou a escrever um artigo condenando-a, lembrando que tais coisas "foram totalmente ausentes no ministério dos maiores evangelistas — Edwards, Brainerd, Whitefield, Spurgeon e John Wesley."(18)  Posteriormente, entretanto, ele admitiu a prática, passando a fazer uso dela, e a defendê-la.
As posições teológicas e práticas eclesiásticas de Kendall mais condenadas no meio reformado, dizem respeito à sua apologia ao apelo, à sua concepção quanto à doutrina da perseverança dos santos, à sua associação com o movimento carismático, e às suas teses com relação a Calvino e o calvinismo — objeto específico deste artigo.
D. Prática de Apelo
Kendall passou a admitir a prática do apelo em 1982, quando Arthur Blessitt foi convidado para pregar na Capela de Westminster e deu início à prática. A partir de então Kendall a adotou, atribuindo a ela parte do sucesso do seu ministério. Dois anos depois, ele publicou Stand Up, and Be Counted (Levante-se e Seja Contado), livro no qual faz apologia ao apelo, que prefere chamar de public pledge (compromisso público), onde fornece vinte e duas razões para a prática.(19) 
E. Doutrina da Perseverança dos Santos
A doutrina de Kendall quanto à perseverança dos santos foi publicada em Once Saved, Always Saved (Uma vez Salvo, Salvo para Sempre). No livro, ele defende que a santificação não é indispensável à salvação, escrevendo:
Eu afirmo categoricamente que a pessoa que é salva, "que confessa que Jesus é Senhor e crê no seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos", vai para o céu quando morrer, não importando que obras (ou falta de obras) possam acompanhar tal fé. Em outras palavras, não importa que pecado (ou ausência de obediência cristã) possa acompanhar tal fé.(20) 
Com afirmativas desta natureza, Kendall cria uma dicotomia entre fé e obras, entre salvação e santificação, insustentável biblicamente,(21)  contrariando frontalmente a fé reformada. Por esta razão o seu livro é criticado por Iain Murray,(22)  Donald MacLeod,(23)  Christopher Bennett,(24)  Derek Thomas,(25)  John MacArthur,(26)  entre outros.
F. Associação com o Movimento Carismático
A associação de Kendall com o movimento carismático é cada vez mais intensa. Desde o início desta década, conhecidos profetas carismáticos ligados à "bênção de Toronto," tais como Paul Cain, Gerald Coates, Rodney Howar-Browne e John Arnott têm pregado na Capela de Westminster, sendo recomendados por Kendall.(27) 
Em outubro de 1992, Paul Cain e Kendall promoveram uma conferência em Londres, "The Word and Spirit," posteriormente publicada em livro.(28)  Nesta conferência, a presente associação do movimento carismático com igrejas tradicionais, como a capela de Westminster, foi profeticamente proclamada como o início da "Era Pós-Carismática," que culminaria em um reavivamento transdenominacional de proporções universais. O movimento carismático é visto pelos profetas deste novo movimento apenas como um Ismael. O verdadeiro filho da promessa, Isaque, estaria nascendo agora, como filho da união entre líderes como Paul Cain e Kendall.(29)  Em abril de 1995, Gerald Coates profetizou diante de 4.000 pessoas em Spring Harvest, um reavivamento envolvendo Kendall e a Capela de Westminster a ocorrer em dezoito meses. Kendall aceitou e divulgou o teor da profecia, que nunca se cumpriu.(30) 
O próprio Kendall explica o seu envolvimento com Paul Cain, Rodney Howard-Browne e outros líderes carismáticos, relatando a cura de sua esposa, em 1994, pela imposição de mãos de Howard-Browne. Kendall menciona que "encorajada por isso, ela foi a um dos cultos de Rodney um mês depois na Flórida. Ela voltou uma mulher transformada a Londres." Ele menciona ainda que seu filho também "foi alcançado através do mesmo culto e está hoje no centro de muito do que está acontecendo na Capela de Westminster."(31) 
G. Calvino e o Calvinismo
As teses de Kendall quanto à relação entre Calvino e o calvinismo, foram inicialmente publicadas em Calvin and the English Calvinism to 1649. Como são substancialmente as mesmas expostas no artigo "A Modificação Puritana da Teologia de Calvino," objeto da presente avaliação, serão consideradas mais detalhadamente adiante.
 
II. ENSINO DE CALVINO SOBRE A CERTEZA DE SALVAÇÃO
Em "A Modificação Puritana da Teologia de Calvino," Kendall tenta demonstrar que o calvinismo dos puritanos ingleses e da Confissão de Fé de Westminster difere radicalmente do calvinismo de Calvino quanto à doutrina da certeza de salvação. Segundo Kendall, por causa do infralapsarianismo de Calvino, e de sua crença na expiação ilimitada, ele (Calvino) "não faz qualquer diferença entre fé e segurança,"(32)  não admitindo nenhuma outra fonte de segurança de salvação, senão a fé na morte de Cristo;(33)  enquanto que para Beza, Perkins, para os puritanos ingleses em geral, para os membros do Sínodo de Dort, e da Assembléia de Westminster, o supralapsarianismo deles, e a crença na expiação limitada os teria impedido de sustentar a doutrina da segurança da salvação com base exclusiva na obra de Cristo,(34)  sendo obrigados a fazer "separação entre o objeto da fé (a morte de Cristo) e a base da segurança (a santificação)."(35) 
O resultado do desvio teológico da tradição Beza-Confissão de Westminster, segundo Kendall, seria um sistema teológico antropocêntrico36  e introspectivo,(37)  radicalmente diferente do ensino de Calvino, que impede o crente de proclamar com o grande reformador: "Cristo é para mim melhor do que mil testemunhos."(38) 
A. Distinções Teológicas entre Calvino e seus Sucessores (39
Algumas distinções entre o tratamento que Calvino e seus sucessores dão às doutrinas mencionadas por Kendall são conhecidas de longa data. William Cunningham (1805-1861), conhecido teólogo reformado e professor de História Eclesiástica na Faculdade de New College, Edinburgh, escreveu dois artigos em meados do século passado,(40)  em que analisa essas e outras alegadas distinções entre a teologia de Calvino e Beza. No primeiro artigo, ele trata da doutrina da segurança da salvação. No segundo, da ordem dos decretos de Deus (infra/supralapsarianismo), da extensão da expiação, e de outras questões não mencionadas por Kendall: a imputação do pecado de Adão à sua posteridade e a natureza da justificação.(41)  A tese principal de Kendall em "A Modificação Puritana da Teologia de Calvino" é explicitamente mencionada por Cunningham há quase cento e cinqüenta anos atrás, ao observar: "...tem sido freqüentemente alegado que Beza, em suas mui hábeis discussões sobre o assunto, levou sua visão concernente a alguns pontos além do próprio Calvino, pelo que tem sido descrito como sendo Calvino Calvinior."(42)  A conclusão geral de Cunningham com relação à questão, entretanto, é a seguinte:
Não estamos preparados para negar completamente a verdade dessa alegação; mas estamos persuadidos de que há menos base para ela do que às vezes é suposto, e que os pontos de alegada diferença entre eles em matéria de doutrina, dizem respeito principalmente a tópicos com relação aos quais Calvino não chegou a dar nenhum pronunciamento formal ou explícito, porque não eram na época assuntos de discussão, ou mesmo porque sequer foram objeto de sua consideração... nós cremos que se tornará evidente, da nossa apreciação do assunto, que não há realmente diferença substancial entre a teologia de Calvino e de Beza..."(43) 
Cunningham reconhece que os primeiros reformadores, incluindo Calvino, enfatizaram a certeza de salvação nas suas definições de fé salvadora, citando a conhecida definição de Calvino, nas Institutas (III.2.7).(44)  Contudo, Cunningham considera o conceito de fé dos primeiros reformadores (que inclui certeza de salvação), impossível de ser sustentado biblicamente,(45)  e o atribui a uma reação à posição católico-romana(46)  e à intensa experiência espiritual deles.(47) 
Quanto à ordem dos decretos de Deus, Cunningham observa que o assunto não é revelado nas Escrituras e que sua investigação está além da nossa capacidade. Além do que, a mente de Deus sequer está sujeita à sucessão de tempo, como a nossa.(48)  Nesse ponto, ele conclui que embora a posição supralapsariana de Beza seja evidente, a posição de Calvino não é clara. Provavelmente, Calvino sequer considerou a questão, embora a concepção infralapsariana seja mais coerente com o seu ensino em geral.(49) 
Com relação à extensão da expiação, Cunningham admite que não encontra nos escritos de Calvino "afirmativas explícitas a qualquer limitação no objeto da expiação, ou no número daqueles por quem Cristo morreu." Mas observa também, que "nenhum calvinista, nem mesmo o Dr. Twisse, o maior defensor do supralapsarianismo, jamais negou que há um sentido em que se pode afirmar que Cristo morreu por todos os homens."(50)  Cunningham afirma, contudo, estar persuadido "de que não há evidência satisfatória de que Calvino sustentou a doutrina de uma expiação universal, ilimitada ou indefinida." Pelo contrário, considera que "há suficiente evidência de que ele não sustentou esta doutrina."(51)  É verdade, afirma Cunningham, que Calvino freqüentemente afirma a livre oferta do Evangelho indiscriminadamente a todos os homens, sem distinção ou exceção. Mas a doutrina da extensão da expiação "não foi formalmente discutida" por Calvino, nem parece que ele tenha considerado o problema.(52)
A questão, portanto, não consiste tanto em admitir a existência de distinções entre o ensino de Calvino e dos puritanos com relação à doutrina da segurança da salvação, mas em avaliar a extensão ou natureza destas distinções. Esperar que Beza, Perkins e demais calvinistas ingleses nada tivessem a acrescentar ao ensino de Calvino sobre o tema é superestimar Calvino, subestimar seus seguidores, e desconsiderar as circunstâncias históricas peculiares em que viveram. Concluir, contudo, que o tratamento puritano dado ao tema contradiz diretamente o ensino de Calvino, representando um desvio — e não um desenvolvimento — da sua teologia, requer evidências históricas mais convincentes do que as que o autor parece oferecer tanto no livro Calvin and the English Calvinism to 1649 como no artigo em questão.(53) 
O tratamento mais sistemático que Calvino dá ao tema encontra-se no capítulo segundo do terceiro livro das Institutas. O seu ensino sobre o assunto neste e em outros escritos, pode ser resumido como segue:
B. Fé, Cristo, a Palavra e o Espírito
Para Calvino, fé salvadora não é mero assentimento (assensus) com relação à veracidade do Evangelho ou à existência de Deus. Inclui, também conhecimento (cognitio) e confiança (fiducia) em Cristo. Para ele, "visto que Deus habita em luz inacessível, é necessário que Cristo seja colocado diante de nós e nos mostre o caminho." Cristo, portanto, é "a luz do mundo" (Jo 8.12), "o caminho, a verdade a vida," e ninguém vai ao Pai senão por ele (Jo 14.6).Calvino cita 1 Pedro 1.21, "...por meio dele, tendes fé em Deus," para demonstrar que a fé em Deus acontece pelo conhecimento de Deus em Cristo.(54) 
Embora o nosso conhecimento da vontade de Deus seja limitado e até certo ponto obscuro, a fé, segundo Calvino, "não consiste na ignorância, mas no conhecimento" da vontade de Deus revelada na sua Palavra.(55)  Por isso "...Paulo põe a fé como companheira inseparável da doutrina... (Ef 4.20-21),"(56)  o que demonstra haver "uma perpétua correspondência entre a fé e a Palavra ou doutrina..."(57)  Porque as Escrituras são a fonte da fé, João afirma: "estas coisas foram escritas para que creiais..." (Jo 20.31).(58) 
Não obstante a fé estar enraizada na Palavra,(59)  o nosso entendimento é inclinado à vaidade e obscurecido pelo pecado, não podendo, por si mesmo, compreender a Palavra de Deus. "Por isso, a Palavra de Deus, sem a iluminação do Espírito Santo, de nada nos serve ou aproveita."(60)  É preciso, portanto, que o entendimento seja iluminado pelo Espírito e o coração por ele confirmado para que haja confiança e certeza de salvação.(61)  Para Calvino, é mais fácil instruir o entendimento do que aquietar o coração. "Por isso o Espírito Santo exerce a função de um selo, selando em nossos corações as próprias promessas, cuja certeza foi previamente impressa em nosso entendimento."(62)
C. Fé Salvadora e Certeza de Salvação
Para Calvino o fundamento da certeza de salvação do crente não está em suas próprias obras, como ensinavam os papistas,(63)  ou na estrita observância dos mandamentos de Deus,(64)  mas nos decretos de Deus,(65)  na livre adoção,(66)  na doutrina de Cristo;(67)  descansa na livre misericórdia de Deus,(68)  na graça de Cristo,(69)  e não depende mais da participação nos sacramentos do que da pregação da Palavra.(70) 
Sem dúvida, Calvino considera que certeza de salvação faz parte da essência da fé. Para ele, fé genuína inclui necessariamente um elemento de certeza, não apenas objetiva, com relação à veracidade das promessas de Deus e sua fidelidade em cumpri-las,(71)  mas também subjetiva, incluindo a convicção de que estas promessas nos dizem respeito. Por isso ambos os elementos (objetivo e subjetivo) estão presentes na conhecida definição de Calvino de fé salvadora:
Podemos obter uma completa definição de fé, se dissermos que é um conhecimento firme e certo da vontade misericordiosa de Deus para conosco, a qual, sendo fundada na verdade da graciosa promessa em Cristo, é tanto revelada às nossas mentes, quanto selada em nossos corações pelo Espírito Santo.(72) 
Adiante, ao detalhar sua definição, o reformador explica o elemento subjetivo como essencial à fé, escrevendo: "O essencial da fé consiste em que não pensemos que as promessas de misericórdia que o Senhor nos oferece são verdadeiras somente fora de nós, e não em nós; e sim, que as tenhamos como nossas, recebendo-as de coração."(73) 
Mas o que Calvino entende por este elemento de certeza incluído na fé? Seria uma confiança sempre estável e inabalável, isenta de qualquer dúvida ou desconfiança, que torna indevido o auto-exame, e independe da santificação, como sugere Kendall? Não. A certeza de salvação que Calvino afirma ser essencial à fé não é uma convicção absoluta e inabalável, que ao exclamar: "Cristo é para mim o melhor testemunho," dispense o auto-exame e não admita a santificação como evidência legítima de salvação.
D. Certeza e Dúvida
Para Calvino, a fé se arma da Palavra para resistir aos golpes da incredulidade, de modo que "jamais pode ser arrancada do coração dos crentes a raiz da fé..."(74)  Mas Calvino admite, que em virtude do conhecimento deficiente do crente, da tentação e do pecado, a sua confiança pode ser seriamente abalada:
Quando dizemos que a fé deve ser certa e segura, certamente não estamos falando de uma segurança que nunca seja afetada pela dúvida, ou de uma segurança que jamais seja assaltada pela ansiedade; antes, afirmamos que os crentes sustentam uma luta perpétua contra a sua própria desconfiança, e estamos longe, portanto, de pensar que suas consciências possuam uma plácida tranqüilidade nunca perturbada pela provação.(75) 
Mencionando o exemplo de Davi, Calvino demonstra que a certeza que faz parte da essência da fé pode ser de tal modo abalada, ao ponto de perturbar a nossa paz de espírito, nos fazer envergonhar da nossa própria incredulidade e desconfiar da fidelidade de Deus.(76)  Após citar o Salmo 80.4 e Lamentações 3.8, Calvino afirma: "Inúmeros exemplos dessa natureza ocorrem nas Escrituras, dos quais é manifesto que a fé dos santos era freqüentemente misturada com dúvidas e temores, de modo que enquanto criam e tinham esperança, eles entretanto denunciam algum grau de incredulidade."(77) 
Esta "imperfeição da fé" é explicada por Calvino pela luta travada entre a carne e o espírito, razão pela qual jamais nesta vida o crente se liberta completamente da dúvida, a ponto de "possuir a plenitude da fé."(78)  Pelo contrário, "a fé está sujeita a várias dúvidas, de modo que as mentes dos crentes raramente estão em descanso, ou, pelo menos não estão sempre tranqüilas."(79)  No seu comentário sobre o livro de Gênesis, o reformador observa: "...aqueles que imaginam que a fé é imune a todos os temores, não têm nenhuma experiência da verdadeira natureza da fé... Além disso, nossa fé nunca é tão firme a cada momento, que possa repelir dúvidas ímpias e temores pecaminosos, do modo que poderíamos desejar."(80) 
No capítulo 26 de um tratado que escreveu sobre a Ceia do Senhor, Calvino demonstra a sua preocupação pastoral com relação à consciência de seus leitores quanto às deficiências da fé e santidade próprias a todo crente, com palavras que elucidam a sua concepção com respeito à certeza da fé salvadora. Ei-las:
Mas, visto que jamais será encontrado sobre a terra homem algum que tenha feito tal progresso na fé e santidade que não seja ainda bastante deficiente em ambas, poderia haver o perigo de diversas pessoas com boa consciência virem a ser perturbadas pelo que foi dito, se não tivermos o cuidado de moderar as injunções que fizemos com relação tanto à fé como ao arrependimento. É perigoso o ensino que alguns adotam, exigindo perfeita confiança de coração e perfeita penitência, excluindo todos quantos não as tenham de modo perfeito. Pois, assim fazendo, eles excluem a todos, sem exceção alguma. Onde está o homem que pode gloriar-se de não ser maculado por nenhuma mancha de desconfiança? Seguramente, a fé que os filhos de Deus têm é tal que eles sempre podem orar: Senhor, ajuda-me na minha falta de fé.(81) 
Este cuidado, que Calvino demonstra em moderar suas próprias afirmativas com relação à certeza da fé salvadora, parece faltar a Kendall; o qual não parece dar a devida atenção à advertência do próprio reformador quanto às implicações pastorais envolvidas.
E. O Perigo da Fé Temporária
Calvino admite também a existência de uma "fé temporária"(82)  (a qual não merece ser chamada de fé), mas que externamente se confunde com a fé salvadora. Como exemplos, ele cita Simão, o mago mencionado em Atos 8.13,18, e aqueles representados pelo solo espinhoso na parábola do semeador (Lucas 8.7,13-14). A respeito destes, ele observa: "Ainda que algumas vezes pareça que tenham lançado raízes, não há vida neles. O coração humano tem tantos recônditos de vaidade, tantos esconderijos de engano, é tão encoberto de fraude e hipocrisia, que freqüentemente engana a si mesmo."(83)  "A experiência nos mostra," afirma Calvino, "que às vezes os réprobos se sentem tocados por um sentimento semelhante ao dos eleitos, de modo que na opinião deles, não diferem muito dos crentes... ainda que haja grande semelhança e afinidade entre os eleitos e os que possuem uma fé passageira, sem dúvida, a confiança não existe senão nos eleitos."(84) 
Comentando o "solo rochoso" em Mateus 13.20, Calvino sugere o auto-exame profundo, como o remédio apropriado para o perigo que a "fé temporária" representa, dizendo:
Esta classe difere da anterior, pois fé temporária é um tipo de vegetação que promete a princípio algum fruto; mas o coração de tais pessoas não foi devida e completamente subjugado, ao ponto de tornar-se suficientemente macio para nutrir-se por muito tempo. Nós vemos muitas pessoas desse tipo em nossos próprios dias, as quais abraçam avidamente o Evangelho, e logo depois se afastam, pois não têm a viva disposição necessária para dar-lhes firmeza e perseverança. Que cada um, portanto, examine a si mesmo profundamente, a fim de que o entusiasmo que produz uma chama brilhante não venha a desaparecer rapidamente, segundo o ditado, "como fogo de palha." Porque se a palavra não penetrar profundamente no coração inteiro, e não lançar raízes profundas, a fé não terá o suprimento de umidade necessário para perseverar.(85) 
F. A Necessidade de Auto-exame
Comentando 1 Coríntios 1.9, Calvino observa que "quando o crente olha para si mesmo descobre apenas ocasião para tremer ou mesmo desesperar-se; mas visto ter sido chamado para a comunhão de Cristo, ele deveria, no que diz respeito à segurança da salvação, considerar-se de nenhum outro modo, senão na condição de membro de Cristo, de modo a reconhecer os benefícios de Cristo como seus próprios."(86) 
Mas será que com palavras como estas Calvino condena o auto-exame, considerando-o uma introspecção mórbida, como sugere Kendall? De modo nenhum. Por causa das "imperfeições da fé" e do perigo da fé temporária, Calvino considera legítimo o auto-exame, afirmando: "Sem dúvida, é preciso advertir os crentes a examinarem-se cuidadosa e humildemente, a fim de que uma segurança carnal não se introduza e tome o lugar da verdadeira certeza de fé."(87)  Dezenas de vezes em seus comentários e em outros escritos, Calvino exorta seus leitores ao auto-exame, condena os que negligenciam a prática, e ora rogando a Deus que habilite seus ouvintes a investigarem séria e profundamente seus corações e vidas, a fim de não serem enganados pela pecaminosidade do coração.(88)  Calvino observa que:
...assim como os crentes repousam com segurança na graça de Deus, assim também, quando eles direcionam sua atenção para suas próprias fragilidades, eles de modo algum entregam-se descuidadamente à negligência, mas são, pelo temor dos perigos, encorajados à oração. Entretanto, longe está esse temor de perturbar a tranqüilidade de consciência. Pois a desconfiança de nós mesmos leva-nos a descansar mais seguramente na misericórdia de Deus.(89) 
Uma das razões pelas quais Calvino condena a prática da confissão auricular é que, uma vez havendo se confessado, o pecador tende a negligenciar a prática do auto-exame.(90)  Observando que a "auto-indulgência" é condenada em Provérbios 21.2, como uma peste inerente à raça humana, Calvino exorta seus leitores ao auto-exame, a levarem suas consciências diante de Deus, a fim de que possam descobrir os recônditos secretos dos seus corações e a pecaminosidade que neles se esconde. Ele recomenda que o auto-exame seja rigoroso e continue até alarmar-nos completamente, preparando-nos, deste modo, para receber a graça de Cristo. "Porque Deus resiste ao soberbo, contudo aos humildes concede a sua graça."(91)  Comentando as instruções do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 11.28, "Examine-se, pois o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice," Calvino escreve: "Por isso, conforme entendo, ele quer dizer que cada crente deve investigar a si próprio; e considerar, primeiro, se com confiança interior de coração se apoia na salvação obtida por Cristo...; e, segundo, se, com zelo por pureza e santidade aspira imitar a Cristo..."(92)  Em sua exposição do capítulo 13 do Livro de Ezequiel, Calvino escreve: "Portanto, aprendamos a examinarmo-nos a nós mesmos, e a investigar se aquelas marcas interiores pelas quais Deus distingue seus filhos dos estranhos nos pertencem, isto é: a raiz viva de piedade e fé."(93)  E comentando o Salmo 19.12, "Quem há que possa discernir as próprias faltas...", Calvino escreve:
Esta exclamação nos mostra o uso que devemos fazer das promessas da lei que têm uma condição anexada a elas. Qual seja: ...cada pessoa deveria examinar sua própria vida, e comparar não apenas suas ações, mas também seus pensamentos, com esta regra perfeita de justiça que é apresentada na lei... Não basta considerar o que a doutrina da lei contém; nós devemos também olhar para dentro de nós mesmos, a fim de que possamos ver o quão aquém estamos em nossa obediência à lei.(94) 
As seguintes perguntas e respostas do Catecismo da Igreja de Genebra, preparado por Calvino, demonstram o seu pensamento sobre o auto-exame:
Pergunta: Quem faz uso correto e legítimo deste Sacramento [a ceia]?
Resposta: Aquele que o Apóstolo Paulo indica: "Examine-se o homem a si mesmo," antes de participar
(1 Coríntios 11.28).
Pergunta: O que a pessoa deve inquirir neste exame?
Resposta: Se ela é um verdadeiro membro de Cristo.
Pergunta: Por meio de qual evidência ela deve chegar a este conhecimento?
Resposta: Se ela é provida de fé e arrependimento, se tem sincero amor pelo próximo, se tem sua mente
pura de toda inimizade e malícia.
Pergunta: É requerido que a fé e o amor da pessoa devam ser perfeitos?
Resposta: Ambos devem ser inteiramente livres de toda hipocrisia, mas seria vão exigir uma perfeição
absoluta, em nada deficiente, visto que isto jamais será encontrado em homem algum.(95) 
Adiante, na mesma obra, ele escreve:
Portanto, conforme a exortação de São Paulo, que cada um submeta à prova e examine a sua consciência, para ver se realmente se arrependeu de suas faltas, e está insatisfeito consigo mesmo, desejando viver daí em diante de modo santo e de acordo com a vontade de Deus; acima de tudo, para ver se tem colocado a sua confiança na misericórdia de Deus, e busca sua salvação inteiramente em Jesus Cristo, e se, renunciando a toda inimizade, verdadeiramente tenciona e resolve viver em concórdia e amor fraternal com seus próximos.
Se tivermos este testemunho em nossos corações diante de Deus, não tenhamos nenhuma dúvida de que ele nos adotou como filhos, e que o Senhor Jesus dirige a nós a sua palavra, convidando-nos para participar da sua mesa...(96) 
Comentando Romanos 8.9, "vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós..." Calvino afirma que por meio dessa sentença, os leitores são "estimulados a examinarem-se mais cuidadosamente, a fim de não professarem o nome de Deus em vão." E prossegue afirmando que "a marca mais segura pela qual os filhos de Deus são distinguidos dos filhos do mundo é quando, pelo Espírito de Deus, são renovados para a pureza e santidade."(97)  Adiante, comentando o verso 33 do mesmo capítulo, Calvino afirma: "...não há dúvida que somos todos encorajados a examinar nosso chamado, de modo que possamos nos tornar seguros de que somos filhos de Deus."(98) 
Chamo a atenção do leitor para esta última referência bibliográfica. Um dos textos mais usados pelos puritanos para defender o auto-exame, em busca da santificação como evidência da obra do Espírito no coração (o assim chamado ato-reflexo), encontra-se no capítulo primeiro, verso dez, da Primeira Carta de Pedro. Comentando o texto, Calvino escreve:
...uma das provas de que fomos realmente eleitos, e não chamados em vão pelo Senhor, é uma boa consciência e integridade de vida em consonância com nossa profissão de fé... se alguém pensa que o chamado se evidencia seguro pelo homem, não há nisso nenhum absurdo; podemos, entretanto ir além: cada pessoa confirma o seu chamado vivendo um vida santa e piedosa. Mas é muito tolo inferir disso as acusações dos sofistas; pois esta é uma prova extraída não da causa, mas, pelo contrário, do sinal ou efeito... pureza de vida não é impropriamente chamada de evidência ou prova de eleição, pela qual os fiéis podem não apenas testificar a outros que são filhos de Deus, mas também confirmar a si próprios nesta confiança, não obstante fixem sua sólida fundação em outra coisa.(99) 
G. Fé e Santificação
O que Calvino não admite, como acabamos de ver, é a dissociação entre fé e santificação. Para ele, "não pode haver santidade no homem, sem fé,"(100)  pois a santidade brota da fé.(101)  "De fato, a fé é a fonte de toda santidade, como mencionado em Atos 15, onde Pedro diz que Deus purifica o coração dos homens pela fé."(102)  Na concepção de Calvino, "piedade e santidade de vida distinguem o verdadeiro crente daquele conhecimento fictício e morto de Deus; pois a verdade é que aqueles que estão em Cristo, como Paulo diz, se despiram do velho homem."(103)  Na introdução de seus sermões sobre a carta aos Gálatas, Calvino adverte que "a fé sem santidade de vida é não apenas nua, mas morta."(104)  Para ele, arrependimento e santificação são conseqüências necessárias da fé:
...o homem é justificado pela fé somente, e por simples perdão; não obstante, real santidade de vida, por assim dizer, não é separada da livre imputação de justiça. Deveria ser um fato além de qualquer controvérsia, que o arrependimento não apenas segue a fé, mas também nasce da fé... Sem dúvida ninguém pode abraçar a graça do Evangelho sem transportar-se dos erros de sua vida passada para o reto caminho, e aplicar-se com todo empenho à prática do arrependimento.(105) 
Refutando a distinção católico-romana entre "fé informe" e "fé formada," ele afirma:
Visto que a fé abraça Cristo como Ele nos é oferecido pelo Pai, e Ele é oferecido não somente para justificação, perdão dos pecados, e paz, mas também para santificação, como a fonte de água viva, é certo que homem algum jamais O conhecerá devidamente sem que ao mesmo tempo receba a santificação do Espírito; ou, para expressar o assunto mais claramente, a fé consiste no conhecimento de Cristo; Cristo não pode ser conhecido sem santificação do Espírito: portanto, fé não pode ser dissociada de uma disposição piedosa.(106)
 
CONCLUSÃO
Esta breve investigação sobre o ensino de Calvino com relação à fé salvadora e a certeza de salvação demonstra que a interpretação de Kendall é equivocada e exagerada.
É verdade que, para Calvino, a fé é obra do Espírito e encerra não apenas conhecimento, mas também um elemento de confiança e certeza nas promessas de Deus em Cristo, reveladas na sua Palavra. É impossível que alguém seja convertido e não confie na veracidade das promessas de Deus e que estas promessas digam respeito particularmente a ele. Na sua concepção, entretanto, esta confiança não é absoluta, como sugere Kendall. Ela é freqüentemente abalada por temores, dúvidas e incredulidade. Calvino admite também a existência de uma fé temporária, que pode se confundir com a fé verdadeira. Por isso mesmo, ele recomenda o auto-exame (que Kendall tanto condena no ensino puritano), a fim de livrar os crentes professos do perigo de uma segurança carnal, encorajando-os a identificar as marcas da obra do Espírito, as quais identificam os crentes verdadeiros: zelo por pureza, desejo de viver de modo santo, piedade, fé, arrependimento, amor ao próximo, etc.; a fim de que possam descansar mais seguramente na graça de Deus. Na concepção de Calvino, a fé não pode ser dissociada da piedade. Para ele, repito, "a fé, sem santidade de vida, é não apenas nua, mas morta."
Portanto, embora Calvino enfatize o elemento objetivo na sua definição de fé salvadora, seus comentários práticos e pastorais sobre o assunto já indicam claramente a necessidade de se fazer as distinções que seus seguidores puritanos viriam a desenvolver e enfatizar. Calvino enfatiza o fundamento objetivo da certeza de fé na veracidade das promessas de Deus, mas não rejeita os elementos subjetivos das evidências da graça divina no coração e o testemunho interno do Espírito Santo, como marcas da verdadeira fé. A Confissão de Fé de Westminster, embora faça distinção mais clara entre fé salvadora e certeza de salvação, não ensina nada substancialmente diferente, ao enfatizar também as evidências subjetivas da fé, visto que reconhece que estas se fundamentam primordialmente "na divina verdade das promessas de salvação."
Iain H. Murray observa, no segundo volume de sua biografia de Martyn Lloyd-Jones, que a tese de Kendall (objeto deste artigo), foi uma das controvérsias mais penosas em que o grande pregador de Westminster foi obrigado a se envolver. Quando as teses de Kendall começaram a tornar-se claras (o que veio a ocorrer por volta de 1977), Lloyd-Jones opôs-se a elas. Para ele, essas teses não expressavam o ensino do Novo Testamento, e distorciam o ensino de Calvino e dos puritanos. Tão logo a tese de doutorado de Kendall foi publicada, em 1979, o Dr. Lloyd-Jones deu-se ao trabalho de reler Calvino e escritos puritanos sobre a questão, e concluiu que "as diferenças entre Calvino e os puritanos eram diferenças de ênfase, não de substância," as quais "poderiam ser prontamente explicadas em termos de legítimo desenvolvimento e da mudança das circunstâncias pastorais nas quais os puritanos estavam constantemente pregando."(107) 
Desde então, estudiosos reformados tradicionais têm sido forçados a reconsiderar a questão, e, de modo geral, têm chegado à mesma conclusão do Dr. Lloyd-Jones.(108)  Minhas pesquisas nos escritos de Calvino confirmam esta conclusão: o ensino puritano resumido na Confissão de Fé de Westminster, distinguindo fé salvadora de segurança de salvação, não representa um desvio do ensino de Calvino. Representa, sim, um desenvolvimento pastoral legítimo de distinções reconhecidas pelo próprio reformador.
 
ENGLISH ABSTRACT
This article is an evaluation of R. T. Kendall’s thesis, summarized in "Puritan Modification of Calvin’s Theology," in W. Stanford Reid, ed., John Calvin: His Influence in the Western World (Grand Rapids: Zondervan, 1982) 199-214, that the Puritan doctrine of assurance of salvation presented in the eighteenth chapter of The Westminster Confession of Faith, is a deviation of Calvin’s doctrine. After summarizing the teaching of the Westminster Confession concerning the theme, and presenting R. T. Kendall to Brazilian readers, (since this is his first writing published in Portuguese), Anglada investigates Calvin’s writings concerning the subject, and concludes that although certain distinction between Calvin and his Puritan successors have been recognized for more than a century, their doctrine of assurance of salvation should not be understood as a deviation, but as a development of Calvin’s own teaching. From Calvin’s Institutes, commentaries, sermons, tracts and letters, Anglada attempts to demonstrate that, saving faith, for Calvin, is not an absolute confidence, which allows no place for doubts, rejects the practice of self-examination, and does not demand sanctification, as Kendall suggests.
 
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NOTAS
1 Daqui em diante, simplesmente Confissão, Confissão de Fé, ou CFW.
2 CFW, 14.1.
3 Ibid., 14.3.
4 Ibid., 18.1.
5 Ibid., 18.2 (ênfases minhas).
6 R. T. Kendall, "A Modificação Puritana da Teologia de Calvino," em Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, ed. W. Stanford Reid, trad. Vera Lúcia L. Kepler (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990), 245-65.
7 Se outra oportunidade me for concedida, e os afazeres ministeriais me permitirem, gostaria de poder expandir este artigo, a fim de expor mais detalhadamente o ensino da Confissão de Fé de Westminster sobre o tema, e avaliar biblicamente o que me parece ser, não um desvio, mas um desenvolvimento puritano da teologia de Calvino.
8 Até onde é do meu conhecimento, este é o primeiro escrito de R. T. Kendall traduzido para a língua portuguesa.
9 Tais como "John Cotton: First English Calvinist?" Westminster/Puritan Conference (1976), 38ss; "Preaching in Early Puritanism," Westminster/Puritan Conference (1984), 18ss; e "Puritans in the Pulpit and Such as Run to Hear Preaching," Westminster/Puritan Conference (1990), 86ss.
10 Entre os quais, Calvin and English Calvinism to 1649 (Oxford University Press, 1979); Tithing: A Call to Serious Biblical Giving (Grand Rapids: Zondervan, 1983); Stand Up and Be Counted (Grand Rapids: Zondervan, 1984), Once Saved, Always Saved (Chicago: Moody Press, 1983); Word of the Lord: Bible Lectures from Westminster Chapel (Grand Rapids: Zondervan, 1988); Before the Throne: A comprehensive Guide to the Importance and practice of Worship (Nashville: Broadman and Holman, 1993); Rediscovering God (Christian Focus Publications, 1994); God Meant it for Good (Morning Star Publications, 1994); Just Love (Geanies House, Scotland: Christian Focus Publication, 1997); Understanding Theology (Geanies House, Scotland: Christian Focus Publication); Higher Ground (Geanies House, Scotland: Christian Focus Publication); When God says "Well Done" (Geanies House, Scotland: Christian Focus Publication); e Meekness and Majesty (Geanies House, Scotland: Christian Focus Publication).
11 Ver Kenneth Grider, resenha de John Calvin: His Influence in the Western Word, ed. por W. Stanford Reid, Wesleyan Theological Journal, 17:2 (Fall 1982), 111-113.
12 Ver Bobby Conner, "MorningStar Publications," The Morning Star Prophetic Bulletin (April 1997); disponível em http://www.kalama.com/~debodino/mspb497.htm; Internet.
13 Ver, por exemplo, William Young, resenha de Calvin and English Calvinism to 1649, por R. T. Kendall, Gospel Magazine (Jan/Feb 1978), 16-19, e Bulwark (May/June 1980, 15-18); John H. Armstrong, resenha de Stand Up and Be Counted, por R. T. Kendall, The Journal of the Evangelical Theological Society, 29:3 (September 1986), 339-40; Timothy J. Ralston, resenha de Before the Throne: A comprehensive Guide to the Importance and practice of Worship, por R. T. Kendall, Bibliotheca Sacra, 153:609 (Jan/Mar 1996), 128; John MacArthur Jr., "Perseverance of the Saints," The Master Seminary Journal, 4:1 (Spring 1993), 5-24; W. Stanford Reid, resenha de Calvin and English Calvinism to 1649, por R. T. Kendall, Westminster Theological Journal, 43:1 (Fall 1980), 155-164; Paul Helm, resenha de Calvin and English Calvinism to 1649, por R. T. Kendall, Scottish Journal of Theology, 24 (1981), 179-184; A. N. S. Lane, resenha de Calvin and English Calvinism to 1649, por R. T. Kendall, Themelios, 6 (1980-1981), 29-31; Derek Thomas, resenha de Once Saved, Always Saved, por R. T. Kendall, Evangelical Presbyterian (Jan. 1984) 6; Iain Murray, "Will the unholy be saved?" resenha de Once Saved, Always Saved, por R. T. Kendall, Banner of Truth, 246 (March 1984), 1-15; Derek Thomas, resenha de Stand Up and Be Counted, por R. T. Kendall, Evangelical Presbyterianism (Jan. 1985), 2-5; Donald MacLeod, resenha de Once Saved, Always Saved, por R. T. Kendall, Monthly Record of the Free Church of Scotland (June 1984), 141-142; G. W. Harper, "Calvin and English Calvinism to 1649: A Review Article," Calvin Theological Journal, 20 (Nov. 1985), 255-262.
14 Ver Armstrong, resenha de Stand Up and Be Counted, 339.
15 Conferir Alan Howe, False Prophecy in London, Christian Research Network Home Page; http://web.ukonline.co.uk/crn/fal_pro.htm; Internet.
16 Ver Richard Alderson, "The Theology of Dr. R. T. Kendall - Part 2," CRN Journal, 2 (1998).
17 Olhar Reid, resenha de Calvin and English Calvinism to 1649, 155.
18 R. T. Kendall, "Full Assurance," Evangelical Magazine (April/May 1967).
19 Alderson, "The Theology of Dr. R. T. Kendall - Part 2." Para uma refutação das razões fornecidas por Kendall, ver "Appendix 1," in Erroll Hulse, The Great Invitation (England: Evangelical Press, 1986), 172-176.
20 Ver Once Saved, Always Saved, 52-53 (ênfase minha).
21 Conferir, por exemplo, Efésios 1.4; 2.10; Romanos 8.29; Filemon 2.12-13; 1 João 3.2-10; e Hebreus 12.14.
22 Iain Murray observa que "nenhuma confissão de fé calvinista jamais ensinou que a perseverança de um indivíduo até a glória independa da presença ou ausência de santificação ou santidade em sua vida." (Ver Murray, "Will the unholy be saved?").
23 O qual considera que a doutrina de Kendall representa "um rompimento com a religião evangélica," e "uma violência à Palavra de Deus" (ver resenha de Once Saved, Always Saved).
24 Christopher Bennett considera a posição de Kendall antibíblica, pois, embora seja verdade que a salvação não se baseia em obras, "um fator relevante na nossa certeza de que temos verdadeira fé, é que nossa fé nos transforma... Boa parte de Tiago e 1 João parece ir de encontro à tese de Kendall." (Ver Bennett, resenha de Once Saved, Always Saved, por R. T. Kendall, Christian Arena [June 1984], 29s).
25 Derek Thomas observa que a tese de Kendall "é uma licença para o pecado, a fim de que a graça possa abundar" (resenha de Once Saved, Always Saved, Evangelical Presbyterian), chegando a considerá-lo "o expoente moderno do antinomianismo" (conferir resenha de No Holiness, No Heaven, por Rechard Alderson, Evangelical Times [March 1987]).
26 O qual, referindo-se às afirmativas de Kendall em Once Saved, Always Saved, escreveu: "Isto é um completo assalto contra a doutrina da perseverança afirmada na Confissão de Westminster. Pior, isto subverte a própria Escritura" (ver MacArthur, "Perseverance of the Saints").
27 Ver Alderson, "The Theology of Dr. R. T. Kendall - Part 2."
28 Paul Cain and R. T. Kendall, The Word and The Spirit (Eastbourne: Kingsway Publications, 1996).
29 Conferir "Somebody Moved the Goalposts," in Mainstream Report, Cross+Word Home Page (Spring 1993); http://www.fardistant.demon.co.uk/ms/ms193.htm; Internet; e "New Revelations," in Mainstream Report, Cross+Word Home Page (Spring 1995); http://www.fardistant.demon.co.uk/ms/ ms195.htm; Internet.
30 Ver o teor da profecia em Alan Howe, False Prophecy in London, Christian Research Network Home Page; http://web.ukonline.co.uk/crn/fal_pro.htm; Internet. Mais informações com relação ao envolvimento de Kendall com o movimento carismático, podem ser encontradas em artigos publicados em boletins informativos carismáticos na Internet, tais como: Steve Beard, "Toronto Church celebrates three-year season of renewal," Thunderstruck home-page; http//www.thunderstruck.org/nw-tor.htm; Don Hawley, "Christianity’s Shamefull Divorce," Don Hawley’s Place home-page; http//www.sabath.com/ hawley24.htm; Eoin Giller, "The Story of Eoin Giller," SDAAnonymous home-page; http// www.sabath.com/sdanon/coin.htm; Daina Doucet, "Ministry Enhanced, Acts & Facts; http:// www.tacf.org/stf/2-1/actsfacts.html; e Joel Wolensky, resenha de The Word and The Spirit, por Paul Cain e R. T. Kendall; http://www.sabbath.com/joel1.htm.
31 R. T. Kendall, "A Gentleman’s Response to Hank Hanegraff," Ministryes Today On Line (Nov/Dez 1997); http://www.ministriestoday.com/stories/mn197104.htm; Internet. Mais informações sobre o impacto de pregadores carismáticos como John Arnott (incluindo gargalhadas, gritos e quedas) e a prática de imposição de mãos nos cultos da Capela de Westminster podem ser encontradas em boletins informativos da própria Capela: Westminster Chapel Magazine e Westminster Record.
32 Kendall, "Modificação Puritana," 257.
33 Ibid., 253.
34 Ibid.
35 Ibid.
36 Ibid., 258.
37 Ibid., 262.
38 Ibid., 264.
39 As traduções de obras em inglês citadas neste trabalho são minhas. Nas referências bibliográficas aos comentários de Calvino, indicarei, além da página da publicação, a referência bíblica a que se refere, para facilitar a localização em outra edição.
40 O primeiro artigo, "The Reformers and the Doctrine of Assurance," foi publicado em outubro de 1856, e o segundo, "Calvin and Beza," em julho de 1861, ambos em British and Foreign Evangelical Review. Estes artigos foram posteriormente republicados (em 1962) como dois capítulos do livro The Reformers and the Theology of the Reformation (republicação, Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1967, 1989), 111-148 e 345-412.
41 Ver Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, 350.
42 Ibid., 349.
43 Ibid., 349-50 (ênfase minha).
44 Ibid., 119.
45 Ibid., 118,120.
46 Calvino, de fato, geralmente trata do assunto da certeza de salvação em contraposição à doutrina católico-romana que a admite meramente como conjectura. Ver, por exemplo, John Calvin, Commentary on the First Epistle to the Corinthians, trans. John Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 2:12, 92 e 4:4, 128; John Calvin, Commentary on the Second Epistle to the Corinthians, trans. John Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 13:5, 251; John Calvin, "Epistle Dedicatory to Sigismund Augustus," in The Commentaries on the Epistle of Paul the Apostle to the Hebrews, trans. John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1996) 19; John Calvin, Commentary on the Epistle to the Philippians, trans. John Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 2:13, 57; John Calvin, Commentary on the Epistle to the Colossians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 1:23, 26; e John Calvin, "Admonition and Exhortation of the Legates of the Apostolic See to the Fathers in the Council of Trent," in Selected Works of John Calvin, vol. 3, ed. Henry Beveridge and Jules Bonnet (Albany, Oregon: Ages, 1998) 130.
47 Ver Cunningham The Reformers and the Theology of the Reformation, 113-117. John Brown de Haddington (1784-1858), comentando Hebreus 13:9, menciona (em 1830), como exemplo de doutrinas "várias e estranhas" que estavam "importunando a igreja" em sua época, a doutrina "da identidade da fé no Evangelho com uma certeza pessoal de salvação..." (John Brown, Hebrews [reimpressão, Banner of Thuth Trust, 1976] 694). Thomas Smith (Calvin and His Enemies: A Memory of Life, Principles and Memories of John Calvin [Philadelphia: Presbyterian Board of Education, 1856]), também considera que Calvino errou ao fazer a segurança da salvação necessária à fé verdadeira (reimpressão, Albany: Ages, 1998), 28. Ver ainda Robert L. Dabney, "Assurance of Grace and Salvation," in Systematic Theology (reprint Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1985), 702.
48 Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, 360.
49 Ibid., 364-65. Em um artigo interessante, Lynne Courter Boughton, "Supralapsarianism and the Role of Metaphysics in Sixteenth-Century Reformed Theology," Westminster Theological Journal, 58,1 (Spring 1986) 63-96, conclui que "Beza não difere de Calvino em sua atitude para com a metafísica, seus conceitos de teologia, ou sua interpretação da predestinação... Além disso, Calvino, apesar de negar a necessidade de uma discussão especulativa ou definitiva dos decretos eternos, não impediu a adoção do supralapsarianismo ou do infralapsarianismo pelos seus herdeiros espirituais. É mais correto manter com Downey e Wiley que o Reformador concebia um ‘duplo decreto’ no qual Deus não apenas predestinou pessoas à eleição, mas também à reprovação antes da criação e da queda." (p. 79-80). Citando John S. Bray, Theodore Beza’s Doctrine of Predestination (Nieuwkoop: DeGraaf, 1975), 70-71, Boughton observa que "em 1555, quando Beza informou Calvino do seu entendimento supralapsariano dos decretos, na sua ‘tabula predestinationis’ seu mentor não expressou objeção" (Ibid., 80).
50 Cunningham, The Reformers and the Theology of the Reformation, 396.
51 Ibid., 398 (itálico do autor).
52 Ibid., 397. Para refutações mais detalhadas da tese de Kendall com relação à posição de Calvino quanto à extensão da expiação, ver W. R. Godfrey "Reformed Thought on the Extent of the Atonement to 1618," Westminster Theological Journal, 37 (1975) 133-171; Roger Nicole, "John Calvin’s View of the Extent of the Atonement," Westminster Theological Journal, 47:2 (Fall 1985) 197-225; Roger Nicole, "Covenant, Universal Call and Definite Atonement," The Journal of the Evangelical Theological Society, 38:3 (September 1995) 403-412; Mark W. Karlberg, resenha de Christ and the Decree: Christology and Predestination in Reformed Theology from Calvin to Perkins, por Richard A. Muller, Westminster Theological Journal, 49:2 (Fall 1987) 442-446.
53 Stanford Reid, o próprio editor do livro Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, em que foi publicado o artigo "A Modificação Puritana da Doutrina de Calvino," avaliando criticamente a tese de Kendall, Calvin and the English Calvinism to 1649, reconhece que "o autor não parece considerar a possibilidade de desenvolvimento..." e que ele "parece extrair conclusões para as quais não oferece prova adequada." Reid conclui sua resenha afirmando que, na sua avaliação, "na melhor das hipóteses, o veredicto dos tribunais escoceses ‘Not proven’ (não provado) é a única resposta que pode ser dada ao argumento do livro" (Reid, resenha de Calvin and English Calvinism to 1649, 157 e 164).
54 Institutas, III.2.1.
55 Ibid., III.2.2
56 Ibid., III.2.6.
57 Ibid.
58 Ibid.
59 Ibid., III.2.31.
60 Ibid., III.2.33.
61 Ibid.
62 Ibid., III.2.36.
63 Calvin, "Admonition and Exhortation," 130.
64 Ibid., 140.
65 John Calvin, Commentary on the First Epistle to the Thessalonians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 5:9, 55.
66 John Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, trans. Christopher Fetherstone, ed. Henry Beveridge (Albany, Oregon: Ages, 1998) 15:11, 509.
67 John Calvin, Commentary on the Psalms, vol. 1, trans. James Anderson (Albany, Oregon: Ages, 1998) 69:32, 1005.
68 Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 381.
69 Calvin, "Admonition and Exhortation," 109.
70 Institutas, IV.14.14. Ver também John Calvin, "Letter 224 - To Henry Bullinger, New Explanations Regarding the Supper," in Selected Works of John Calvin, vol. 5, Letters, 1545-1553, trans. David Constable, ed. Henry Beveridge and Jules Bonnet (Albany, Oregon: Ages, 1998) 182; e John Calvin, "Catechism of the Church of Geneva," in Selected Works of Calvin, Vol. 2, ed. Henry Beveridge and Jules Bonnet (Albany, Oregon: Ages, 1998) 82.
71 Ver o comentário de Calvino sobre a frase "plena certeza da esperança," em Hebreus 6:11, onde ele afirma que "assim como a verdade de Deus é imutavelmente fixa, assim também a fé, que nele se sustenta..." (Calvin, Commentary on The Epistle to the Hebrews, 126).
72 Institutas, III.2.7.
73 Ibid., III.2.16.
74 Ibid., III.2.21.
75 Ibid., III.2.17. Ver também o final da seção III.2.24.
76 Ibid., III.2.17.
77 Ibid., III.20.16.
78 Ibid., III.2.18.
79 Ibid., III.2.37. Ver também Calvin, Commentary on the Book of Psalm, vol. 1, 27:1-3, 422.
80 John Calvin, Commentary on Genesis, 32, trans. and ed. John King (Albany, Oregon: Ages, 1998) 559.
81 John Calvin, "Short Treatise on the Supper of Our Lord," in Selected Works of Calvin, vol. 2, 168 (ênfase minha).
82 Institutas, III.2.11; IV.17.33; John Calvin, Commentary on the Book of Psalms, vol. 2 (Albany, Oregon: Ages, 1998) 16:12, 351; John Calvin, Commentary on Matthew, Mark and Luke, vol. 2, trans. William Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1997) 155.
83 Institutas, III.2.10.
84 Ibid., III.2.11.
85 Calvin, Commentary on Matthew, Mark and Luke, vol. 2, 83 (itálico meu).
86 Calvin, Commentary on the First Epistle to the Corinthians, 1:9, 48.
87 Institutas, III.2.11.
88 Conferir, por exemplo: Calvin, Commentary on the Psalms, vol. 2, 85:1-4, 72; 102:3-7, 260; 103:10, 287; 106:6; 348; Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 6:5, 195; John Calvin, Commentary on the Gospel According to John, trans. William Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 21:17, 677; John Calvin, Commentary on the Prophet Isaiah, vol. 2, trans. William Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998) 53:6, 388 e 56:12, 450; John Calvin, Commentary on the Prophet Jeremiah, vol. 1, trans. John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1998) 8:4-6, 391; John Calvin, Sermons on Galatians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 1:3-5, 45; 2:14-15, 172; 3:1-3, 222; 3:7-9, 261; 3:15-18, 292; 3:19-20, 307; 3:21-25, 318; 4:15-20, 404; 5:19-23, 513, 523; 6:1-2, 546; e 6:2-5, 557, 564. Eis uma das diversas orações de Calvino neste sentido, no final de sua exposição do capítulo 11 de Jeremias: "...e possamos aprender a examinar de tal modo todos os nossos pensamentos e submeter à prova os nossos sentimentos, a fim de que nenhuma hipocrisia nos engane, e não venhamos a dormir nos nossos pecados..." (Calvin, Commentary on the Prophet Jeremiah, vol., 1, 568). Ver também sua oração no final da sua exposição de Lamentações 2:2 (John Calvin, Commentary on the Lamentations of the Prophet Jeremiah, Chapter 2, Lecture Fourth, [Albany, Oregon: Ages, 1998] 49).
89 Calvin, Commentary on the Epistle to the Philippians, 2:13, 57.
90 Institutas, III, 4.
91 Ibid., III, 12, 5.
92 Ibid., IV, 17.
93 John Calvin, Commentary on the Prophet Ezekiel, Lecture 35 (Albany, Oregon: Ages, 1998) 414
94 Calvin, Commentary Upon the Book of Psalms, vol. 1, 19:12, 315.
95 Ver capítulo sobre os Sacramentos (Calvin, "Catechism of the Church of Geneva," 90).
96 Ver capítulo sobre A Maneira de Celebrar a Ceia do Senhor (Calvin, "Catechism of the Church of Geneva," 90).
97 John Calvin, Commentary on the Epistle to the Romans, transl. John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1998) 8:9-11, 223.
98 Ibid., 8:35-37, 251.
99 John Calvin, Commentary on the Second Epistle of Peter, trans. John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1998) 1:10, 14.
100 John Calvin, Commentary on the Second Epistle to the Thessalonians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 1:10, 12.
101 Calvin, Commentary on First Thessalonians, 3:12, 35.
102 John Calvin, "Sermon 20 - The Final Advent of our Lord Christ," in Sermons on the Deity of Christ, (Albany, Oregon: Ages, 1998) 258.
103 John Calvin, Commentary on the First Epistle of John (Albany, Oregon: Ages, 1998) 2:3, 20.
104 John Calvin, "To the Right Honorable Sir William Cecill Knight," in Sermons on Galatians (Albany, Oregon: Ages, 1998) 12.
105 Institutas, III.3.1.
106 Ibid., III.2.8.
107 Ver Iain H. Murray, D. Martyn Lloyd-Jones, vol. 2: The Fight of Faith: 1939-1981 (Edinburgh: Banner of Truth, 1990) 721-26.
108 Para um estudo mais profundo do assunto, recomendo a tese de doutorado de Joel R. Beeke, publicada com o título Assurance of Faith: Calvin, English Protestantism, and the Dutch Second Reformation (New York: Peter Lang, 1991) — o livro foi republicado este ano (1998) pela editora Banner of Truth, com o título Assurance of Faith. Ver também artigos escritos pelo mesmo autor sobre aspectos particulares da questão, como os seguintes: "Personal Assurance of Faith; The Puritan and Chapter 18:2 of the Westminster Confession," Westminster Theological Journal, 55:1 (Spring 1993); "Does Assurance Belong to the Essence of Faith? Calvin and the Calvinists," The Master Seminary Journal 5:1 (Spring 1994) 43-71; and "Anthony Burgess on Assurance," The Banner of Sovereign Grace Truth, 6:1 (January 1998) 5-7; 6:2 (February 1998) 33-36; e 6:3 (March 1998) 66-68.